Transtorno de todas as idades


12 de agosto de 2013


hiperatividade

Patologia, que deve ser diagnosticada ainda na primeira infância, pode levar a prejuízos na vida adulta

Os problemas da vida moderna mascaram uma patologia muito comum entre as crianças, mas que está cada vez mais presente nos adultos. O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) traz grandes prejuízos em múltiplos contextos e afeta desde a saúde, o relacionamento social e até a economia nacional. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 4% dos adultos e cerca de 8 a 10% das crianças e adolescentes de todo o mundo sofrem da patologia.

Os sintomas da doença muitas vezes são confundidos com um traço de personalidade, o que dificulta o diagnóstico. “Agitação, falta de atenção, distração, impaciência e irritabilidade são características consideradas comuns em alguns momentos. Por isso, muitos indivíduos passam a vida inteira sem saber que são portadores da doença”, explica a psicóloga Danielle de Souza Costa, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG. Segunda ela, esses comportamentos podem ser considerados sintomas clássicos do TDAH, quando são frequentes e intensos.

Para um diagnóstico seguro da doença alguns critérios devem ser avaliados com cuidado. “É preciso que nove sintomas do transtorno sejam identificados e a incidência deve ocorrer em mais de um local, como na escola e em casa, por exemplo. Além disso, os sintomas não podem ser em decorrência do uso de medicamentos”, avalia Danielle.

Todas as idades

As crianças com a patologia apresentam comportamentos que levam a prejuízos principalmente na aprendizagem. “O TDAH tem sido associado a uma maior dificuldade em concluir os estudos, a um maior índice de repetência, suspensões e expulsões de escolas, além de um rendimento abaixo da média”, diz a psicóloga.

Embora seja tradicionalmente diagnosticada e tratada em crianças e adolescentes, a doença é reconhecida como persistente na idade adulta. “O diagnóstico persiste após a adolescência em cerca de 70% dos casos”, conta a mestranda. De acordo com ela, os sintomas nos adultos geralmente se manifestam de modo diferente. “Eles cometem maior número de infrações, se envolvem mais em acidentes de trânsito, possuem maior dificuldade em permanecer no emprego e apresentam maior taxa de demissões”, exemplifica.

Cuidados

Apesar de não ter cura, o tratamento torna possível uma vida normal. O cuidado de uma equipe multiprofissional, com a experiência e o conhecimento de médicos, neuropsicólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, pedagogos, dentre outros, aumentam as chances de melhora. Mas a principal forma de tratamento deve ser a farmacológica. “Os remédios são extremamente seguros e trazem inúmeros benefícios. Em poucas semanas, já é possível observar uma amenização dos sintomas”, explica o psicólogo Antônio Alvim.

Os cuidados também requerem a participação dos pais e da escola, que devem fornecer apoio psicológico e pedagógico. “Os pacientes não podem ser repreendidos por sua falta de atenção ou tratados como incapazes”. Em vez disso, eles devem receber tratamento especial.  “Procurar que as crianças sentem mais à frente na sala de aula, falar frases curtas, fazer elogios e motivá-las com desafios são algumas dicas”, destaca o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Arthur Kummer.

Tratamento

“As classes menos favorecidas são as com maior prevalência da doença e as que possuem maior dificuldade em conseguir assistência médica e medicação”, observa Arthur Kummer.  Pensando nisso, o Hospital das Clínicas da UFMG possui programa para tratamento gratuito das crianças e adolescentes com TDAH. Para participar, é preciso que o responsável leve encaminhamento médico, no ambulatório de Déficit de Atenção do Hospital Borges da Costa. O ambulatório funciona todas as terças-feiras, na parte da manhã.