Afeto pode ser arma na luta contra o câncer


03 de fevereiro de 2010


Médicos e familiares podem ser aliados durante o tratamento

Amanhã, dia 4 de fevereiro, é o dia mundial do câncer. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos, ele é a causa de 7,6 milhões de mortes no mundo e se constitui na segunda causa de óbitos no Brasil. Para reduzir estes números, deve ser feito um trabalho para controlar e prevenir a doença.

Com a prevenção, até 40% dos casos de câncer podem ser evitados, segundo a Organização. Os eventos que resultem em morte também seriam reduzidos. Isto porque os exames preventivos aumentam a probabilidade de um diagnóstico precoce da doença, o que significa um tratamento com mais chances de efetividade. Alguns tipos de câncer, como o de mama, por exemplo, têm altas taxas de cura total, quando diagnosticados precocemente e tratados de maneira adequada.

As políticas da OMS sugerem que os tratamentos devem visar a cura da doença, mas, também, o aumento da expectativa de vida e, sobretudo, a melhoria na qualidade de vida da pessoa com câncer. Em mais de 90% dos casos, o paciente pode ter as consequências dos tumores reduzidas, por meio de cuidados paliativos. Este tipo de tratamento consiste em medidas efetivas que aliviem a dor e outros problemas que possam surgir a partir da doença.

Para o professor João Gabriel Marques Fonseca, do Departamento de Clínica Médica, mesmo quando não há mais recursos terapêuticos a serem aplicados, o médico deve continuar atuando. “A continuidade do atendimento é fundamental para minorar sofrimentos e assegurar um final de vida digno”, orienta.

Ele explica que a atenção médica não pode relegar o ser humano a segundo plano, concentrando-se exclusivamente na doença e no combate de sintomas. “Uma das principais funções do médico no trato com pacientes sem opção terapêutica é a função de maternagem: cuidar do paciente não apenas como paciente, mas como ser humano que precisa da ajuda de outro ser humano”, elucida o professor.

Fonseca argumenta, ainda, que alguns tratamentos extremos podem ser propostos para aumentar a quantidade de vida, mas não considerar a qualidade da vida do paciente. Ele alerta que o isolamento físico e emocional aos quais alguns pacientes são submetidos é outro grande problema. “Poucos médicos encaram esta questão e, infelizmente, na maior parte das vezes, os médicos adotam posturas que lhe poupam do contato direto, intenso e, freqüentemente, doloroso com o paciente”, explica.

O professor João Gabriel relembra que, além do paciente, os familiares também precisam de cuidados e atendimento. Ele conta que, mesmo diante de um grande sofrimento físico e psicológico, um diálogo efetivo e, sobretudo, afetivo, pode diminuir a tensão emocional da família.

O papel da família
Os familiares, tais como os médicos, podem ter participação ativa no processo de cuidados com o paciente sem opção terapêutica. Para o professor convidado da Faculdade de Medicina Gilmar Fidélis, o afeto oferecido pela família nesse momento pode ter boas consequências nos pacientes. “A dor é um processo fisiológico, não há dúvidas. Mas a vivência da dor pode ser mudada de acordo com a situação do doente. O conforto que os familiares podem oferecer, sem sombra de dúvidas, irá tornar a realidade do paciente menos árida”, adverte.

Ele explica que, dentro de um hospital, a prioridade é dos pacientes que têm possibilidades de tratamento. Por essa razão, o paciente sem opção terapêutica pode ter a sensação de estar abandonado, além de ser relembrado a todo momento de sua realidade. Já no seio familiar, o acolhimento pode trazer alívio nos momentos mais difíceis.

Gilmar alerta que nem todos estão prontos para estes momentos. “A grande maioria das pessoas sequer consegue falar em morte. Por isso o convívio com o ente que esteja em uma fase avançada da doença se torna difícil. É importante que a família seja sensibilizada de que tem papel importante ao ajudar o paciente a viver essa fase”, finaliza.