Alunos com deficiência visual estimulam avanços


27 de junho de 2013


Rafaela Alves Nunes é cega e está no terceiro período de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG. Suas aulas se dividem entre os campi Pampulha e Saúde. Desde maio, Rafaela passou a contar com o apoio sistemático de outras duas estudantes do curso. Elas recebem bolsas do Departamento de Fonoaudiologia para desenvolver material didático com tecnologias específicas para a aluna e acompanhá-la nas atividades teóricas e práticas da graduação.

Rafaela, estudante de Fonoaudiologia, e Saulo, de Medicina. Foto: Lucas Rodrigues

Segundo a estudante, o projeto é importante pois as monitoras bolsistas a apoiam na produção dos materiais próprios do curso, além de descreverem imagens apresentadas em slides na sala de aula. “Estudamos juntas. É claro que dentro da Faculdade sempre tem algo a ser aperfeiçoado,mas em relação à atitude dos professores tem sido melhor do que eu esperava quando ingressei. Com certeza essa iniciativa abre portas para novos alunos do curso”, destaca.

A professora Ana Cristina Côrtes Gama é uma das responsáveis pelo projeto de produção do material didático. Ela afirma que a ideia surgiu do movimento dos professores do Colegiado e se concretizou a partir do contato com o Centro de Apoio ao Deficiente Visual (CADV), localizado na Biblioteca da Fafich, no campus Pampulha. No acervo do CADV, é possível encontrar artigos e capítulos digitalizados, além de livros e impressora em braile, scanner para digitalização de textos, dentre outros suportes.

“Eu tenho uma disciplina que é basicamente visual, em que o fonoaudiólogo tem que fazer uma análise de traçados acústicos da voz e da fala. E isso me deixou ansiosa, porque eu não sabia como trabalhar esse tipo de conteúdo com a Rafaela”, revela Ana Cristina. Estas dificuldades levaram à criação de materiais didáticos que oferecessem para a estudante um apoio tátil das informações visuais, além do acompanhamento de uma colega de salada estudante. “Hoje a gente está priorizando as disciplinas deste e do próximo semestre. Foi por isso que criamos essa organização além do CADV, com o objetivo de já entrar na próxima disciplina com todo o material disponível”, conta.

Precursor

Saulo Rosa Ferreira é estudante do nono período de Medicina da UFMG. Sua trajetória acadêmica e a postura militante se sobrepõem a um problema degenerativo sem tratamento: o comprometimento de cerca de 80% dasua visão, denominada subnormal.

Apesar das peculiaridades da sua situação em comparação com a de Rafaela, Saulo relembra um projeto semelhante ao da Fonoaudiologia, viabilizado por meio da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), que o auxiliou no início do curso. Segundo ele, o projeto foi idealizado em parceria com a chefe do Colegiado na época.“Nós o escrevemos e ele foi aprovado pela Fump. O bolsista também produzia material, fazia ampliações. Ficou mais de dois anos em vigor.”

Desde 2009,quando Saulo ingressou na Faculdade, novos recursos tecnológicos foram disponibilizados para a comunidade acadêmica,por meio da Pró-Reitoria de Graduação(Prograd): teclados com caracteres ampliados, lupa eletrônica para ampliação de textos e imagens, dentre outros. Os equipamentos podem ser encontrados na Biblioteca J. Baeta Vianna e no Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina.

Saulo ainda acredita que o início do processo de inclusão social deveria ser valorizado na escola básica.“Com a inclusão do deficiente desde o maternal, por exemplo, ele não somente irá se desenvolver mais, até por uma questão de competitividade, mas os próprios colegas já irão começar a ter uma visão diferenciada das capacidades dele”, defende.