Covid-19 e vacinação infantil: saiba o que a ciência já comprovou sobre os imunizantes

Início da vacinação em crianças tem provocado aumento de fake news


31 de janeiro de 2022 - , , , , , ,


*Maria Beatriz Aquino

O início da vacinação em crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19 no Brasil tem provocado aumento de fake news sobre o assunto e assustado os pais. Embora a maior parte da população declara ser importante vacinar os pequenos – estudo da Fundação Oswaldo Cruz, feito entre novembro e dezembro do ano passado, mostrou que mais de 80% dos pais querem vacinar os filhos – ainda há porcentagem importante de pessoas que não confiam totalmente nos imunizantes. Por isso, o Saúde com Ciência desta semana mostra o que a ciência já comprovou sobre as vacinas aprovadas para aplicação no público infantil e o que se sabe sobre seus verdadeiros efeitos. 

Pfizer e Coronavac

A autorização de órgãos regulatórios do mundo todo para vacinar as crianças entre 5 e 11 anos com a vacina da Pfizer exigiu um processo de muitos estudos, análises e verificações.

“As informações avaliadas passaram pela autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a qual contou com a consultoria e o acompanhamento de um grupo de especialistas em pediatria e imunologia. Milhões de crianças já foram vacinadas em muitos países e desta forma é julgada segura diante dos eventos adversos registrados”, explica a professora do Departamento de Pediatra da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria do Carmo Barros de Melo.

Segundo a professora, o mesmo aconteceu para a Coronavac, na qual o processo para liberação seguiu a mesma lógica e rigor científico. Vários países já utilizam essa vacina em crianças e alguns, inclusive, a partir de 3 anos, como Chile, Camboja, China, Colômbia, Equador e Indonésia. No Chile, há estudos de efetividade sobre esse imunizante, que também é corroborado pelos pareceres das sociedades médicas.

Mesmo com essas comprovações, ainda persiste o receio quanto à formulação química da Pfizer, por ser de RNA mensageiro, o que leva a crer que o DNA da criança seria modificado. Para a tranquilidade dos pais, Maria do Carmo esclarece que não é possível a mudança acontecer e que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) já publicou um manifesto favorável a essa vacinação.

No documento, a SBP destaca que a fabricante dessa vacina forneceu à Anvisa uma base de dados de segurança em duas coortes de crianças de 5-11 anos, cada uma delas com aproximadamente 1500 crianças vacinadas, sem identificar eventos adversos graves. Além disso, há mais de cinco milhões de doses aplicadas em crianças na mesma faixa etária nos Estados Unidos da América e em outros países, também sem documentação de efeitos adversos preocupantes.

Quanto à repercussão da vacina na vida adulta, a professora explica que as crianças imunizadas têm sido acompanhadas ao longo dos meses e não há registros de possibilidade de infertilidade com o passar dos anos.

Efeitos colaterais

Assim como outros imunizantes, efeitos adversos também podem aparecer com as vacinas contra a covid. Mas os benefícios superam as reações já comprovadas da vacinação. No caso da Pfizer, Maria do Carmo comenta que o principal evento registrado em outros países, até o momento, foi a dor no braço, especificamente no local da injeção.

Outros efeitos que podem ser observados são vermelhidão e inchaço no braço, dores musculares, de cabeça e calafrios. Todos considerados efeitos leves. Quanto à Coronavac, o efeito mais comum observado foi, apenas, dor local.

A professora adverte ainda que pensar a “imunidade natural” após ter covid-19 é uma lógica perigosa e pode colocar os pequenos em risco. Para esse público, os efeitos de uma contaminação podem gerar problemas como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, uma condição clínica grave em que a criança desenvolve complicações a longo prazo e pode até falecer.

Importância da vacinação

Segundos dados do Ministério da Saúde do Brasil, mais de 2,5 mil crianças brasileiras morreram de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) desde o início da pandemia, sendo o coronavírus o principal agente. O número já supera o total de mortes por todas as outras doenças infecciosas para as quais existem vacinas disponíveis no sistema público.

Nos hospitais, o cenário também preocupa. Entre o fim de 2021 e início de 2022, cerca de seis estados apresentaram aumento no número de internações de menores de 17 anos por covid, sendo o crescimento mais expressivo registrado em São Paulo, com 61% a mais de internações.

Para Maria do Carmo, esses dados comprovam ainda mais a importância da vacinação do público infanto-juvenil, que se encontra em um momento de retorno às aulas e maior convivência social.

“As crianças têm maior necessidade de interação e a covid-19 pode ser transmitida para colegas, familiares e professores. Um lembrete importante é como os avós são importantes para as crianças e desta forma grupos de risco podem ser acometidos”, ressalta.

A professora preconiza que o fim da pandemia depende de muitos fatores e que a expansão da vacinação é o mais importante de todos. Vale ressaltar, ainda, que as vacinas são um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sob pena de multa ou até mesmo e perder a guarda

SAIBA MAIS

Para conhecer mais detalhes sobre as vacinas e entender como a prática já ajudou a erradicar várias doenças, confira o programa completo do “Saúde com Ciência”. Previna-se e proteja nossas crianças!

“Saúde com Ciência”  é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

Maria Beatriz Aquino – estagiária de Jornalismo
Edição: Karla Scarmigliat