Capital Mineira apresenta maior expectativa de vida do que cidades próximas

Capital mineira também tem menor diferença entre expectativa de vida de homens e mulheres quando comparada a outras cidades latino-americanas.


23 de dezembro de 2019 - , , , ,


Vista de Belo Horizonte. Foto: Carol Morena

Estudo inédito identificou relevantes desigualdades na expectativa de vida de seis grandes cidades latino-americanas: Buenos Aires; Belo Horizonte; Santiago; San José; Cidade do México e Cidade do Panamá. A variação da expectativa de vida ocorre tanto na comparação entre as cidades analisadas quanto dentro de cada uma dessas regiões. De acordo com o projeto Saúde Urbana na América Latina (Salurbal), que conta com pesquisadora da Faculdade de Medicina da UFMG, essas diferenças são determinadas pelo nível socioeconômico, como a escolaridade. Os dados foram publicados em um artigo na The Lancet Planetary Health, nessa terça-feira, 10 de dezembro.

Na avaliação sobre Belo Horizonte (BH), considerando 21 cidades pertencentes a região metropolitana, verificou-se que a capital tem uma expectativa de vida mais alta do que os outros municípios próximos, assim como a média de escolaridade. De acordo com a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina, Waleska Caiaffa, pesquisadora coordenadora do ramo Brasil no Salurbal, há lugares onde a diferença entre a expectativa de vida pode aumentar em sete e oito anos, para mulheres e homens, respectivamente, de acordo com o local onde residem.

Gráfico retirado do estudo do Salurbal, disponível clicando aqui.

Para Waleska, essa heterogeneidade entre as subáreas avaliadas revela desigualdades importantes que comprometem a qualidade de vida da população, ainda que não sejam tão destoantes como em Santiago, no Chile, e na Cidade do Panamá, por exemplo. Em Santiago, a diferença na expectativa de vida entre as subáreas para os homens é de quase nove anos e 18 anos para as mulheres. Já a Cidade do Panamá apresenta uma diferença de quase 15 anos na expectativa de vida para homens e mulheres.

O estudo aponta o nível médio de educação em cada região da área urbana como determinante para a expectativa de vida de seus moradores. No caso de Belo Horizonte, viver em uma área com maior nível de escolaridade pode implicar em uma expectativa de vida maior em quase cinco anos.

Gráfico retirado do estudo do Salurbal, disponível clicando aqui.

Mas, apesar desse hiato, “em relação as outras metrópoles do estudo, Belo Horizonte está bem situada, porque a disparidade entre a expectativa de vida do homem e da mulher (média de cinco anos) é menor do que outras analisadas”. Apenas São José, capital da Costa Rica, tem uma diferença menor (média de três anos).  “Isso é interessante. Apesar de muitos problemas, ainda somos uma região boa para se viver quando comparada as outras cidades analisadas da América Latina”, avalia Waleska.

Waleska conta que, em todos os resultados encontrados, as mulheres vivem mais do que os homens e é preocupante as disparidades dessas expectativas, como na Cidade do Panamá (diferença média de 16 anos na expetativa de vida entre homens e mulheres), Santiago do Chile (diferença de 11 anos) e Cidade do México (diferença de 9 anos).

“Isso significa que os homens estão morrendo muito mais cedo e isso é um sério problema demográfico. Ao inverter a pirâmide etária temos disparidade de proporção entre mulheres e homens. Sem contar que há muitos casos onde só eles trabalham, então essas mortes precoces comprometem a renda da família”, comenta Caiaffa.

Nível de escolaridade marca qualidade de vida

O estudo avaliou a relação da expectativa de vida com a questão socioeconômica, usando a educação como o marcador. Para isso, considerou o nível adequado de escolaridade aos 25 anos – quantos anos de estudo as pessoas tiveram até essa idade em uma média da região analisada. “Sabe-se que as pessoas estão vivendo mais, então esse é um trabalho importante para avaliar a relação com as desigualdades injustas, como as pessoas com maior acesso à educação e melhores condições econômicas que têm maior expectativa de vida do que aquelas que têm menor acesso ou poder econômico”, afirma Waleska Caiaffa.

“Esta é a primeira vez que se mapeia a magnitude extrema das desigualdades chamadas de injustas, ou iniquidades, na expectativa de vida em várias áreas urbanas de grandes cidades da América Latina, o que constitui um primeiro passo fundamental para reduzi-las ou erradicá-las no futuro”, diz Usama Bilal, professor da Universidade de Drexel, na Filadélfia (EU) e primeiro autor do estudo.

Caiaffa ressalta que muitos artigos avaliam a mortalidade, como qual é o risco de morte de determinada população, por exemplo. Mas analisar a expectativa de vida reflete melhor sobre a qualidade de vida, já que diz respeito aos anos desde o nascimento até a idade mais longeva possível.

“Um país com melhor expectativa de vida é considerado com melhor qualidade de vida, porque as pessoas têm melhores condições para viver mais. Isso inclui a forma de viver de modo geral, a alimentação, o ar respirado, a prática de atividades físicas, ter acesso a diagnóstico e tratamento das doenças, bons serviços de saúde, morar em uma região que te permite sair e caminhar, bons meios de locomoção, bom sono e outros hábitos saudáveis, por exemplo”, lembra Caiaffa.

“Esse é o primeiro estudo que possibilita comparar a expectativa de vida de seis importantes regiões urbanas da América Latina, bem como verificar as disparidades dentro de cada uma e começar a investigar o quanto podem ser modificadas”, destaca a professora. “Do ponto de vista da saúde já se trabalha com uma série de questões, agora é preciso também pensar no território em que essas pessoas vivem, como vivem, se transportam, qual é o tipo de lazer, a alimentação e todas as suas possibilidades do cotidiano”, completa.

De acordo com Caiaffa, a partir desse estudo, “agora deve-se pensar nas políticas públicas, olhando não só para o que a saúde pode fazer, mas verificando a qualidade de vida dessas pessoas na cidade”. “Esses resultados destacam a importância do desenvolvimento de políticas urbanas focadas na redução das desigualdades sociais e na melhoria das condições sociais e ambientais nos bairros mais pobres das cidades latino-americanas”, acrescenta Ana Diez Roux, pesquisadora do Salurbal e coautora do estudo.

Salurbal

O Saúde Urbana na América Latina (Salurbal) é um projeto de pesquisa que tem como objetivo estudar como as políticas e o ambiente urbano afetam a saúde dos moradores das cidades latino-americanas. Os resultados desse projeto servirão de referência para informar futuras políticas e intervenções para tornar as cidades mais saudáveis, mais equitativas e sustentáveis em todo o mundo. Ele é financiado pela Wellcome Trust.

Acesse o artigo e gráficos aqui.