Vacinação contra H1N1 pode evitar nova epidemia


27 de janeiro de 2010


Vírus da Infuenza A-H1N1 Foto: CDC Influenza Laboratory / capa da Revista Médica de Minas Gerais

O Ministério da Saúde irá disponibilizar 83 milhões de doses da vacina contra a Influenza A (H1N1), num investimento de mais de 1 bilhão de reais. Este é um dos principais pilares da estratégia nacional de enfrentamento contra a pandemia, anunciada ontem, dia 26 de janeiro. A medida visa reduzir o número de casos graves e óbitos causados pelo vírus, que já está presente em 209 países, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O Sistema Único de Saúde (SUS) também vai reforçar o estoque de medicamentos, a rede de diagnóstico e a assistência aos pacientes. A atenção básica será fortalecida e o número de leitos de UTI será ampliado. O governo espera imunizar pelo menos 62 milhões de pessoas contra a gripe pandêmica.

O professor Unaí Tupinambás, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, coordenador do Programa de Residência Médica em Infectologia do Hospital das Clínicas da UFMG explicou os riscos de uma possível segunda epidemia causada pelo vírus H1N1.

A partir de pesquisas, quais foram os resultados conclusivos sobre a Influenza A?

Foram feitas várias pesquisas. O que essa epidemia nos mostrou foi um impacto menor do que o anunciado. A grande maioria dos casos teve baixa morbidade e a mortalidade da epidemia foi muito baixa – semelhante ao vírus da gripe comum, da influenza sazonal. Houve um grande alarme com medo de uma alta mortalidade. Felizmente, não aconteceu. O hemisfério norte ainda está no inverno e as coisas lá estão tranquilas também.

Então, se houver um segundo surto, o senhor acredita que será menos grave?

Será semelhante ou mais fraco do que a onda que tivemos no ano passado. Porque acreditamos, também, que uma grande parcela da população se contaminou com esse vírus e não apresentou sintomas. Não é a primeira vez que este vírus se apresenta para a população. Qualquer um pode ter sido contaminado, e não contrair mais a doença. Quem já foi contaminado não será novamente. E, na segunda onda, menos pessoas estarão suscetíveis à doença. Além do mais, a campanha de vacinação vai começar no início de março, então acreditamos que essa epidemia – se ocorrer uma epidemia – vai ser semelhante a uma gripe sazonal. Vão ser vacinados trabalhadores da área de saúde e aqueles pacientes que têm maior risco de desenvolver uma doença mais grave.

A vacinação é eficiente em que nível? Ela imuniza o paciente?

Ela é eficiente em mais de 80%, que é muito semelhante à eficácia da vacinação da influenza sazonal. Ela é eficaz, principalmente na prevenção das formas graves.

Houve alguma mudança essencial no procedimento de tratamento da gripe?

Não. Vai ser o mesmo tratamento, como sempre deveria ter sido feito, de outras gripes. Os procedimentos são aqueles já passados para a população: quem está gripado, não deve ir trabalhar, não ir à escola, evitar ambientes com aglomeração de pessoas. Deve-se lavar bem as mãos. E as pessoas que tem um risco maior de desenvolver a doença de forma grave, por exemplo as gestantes ou pacientes com doenças crônicas, devem ser vacinadas – e vão ser vacinadas.

E quais são os riscos para a pessoa que se vacinar?

A grande contraindicação da vacina é para quem tenha alergia à proteína do ovo. As mulheres grávidas podem tomar vacina em qualquer fase da gestação. A vacina não causa doença. O índice de vigilância de efeitos colaterais, que ocorreram no hemisfério norte, após a vacinação, foi de níveis seguros. A síndrome de Guillain-Barré – paralisia dos membros inferiores que vai subindo para os membros superiores – é sempre lembrada. Essa síndrome não ocorreu de forma diferenciada depois da vacina. Então, após a vacinação no hemisfério norte, o número de pessoas que tiveram essa síndrome foi semelhante aos anos anteriores, ou seja, não estava relacionado à vacina.

Então, nós tivemos um laboratório a partir da vacinação do hemisfério norte que pode nos dar uma segurança?

É, na verdade, não foi um laboratório. Nós acumulamos experiência com a vacina, e nesse momento de vacinação do hemisfério sul, já sabemos que a vacina é segura, que é eficaz. Então, temos mais tranquilidade. Mais do que isso, nós sabemos que a epidemia não foi da gravidade que nós achávamos que fosse, nem na primeira onda e nem vai ser, provavelmente, na segunda.

Cronograma de vacinação dos grupos prioritários: