Lidar com a perda implica aceitar a dor


16 de outubro de 2013


Preparar-se para o luto e vivenciá-lo é fundamental para aprender a lidar com a perda. O luto deve ser encarado como uma “caminhada diária”, até que se dê conta de suportar a dor. Neste processo, os rituais, inclusive religiosos, são positivos. Buscar apoio na rede familiar e social também é determinante. Estas foram algumas das orientações do professor Frederico Garcia, na palestra “Lidando com a perda”, promovida pelo projeto Quarta da Saúde, no mês de outubro, na Faculdade de Medicina da UFMG.

Foto: Bruna Carvalho

Foto: Bruna Carvalho

A preparação para o luto pode começar ainda na infância. Segundo Frederico Garcia, as crianças não devem ser excluídas dos rituais fúnebres, sob o pretexto de serem protegidas. “Alguns anos atrás, as crianças viviam a dor, viviam um certo sofrimento e isso de certa forma as capacitava para sofrer no futuro”, lembrou.

“Essa geração mais nova evita de falar da morte”. O psiquiatra explicou que, no passado, a maioria das mortes acontecia no ambiente da família, enquanto na atualidade elas costumam ocorrer no ambiente hospitalar, o que dificulta o contato das pessoas com o processo de adoecimento e falecimento. Assim, muitos sofrem demasiadamente com a morte, porque não sabem como foi. Essa “não vivência” da morte, segundo Garcia, explica o aumento dos casos de luto patológico.

Normalmente, o luto é considerado patológico quando dura mais de seis meses. Essa condição ocorre também quando o luto não é vivenciado, não se completa, ou ainda quando é atrasado – a pessoa começa a sofrer muito depois do evento. Ele pode ser acompanhado de doenças psiquiátricas, como transtorno de ansiedade e depressão. Nestes casos, é preciso procurar ajuda especializada, já que a situação pode culminar, inclusive, no suicídio.

Novas perspectivas

Frederico Garcia é psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental

Frederico Garcia é psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental

Por outro lado, é possível vivenciar o luto de uma forma saudável. Para isso, primeiramente, é preciso saber o que vem adiante. “Tenha certeza de que a dor vai passar”, garantiu Garcia. Mas o processo envolve várias etapas, dentre elas, choque, negação, melancolia, aceitação e retomada da vida. Um processo não necessariamente linear, cujas etapas podem ser vividas simultaneamente.

Aceitar a realidade da perda, vivenciar a dor, adaptar-se ao ambiente sem o outro (ou sem aquilo que se perdeu), para então prosseguir com a vida. Frederico Garcia afirma que, em meio a tudo isso, é possível descobrir, até mesmo, um ganho. “Por mais dolorosa que seja a perda, a gente está ganhando alguma coisa”. Isso pode se traduzir em mais dedicação à família, na maior autonomia para assumir tarefas antes delegadas àquele que se foi, e na descoberta de outras coisas que podem proporcionar momentos de prazer.