Diagnóstico precoce de hipotireoidismo congênito é essencial para evitar consequências graves

Tema será abordado em curso para profissionais de saúde


01 de agosto de 2019 - , , , ,


Análise da coleta de sangue do teste do pezinho. Foto: Carol Morena

Nos últimos anos, a quantidade de crianças com hipotireoidismo congênito, 
quando já nasce com o distúrbio, tem aumentado. Antes, a proporção era de um caso para cerca de 3.500 recém-nascidos vivos, e agora é de um diagnóstico positivo para cerca de 2.500. Quem conta é a médica especialista em endocrinologia, Vera Maria Alves Dias, professora do Curso Hipotireoidismo Congênito: Diagnóstico e Manejo, ofertado pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), órgão complementar da Faculdade de Medicina da UFMG. A oferta visa preparar médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde a estarem aptos no acompanhamento e tratamento dessas crianças.

Um dos temas abordados será sobre o diagnóstico, importante para evitar as consequências da doença. Para isso, o Ministério da Saúde alerta que seja feito no período neonatal, pois a partir da segunda semana a deficiência de hormônios tireoidianos pode causar lesão neurológica, levando ao retardo mental grave. Esse diagnóstico é feito a partir do exame de triagem neonatal, conhecido como teste do pezinho, o que, em Minas Gerais, é realizado pelo  Programa de Triagem Neonatal do estado (PTN-MG).

A doença

Também consultora do Nupad, Vera Maria explica que as crianças manifestam a doença por três motivos, sendo todos relacionados à produção do hormônio tireoidiano.

“Além disso, mais raramente, a doença também ocorre se existir resistência à ação desse hormônio”, acrescenta a médica. Ela ressalta que os hormônios tireoidianos são muito importantes para o crescimento da criança, inclusive para o desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida. Sua falta pode acarretar lesões irreversíveis como o atraso mental. 

E ainda enfatiza as consequências dos casos mais extremos na vida adulta dos pacientes. “Dependendo do grau da deficiência hormonal e atraso na sua reposição, a deficiência mental pode ser grave e a criança se tornar um adulto bastante debilitado”, destaca. 

O diagnóstico

A especialista esclarece que os pacientes que recebem o resultado do teste do pezinho com suspeita para hipotireoidismo congênito ainda precisam realizar o exame sérico. Após confirmação, é necessário um acompanhamento realizado rigorosamente. “É importante enfatizar, que, embora o diagnóstico e tratamento precoces da criança possam evitar o desenvolvimento mental deficitário, se esse tratamento for irregular e sem aderência pela família, o risco se mantém”, alerta. 

Embora não haja cura, as famílias podem contar com a medicação de reposição dos hormônios, o que deve ser iniciado o mais cedo possível da forma indicada pelo profissional que acompanha o caso do paciente, de acordo com Vera Maria. “O tratamento é muito simples e consiste na reposição do hormônio sintético da tireoide (a LevoTiroxina – LT4) em forma de comprimido, industrializado e nunca manipulado”, explica. “Quando o diagnóstico for precoce, com a reposição do hormônio tireoidiano imediata poderemos impedir a ocorrência do atraso mental”, relata. 

De acordo com o Protocolo de Tratamento e Acompanhamento Clínico de Crianças com Hipotireoidismo Congênito do Programa de Triagem Neonatal de Minas Gerais, o tratamento medicamentoso é realizado durante toda a vida do paciente, contudo a dose diminui de acordo com o passar dos anos.

O medicamento é ofertado gratuitamente às famílias pelo SUS e distribuído na Unidade Básica de Saúde da abrangência da família.

A médica ainda indica o modo como as crianças com hipotireoidismo congênito devem ser medicados e a ação da substância no organismo: “o comprimido é muito pequeno, devendo ser dado por via oral, diluído em uma pequena porção de água ou de leite materno, uma vez ao dia, em jejum. Alimentos só devem ser oferecidos após 30 minutos”, detalha. “Além disso, é aconselhável que ele seja administrado em uma colherzinha, nunca com seringa. É importante lembrar que o tratamento é direcionado à reposição do hormônio e não para corrigir o defeito que provocou a alteração da tireoide”, orienta. 

Atenção dos pais e profissionais

A médica informa que é necessário que os pais e profissionais da área da Saúde estejam atentos tanto ao processo de gestação como ao diagnóstico. “O profissional deve estar envolvido ativamente na realização do teste do pezinho. Já a gestante deve ser informada no pré-natal de quando e como o teste será feito. Mas, principalmente, compreender que ele é essencial para a criança, com objetivo de evitar várias doenças e suas consequências”, adverte. 

Devido a essa importância do diagnóstico rápido, a especialista destaca sobre necessidade da preparação daquele que são responsáveis pelo processo. “Para realização do teste, os profissionais de saúde das diversas Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem ser treinados para uma coleta adequada, evitando a necessidade de recoletas, além de realizar a busca ativa dos casos suspeitos ou que necessitam de recoletas”, comenta. 

E é essa demanda que será tema central do Curso Hipotireoidismo Congênito: Diagnóstico e Manejo, ofertado por meio do Centro de Apoio à Educação a Distância (Caed) da UFMG. Nesse percurso serão desenvolvidos três módulos (introdutório, básico e avançado), além da abordagem de alguns casos de crianças diagnosticadas.

O certificado do curso será emitido pelo Sistema de Informação e Extensão da UFMG (Siex/UFMG) e para recebê-lo é necessário realizar 70% da formação.