Água: racionalizar antes de racionar
Programa de rádio Saúde com Ciência apresenta medidas que visam contornar os problemas causados pela estiagem
06 de novembro de 2014
Saúde com Ciência apresenta medidas que visam contornar os problemas causados pela estiagem
O racionamento de água já é realidade em algumas cidades de Minas Gerais. Oliveira, na região Oeste do Estado, decretou situação de emergência no último dia 28. Em situação semelhante se encontram outros 167 municípios mineiros, segundo boletim da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. A medida de racionamento, no entanto, não deve encobrir a necessidade de se repensar o uso e a gestão da água.
É o que acredita o professor da Faculdade de Medicina, Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão da UFMG. “Não adianta você racionar o consumo só no momento da crise. O ideal seria racionalizar o consumo, ou seja, nós precisamos de um novo processo de gestão da água, que seja mais integrado e sistêmico, entendendo todos os fatores que levam a esse abuso”. Para o professor, a população também deve se conscientizar que já é tempo de superar essa cultura de achar que a água é ilimitada.
O racionamento pode ser realizado de diversas formas, desde revezamentos, nos quais uma determinada parte do município recebe água a cada 12h, até multas para flagrantes de uso indevido da água. Apesar de ser necessário em alguns casos, ele deve ser encarado como uma medida extrema, que pode, inclusive, trazer problemas à saúde.
“Como a água fica fluindo e refluindo, você pode ter contaminações na tubulação que podem, eventualmente, contaminar a água”, afirma Polignano. “Existe também problemas ligados à falta de higiene e alimentação. Com o racionamento, as pessoas buscam alternativas, como águas não-tratadas, que levam a doenças”, acrescenta.
Além disso, a estiagem somada ao tempo seco tende a contribuir para o fenômeno da inversão térmica. Nesse caso, uma camada de ar fria fica “presa” próxima a superfície. Incapaz de se dissipar e, consequentemente, repleta de poluentes, a inversão térmica pode afetar a saúde respiratória. No dia 13 de outubro, Belo Horizonte presenciou uma camada espessa de fumaça, que cobriu a capital durante alguns dias.
“Foi um fenômeno prejudicial aos moradores da cidade”, conta o também professor da Faculdade de Medicina, Antônio Radicchi. “Você tinha derivados da queima do petróleo que estavam absorvidos junto às partículas. Quando a pessoa aspira aquilo, os derivados podem chegar aos alvéolos pulmonares, causando danos”.
Um dos fatores que influencia na estiagem está ligado aos incêndios nas áreas florestais, que comprometem os rios, como o São Francisco e o das Velhas. A nascente simbólica do primeiro chegou a secar em outubro. Enquanto isso, o Rio das Velhas, maior afluente em extensão da bacia do São Francisco, ainda enfrenta situações de poluição e redução da sua vazão – o Manuelzão trabalha para revitalizá-lo desde a sua fundação, em 1997.
Tema da semana
O programa de rádio da Faculdade conversou com integrantes do Projeto Manuelzão. Um panorama atual da falta de chuvas em Minas e no Brasil e as consequências do uso inconsciente da água para os rios, estão entre os destaques da série “Contra a Seca e a Estiagem”. Confira a programação:
Crise hídrica – quadro atual – segunda-feira (10/11/14)
Estiagem e incêndios em Minas Gerais – terça-feira (11/11/14)
Ar seco e inversão térmica – quarta-feira (12/11/14)
Medidas de racionamento – quinta-feira (13/11/14)
Situação da região do médio Rio das Velhas – sexta-feira (14/11/14)
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. De segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h05, ouça o programa na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM. Ele ainda é veiculado em 77 emissoras de rádio de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Estados Unidos. Também é possível conferir as edições pelo site do Saúde com Ciência.