Ambientes e companhias podem influenciar formação da personalidade na infância

Saúde com Ciência investiga como fatores externos podem interferir no desenvolvimento da personalidade


10 de fevereiro de 2017


Nova série do Saúde com Ciência investiga como fatores externos podem interferir no desenvolvimento da personalidade e comportamento das pessoas

Criativos, ansiosos, intensos, intuitivos, julgadores… Existem tipos variados de personalidade e cada um deles contribui para a formação do temperamento e caráter do indivíduo. Os ambientes em que o ser humano está inserido, assim como as companhias que fazem parte do seu dia-a-dia, podem influenciar na formação dessa personalidade.

O psiquiatra e professor aposentado da Faculdade de Medicina da UFMG, Maurício Viotti, aponta que fatores externos atuam no desenvolvimento da personalidade, sobretudo na infância. “A personalidade, quando está se formando, é uma parte herdada dos pais, associada às influências do ambiente e à educação que a criança recebe”, afirma. “Certamente, a combinação desses fatores, durante a infância até a adolescência, formam aquela personalidade”, completa o psiquiatra.

A partir dos 18 anos, é normal que o indivíduo se torne menos influenciável pelo ambiente e passe a carregar os traços de personalidade já adquiridos pelo resto da vida. Também é possível que, na fase adulta, ele passe por experiências que mudam seu comportamento e formas de reagir. Da mesma forma que a pessoa pode viver em um ambiente conturbado e ter uma conduta exemplar, ela pode se “perder” em um ambiente teoricamente mais favorável.

O especialista sugere algumas possibilidades para explicar tal cenário: “São vários fatores: uma questão genética ou problema biológico, a educação que a criança recebe ou a negligência dos pais na criação dos filhos, assim como casos de alcoolismo. Isso colabora para que a pessoa não tenha uma formação ética muito boa”.

Viotti ainda observa que pessoas com traços de personalidade mais fortes relacionados à impulsividade, ansiedade ou comportamento associal, tendem a ser mais suscetíveis ao consumo de drogas. “A pessoa pode ter maior tendência a usar drogas quando ela não tem noção que aquilo é ilegal ou quando a droga, de alguma forma, alivia a ansiedade ou algum sentimento negativo que ela possa ter”, alerta.

Foto: Carol Morena

Personalidade adaptável

A personalidade é representada por traços característicos, ligados ao ponto de vista afetivo ou comportamental, que acompanha a pessoa ao longo da vida. Esses traços podem ser mais rígidos ou flexíveis, de acordo com cada indivíduo. Maurício Viotti esclarece que os parâmetros do que seria uma personalidade equilibrada estão associados à habilidade de adaptação da pessoa: “Uma das principais características da personalidade ‘normal’ é a capacidade de a pessoa ser maleável, adaptável às diversas situações”.

Características pessoais muito fortes e rigorosas podem trazer consequências negativas, como quando a pessoa é extremamente desconfiada, organizada ou dependente. Esses indivíduos, segundo Viotti, estão mais propensos a terem atritos com outras pessoas e encontram dificuldades em se adaptarem a situações inesperadas.

Por outro lado, o fato da pessoa ter uma personalidade mais forte não é necessariamente um problema – essa característica também pode ser benéfica. “Pessoas que são mais rígidas, organizadas para certas funções, podem se adaptar bem à situação. No momento em que ela precisa ser organizada, ao fazer um vestibular ou Enem, por exemplo, essas características são positivas”, conclui o psiquiatra.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Redação: Luís Gustavo Fonseca | Edição: Lucas Rodrigues