Antônio Cabral e Edison Corrêa recebem o título de Emérito da UFMG
Com trajetórias que marcaram a história da Faculdade de Medicina da UFMG, os professores receberam as homenagens pelo novo título
03 de junho de 2025 - Evento, Homenagem, Professor Emérito

Na última segunda-feira (02), os professores Edison José Corrêa e Antônio Carlos Vieira Cabral foram condecorados Eméritos da UFMG, titulação conferida a profissionais que possuem contribuição marcante para a universidade.
A cerimônia contou com a presença da reitora da UFMG Sandra Regina Goulart, da diretora da Faculdade de Medicina, Alamanda Kfoury Pereira, da vice-diretora, Cristina Alvim, além da família, amigos, professores, alunos e servidores de diversas unidades.
Para a reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, a instituição se orgulha de outorgar os títulos para os professores. “Eles têm em comum o fazer público em nome do nosso estado, dos nossos cidadãos. Esse título transborda os limites de uma faculdade específica. Agora, são eméritos de toda a UFMG, já que afetaram com seus atos a escrita da história dessa casa”, afirmou.
A diretora da Faculdade, Alamanda Kfoury, falou sobre o professor Cabral, de quem foi aluna e orientanda de mestrado e doutorado. “Ele sempre levou o orgulho de ser UFMG e a perinatologia como ciência e arte. Viveu intensamente as atividades do seu tempo. Se destaca o respeito e compaixão pelas pacientes gestantes e seus fetos”, disse.
Em seu discurso, Cabral agradeceu às pessoas que passaram pela sua carreira na Universidade. “Tive grandes mestres, que me ensinaram a obstetrícia nesta casa, muitos alunos, que me ensinaram a ser professor e muitos companheiros, que me acompanharam nessa atividade”, enalteceu.
A ex-reitora Ana Lúcia Gazzola proferiu o discurso sobre o professor Edison Corrêa. “Aprendi com ele que a vinculação com a sociedade deve ser o eixo de toda a ação da universidade. Edison é daquelas raras pessoas que as ações são orientadas por convicções. Prática e teoria se articulam, uma não existe sem a outra. Lembro de sua enorme capacidade de agregação de pessoas”, destacou.
Edison, por sua vez, disse que a nomeação para emérito foi uma das notícias mais fortes que recebeu na vida. “Estou muito honrado por ver aqui docentes, profissionais, familiares, clínicos e amigos, por vivências e convivências. Foram 57 anos de trabalho no magistério e na clínica”, pontuou. Ele lembrou a prisão no DOPS durante a ditadura militar e resumiu sua carreira em três palavras: humildade, emoção e gratidão.
Edison Corrêa: uma trajetória marcante na Faculdade de Medicina da UFMG

Foi em 1964 que Edison José Corrêa entrou na Faculdade de Medicina, em 7º lugar, em um grupo de 150 pessoas, por meio de um curso pré-médico, que marcou a sua vida, após tentar o vestibular em 1963 e não ser aprovado.
Graduado em Medicina em 1968, completou a residência médica em pediatria em 1969/1970. Logo que finalizou foi contratado como professor auxiliar do Departamento de Pediatria (PED) no ano de 1971, no qual esteve na obstetrícia, neonatologia e perinatologia. Para ele, seu percurso como professor no Departamento de Pediatria foi uma experiência marcante, por sempre ter trabalhado em grupo com muita facilidade.
“Eu nunca trabalhei sozinho, o pessoal falava que eu era até um mediador de conflitos, porque qualquer confusão eles me chamavam para tentar resolver os conflitos. Um dos primeiros trabalhos de campo que eu tive em grupo foi em Bocaiúva, junto a um outro professor do departamento e mais dois alunos da época”.
Edison Corrêa
Após se tornar professor da Pediatria, Edison virou representante do Departamento no Colegiado de Curso, logo em seguida virou coordenador do colegiado do curso de Medicina e coordenador da pediatria.
Em 1994 foi eleito diretor da Faculdade de Medicina, onde se manteve até 1998. Como diretor, Edison conta que em seu mandato trabalhou na informatização da faculdade, no qual foi dado a universidade mais recursos. Ele conta que os computadores disponíveis não eram muitos, e os que tinham eram muito velhos, e aos poucos foram modernizando os equipamentos.

Após o mandato na direção, foi convidado a assumir o cargo de pró-reitor de extensão da UFMG, no qual permaneceu de 1998 a 2006. Além disso, foi presidente do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras de 2003 e 2005. Atuou como vice-diretor do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), no qual hoje é assistente.
Além disso, foi um dos protagonistas na criação da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), iniciativa que visa qualificar profissionais de saúde em todo o país.
Pai de cinco filhos e avô de cinco netos, o professor Edison Corrêa agradece emocionado o título de professor emérito, principalmente após sua caminhada de mais de 50 anos na Faculdade de Medicina da UFMG.
Antônio Cabral: a trajetória do professor que implantou a Medicina Fetal na UFMG e no Brasil

Nascido em Juiz de Fora, o professor Antônio Carlos Vieira Cabral, chegou a Belo Horizonte em 1968. Na época, o vestibular para toda a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) era realizado de maneira singular: as provas aconteciam no Estádio Mineirão. Em 1974, ingressou na Faculdade de Medicina, no qual se formou em 1979.
Durante sua formação médica, viveu uma experiência que considera determinante para a qualidade da formação profissional: a integração entre disciplinas básicas e clínicas, todas ministradas na sede da Faculdade de Medicina UFMG.
“A verdadeira integração ‘bench to bed’, da bancada do laboratório ao leito hospitalar”.
Antônio Cabral
As atividades práticas e de internato ocorreram em diversos hospitais de Belo Horizonte: a Clínica Médica no Hospital Júlia Kubitschek, a Obstetrícia na Cruz Vermelha (hoje Hospital Semper) e as Urgências nos Hospitais João XXIII e Amélia Lins.
Em 1980, iniciou a residência médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital da Cruz Vermelha, então pertencente à UFMG. Em 1983, concluiu o Mestrado na área de Obstetrícia, com a dissertação “Efeitos do Tabagismo na Gravidez”. Seguiu para São Paulo, onde finalizou o Doutorado na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, com a tese “Efeitos da nicotina em fetos de ratas prenhes”.
Seu desejo de ampliar o conhecimento o levou aos Estados Unidos, onde, em 1990, realizou o pós-doutorado na University of California, em San Francisco. Lá, aprofundou-se nas técnicas de diagnóstico de doenças fetais por meio de análise de DNA, à época obtido de forma invasiva no ambiente uterino.

Ao retornar à UFMG, após o pós-doutorado, trouxe na bagagem uma visão inovadora da prática obstétrica: o conceito do feto como paciente. Inspirado pelo contato com os professores pioneiros da Medicina Fetal nos Estados Unidos, implantou, no Hospital das Clínicas da UFMG, o primeiro centro de atendimento em Medicina Fetal do Brasil.
O centro consolidou-se como referência nacional, oferecendo formação para médicos de diversas áreas — Obstetrícia, Pediatria e Genética — e produzindo pesquisas de grande impacto sobre a saúde fetal. Em 1995, publicou o livro “O Feto como Paciente”, que ajudou a consolidar a Medicina Fetal como subespecialidade médica no Brasil.
Em 2003, tornou-se Professor Titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG. Após 34 anos de dedicação à docência, aposentou-se em 2016, deixando um legado reconhecido: “uma geração de médicos que adotaram o conceito de ver o feto como um indivíduo, reconhecendo seus interesses específicos, mesmo antes do nascimento”.
Ao longo da carreira, publicou 14 livros, todos nas áreas de Obstetrícia e Medicina Fetal, e 262 artigos científicos completos, sendo 70 em periódicos internacionais. Participou ativamente de pesquisas financiadas por importantes agências, como Capes, Fapemig e CNPq. Destaca-se, entre elas, a colaboração com a Freie Universität Berlin, apoiada pelo programa Capes/DAAD, resultando em relevantes estudos sobre Pré-Eclâmpsia. Além das atividades de pesquisa, dedicou-se à formação de recursos humanos: orientou 40 dissertações de mestrado e 24 teses de doutorado.
Confira a galeria:











