Tatuagens e piercings também são questões de saúde

Cuidados antes, durante e depois dos procedimentos são destaques da nova série do Saúde com Ciência


26 de fevereiro de 2018


Cuidados antes, durante e depois dos procedimentos são destaques da nova série do Saúde com Ciência

Josué Gomes*

As tatuagens e piercings estão inseridos na categoria de modificações corporais por razões não médicas, quando há uma interferência na forma natural do corpo do indivíduo, tornando-o diferente das outras pessoas. Nesses casos, para que a saúde seja preservada, alguns cuidados devem ser observados antes, durante e depois dos procedimentos.

A tatuagem é feita por meio de um equipamento elétrico que projeta agulhas em direção à pele. Essas agulhas apresentam uma cavidade por onde sai a tinta e variam de acordo com o objetivo e estilo da técnica utilizada na tatuagem, podendo ser feita da junção de várias agulhas finas. A pele humana é composta por três camadas principais: uma superior conhecida como epiderme, a camada média chamada de derme e, a mais profunda, hipoderme. “A tatuagem é feita de pigmentos compostos por substâncias químicas, que são injetadas dentro da derme, e lá o pigmento fica depositado”, resume a médica dermatologista e preceptora do Hospital das Clínicas da UFMG, Luciana Cônsoli.

Segundo Luciana, a possível sensação de dor varia de pessoa e do local do corpo onde é feita a intervenção. A tatuagem pode ser feita em qualquer parte do corpo, mas recomenda-se evitar dobras de articulação, como joelhos, pulsos e cotovelos, para que a cicatrização não seja afetada pelo movimento. “A gente orienta as pessoas a não fazerem tatuagem em cima de pintas ou lesões na pele, para que a tinta não mascare a lesão e impeça que seja possível enxergar alguma evolução para malignidade. As pessoas costumam fazer com intenção de esconder a presença da mancha e é contraindicado”, acrescenta a dermatologista.

Foto: Carol Prado

Já o piercing é feito com a inserção e fixação de uma peça em alguma extremidade do corpo. Para que não haja contaminações, essa peça não pode ter porosidades: o metal mais indicado para o procedimento é conhecido como aço 316-L. Como piercings e tatuagens ocorrem através de perfurações na pele, Luciana Cônsoli lembra a importância dos cuidados de assepsia antes e durante os procedimentos. “A inserção do piercing e a tatuagem devem ser feitos com equipamentos estéreis, pois há riscos de infecções bacterianas e de outras doenças mais graves, como as hepatites B e C”, diz.

Além disso, por envolverem as camadas superiores da pele, a dermatologista ressalta os cuidados a serem realizados após as tatuagens e durante o processo de cicatrização: “É preciso fazer uma limpeza com água e sabonete e evitar a exposição solar por até dois meses, além de utilizar uma pomada antibiótica por 15 dias juntamente com a oclusão usando um material plástico adequado para melhor absorção do tópico”. A cicatrização da pele pode durar de seis meses a um ano, por isso o resultado final da tatuagem somente pode ser visto após esse período. Luciana indica procurar suporte médico em casos de infecção ou inflamação do piercing ou tatuagem, para que o melhor tratamento seja efetuado.

Queloides

Um problema que pode surgir durante a cicatrização é o queloide, que é um crescimento excessivo do tecido cicatricial conhecido como colágeno, uma proteína que se desenvolve em torno da pele danificada e ajuda a selar a ferida. De acordo com Luciana Cônsoli, não é possível prever o aparecimento do queloide, mas, caso haja uma predisposição genética, observada a partir dos casos na família, recomenda-se a não realização do procedimento.

Quanto ao maior risco de pessoas negras desenvolverem o quadro, a dermatologista esclarece que, apesar desse tipo de pele ser mais propenso geneticamente ao queloide, isso não vale como regra. Portanto, o ideal é fazer o levantamento de casos na família.

Remoção

Arrepender de um piercing ou tatuagem pode representar um árduo caminho. A tatuagem pode ser removida a laser, que atua quebrando as moléculas do pigmento na pele. No entanto, a técnica não remove todas as tonalidades de cores, o que pode dificultar a remoção de frases e desenhos. Já o alerta da médica sobre os piercings está relacionado ao alargamento de extremidades do corpo. Caso a pele seja muito esticada, ela perde sua capacidade de regenerar e voltar ao tamanho original, levando à possibilidade de uma cirurgia de reconstrução.

Foto: Rodrigo Nunes | Flickr Ministério da Saúde

Doação de sangue

O piercing ou tatuagem envolve, além dos cuidados do próprio corpo, responsabilidade com o outro quando o assunto é doação de sangue. Em ambos os procedimentos, deve-se aguardar 12 meses para se tornar ou voltar a ser um doador. Tais restrições consideram o risco de contaminação por agentes infecciosos durante o procedimento.

A Fundação Hemominas não recomenda a doação caso o piercing esteja dentro da boca ou na região genital, por considerar que são locais em que há risco de infecção durante a existência do piercing. Nessas situações, caso queira doar, o indivíduo deve aguardar um ano após a remoção da peça.

Procedimento de risco

O universo das modificações corporais pode trazer riscos à saúde, principalmente quando inclui procedimentos considerados radicais, como bifurcações da língua e coloração da parte branca do olho, feitos sem uma observação médica. Essa última modificação, conhecida como eye ball tattoo, é contraindicada pelo médico oftalmologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Daniel Vítor de Vasconcelos. “Esse procedimento é feito entre a conjuntiva e a esclera, que é a parte branca do olho. Ao se injetar uma substância nesse local, ela irá se espalhar de forma homogênea e, ali, pode ser absorvida para dentro do espaço intraocular, podendo lesar a íris, o cristalino, a retina ou provocar uma catarata e uma série de outros problemas”, alerta o professor.

Ele ainda lembra que intervenções que têm a intenção de alterar a cor dos olhos são, muitas vezes, feitas com tintas para pele, porém, o olho e a pele são órgãos muito diferentes e não existe um corante que possa permanecer dentro do olho. “O olho é um órgão estéril e não tem as mesmas defesas da pele, portanto, a introdução de qualquer objeto no olho coloca-o em risco de infecção por bactérias. Parte desses casos de cegueira após procedimentos de tatuagem nos olhos foram relacionados à contaminação por bactérias.” O professor recomenda um oftalmologista antes da realização de qualquer procedimento no olho, seja o piercing ou a tatuagem.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Josué Gomes – estagiário de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues