Arte de rua e cultura hip hop podem ser aliadas da saúde

Pesquisa revela que a arte produzida nas periferias e cultura hip hop, oferta um lugar para a palavra, para a diversidade, para a construção de identidades e laços sociais na população jovem e adolescente


26 de novembro de 2024


“O que te inquieta: ver menores de idade na cadeia ou ver menor virando poeta?” foi o tema escolhido pela pesquisadora, Juliana Assunção, para sua dissertação pelo Programa de Pós-Graduação em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG. A pesquisa tem o intuito de investigar qual a função da arte de rua e da cultura hip hop para adolescentes e jovens de Belo Horizonte, que acabam sendo silenciados pela colonialidade, pelo racismo e pela segregação, o que os tornam menos ouvidos socialmente.

Quando se trata de saúde, principalmente saúde mental, a arte pode ser um dos recursos possíveis para o cuidado e para a prevenção do adoecimento, principalmente entre jovens e adolescentes, que são impactados diariamente por violências sociais. Neste caso não foi diferente, Juliana trouxe como exemplo o caso de um adolescente que acompanhou durante sua pesquisa, que teve todo seu percurso modificado pela arte, inclusive sua relação com a saúde.

“Esse adolescente tomava tantos medicamentos que não conseguia, muitas vezes, falar. Lamentavelmente, foi considerado um adolescente agressivo para alguns profissionais da rede. Com o tempo, durante os atendimentos, o adolescente foi conseguindo se expressar através da rima, do hip hop e da poesia, demonstrando seu desejo pela escrita, gostava de rimas, e pela arte. Tinha como inspiração o Duelo de MC’S e as batalhas de poesias faladas, Slam”, conta.

A coleta de dados para a pesquisa aconteceu entre abril de 2023 a janeiro de 2024. No total 270 adolescentes e jovens foram entrevistados. Por meio da coleta de dados e do estudo teórico, a pesquisadora concluiu que a arte de rua e cultura hip hop, assim como a adolescência e as juventudes, não caminham por uma via interpretativa, mas constituem-se singularmente, de um modo que instiga, inquieta e rompe com o modelo universal.

Cultura Elitista e o preconceito contra a arte da periferia

Por conta da desigualdade social e de direitos, jovens que residem nas periferias são menos vistos e ouvidos, e automaticamente mais criminalizados. Para Juliana, essa percepção faz com que a sociedade receba esses adolescentes de maneira estigmatizada, contaminada pelo racismo, colonialidade e segregação, projetando-os como um desvio do que se é esperado dentro de um imaginário social predominante de centro, o que produz mais violências.

“Esse imaginário social baseado em um modelo de centro predominante, acarreta em consequências mortíferas a esses adolescentes e jovens, pois tudo aquilo que se destoa desse modelo padrão e se torne “diferente” é rechaçado, até chegar um ponto de se criar um fascínio pelo extermínio do outro e, infelizmente, naturalizar algumas mortes, principalmente dos corpos negros e periféricos”, conclui Juliana.

Leia a matéria completa no site da Faculdade de Medicina da UFMG.