Abordagem da depressão pode influenciar na qualidade do tratamento

Especialista esclarece sobre a doença.


27 de julho de 2018


Depressão é doença orgânica, segundo especialista. Visão leiga sobre o assunto pode ser prejudicial. Saiba mais na nova série do Saúde com Ciência

Marcos Paulo Rodrigues*

Tristeza profunda, perda de interesse generalizada, falta de ânimo e de apetite e oscilações de humor… Esses são alguns dos principais sintomas da depressão, uma das doenças mais incapacitantes do mundo. Em escala global, estima-se que mais de 320 milhões de pessoas apresentam quadros depressivos, seja na infância, adolescência, vida adulta, pós-parto ou a partir dos 60 anos. A maneira de abordar o assunto com a pessoa que apresenta os sintomas da doença pode influenciar diretamente na qualidade do tratamento.

A depressão não escolhe idade e pode trazer profundas complicações, que se diferenciam de acordo com cada faixa etária. Conversar abertamente sobre a doença é o primeiro passo para compreendê-la melhor e proporcionar bem estar para quem sofre com o quadro. É o que propõe o professor de Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Edgar Nunes, que afirma que um dos pontos mais importantes é deixar claro que a depressão não é uma opção, algo controlável. “Eu falo que o grande problema da depressão é a terapia do melhor amigo, que fala pra pessoa que ela tem que reagir, que não pode se entregar, porque ela tem tudo. ‘Por que ela está deprimida?’ Isso é antiterapêutico, se há uma coisa que vai agravar o sintoma em qualquer indivíduo é falar que ele não tem motivo para estar deprimido”, acredita.

Nunes ressalta que a depressão é uma doença orgânica, em que pode haver a deficiência de neurotransmissores como a serotonina. Ela pode ir além do controle e reação do indivíduo, não sendo necessário um motivo ou episódio grave para desencadeá-la. Uma perda ou luto, por exemplo, pode precipitar uma depressão, mas não é necessariamente a causa da doença. “Boa parte das pessoas com depressão maior, com essa depressão grave, não tem motivo mesmo. E na impressão do leigo ela se torna um problema de caráter, em que a pessoa deprimida passa a ter o psiquismo fraco”, pontua.

Foto: Carol Morena

De acordo com o professor, não adianta falar para o indivíduo reagir, porque ele vai lidar com uma dificuldade ou incapacidade de reação frente a problemas que podem ser semelhantes aos de outras pessoas. A diferença é que o indivíduo deprimido apresenta maior susceptibilidade, de modo que aquele problema pode adquirir uma dimensão maior. “Na suspeita de que alguém próximo a você está com depressão, recomende que procure ajuda médica, profissional, para poder definir se o melhor tratamento é o uso de medicamentos ou uma psicoterapia. Existe tratamento e é muito eficaz na depressão, em todas as faixas etárias”, garante Nunes.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Marcos Paulo Rodrigues – estagiário de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues