Atividade promove experiência interprofissional para alunos de graduação na área da saúde

Ter a oportunidade dessa prática ainda na formação é um importante diferencial, pois aprendem juntos para trabalhar juntos, resultando na melhoria do cuidado integral ao paciente.


03 de março de 2021 - , , , , , , , , , , ,


As atividades do ITOSCE são feitas de forma remota e incluem estudos de casos pelas equipes. Foto: Pixabay

Durante quatro semanas, 200 alunos de dez cursos de graduação da UFMG participam do encontro “Educação Interprofissional na Atenção Básica” (ITOSCE). A atividade tem como base o conceito “estudar junto para trabalhar junto” e foi idealizada pelas professoras Eliane Gontijo, da Faculdade de Medicina, e Fabiane Ferreira, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. O objetivo é que estudantes aprendam “de”, “com” e “sobre” cada um, buscando a colaboração efetiva, fundamental para a atenção integral à saúde.

As professoras ressaltam essa oportunidade dentro da graduação como um processo inovador de ensino-aprendizagem. A troca de conhecimentos favorece a compreensão dos diversos papéis no trabalho em equipe, reduzindo tensões e conflitos na atuação profissional. Além disso, os participantes desenvolvem a comunicação e colaboração, competências essenciais no trabalho das equipes interprofissionais, promovendo mais segurança para o paciente, mais qualidade e mais resolubilidade no cuidado.

“As discussões de caso e trabalhar em equipe farão parte do processo de trabalho desses profissionais. É dentro do processo de formação que esses discentes precisam ter a oportunidade de conhecer o que os colegas da área da saúde fazem, quebrar os estereótipos, conviver com opiniões e conhecimentos que, em conjunto, potencializam a capacidade de resolução de problema, promovendo o cuidado integral”

Fabiane Ferreira

A professora Eliane acrescenta que “revisões sistemáticas bem conduzidas mostram a relevância do tema, mudança na atitude dos alunos que passaram pela experiência interprofissional, no sentido de valorizarem mais a abordagem centrada no paciente e a humanização do cuidado”. E para atingir esses resultados, as atividades incluem os quatro domínios da educação interprofissional:

Comunicação interprofissional 
Comunicar de modo responsivo e responsável com pacientes, famílias, comunidade e profissionais, buscando apoiar uma abordagem da equipe para a equipe, na promoção e manutenção da saúde, prevenção e tratamento de doenças
Papéis e responsabilidades 
Conhecer o próprio papel e das demais profissões para avaliar as necessidades de cuidado dos pacientes e promover a saúde da população
Trabalho em equipe 
Aplicar os princípios da dinâmica de equipe para planejar, fornecer e avaliar o atendimento centrado no paciente/população, programas e políticas de saúde que sejam seguros, oportunos, eficientes, eficazes e equitativos
Valores e ética 
Trabalhar com indivíduos de outras profissões mantendo um clima de respeito mútuo e valores compartilhados

Vídeo feito pela coordenação do ITOSCE para os aprticioantes.

Conheça o ITOSCE

A estratégia ITOSCE   foi realizada pela primeira vez em dezembro de 2019, com a participação de quatro cursos de graduação (Medicina, Enfermagem, Odontologia e Fisioterapia). No ano seguinte, a atividade aconteceu em agosto e outubro, mas devido à pandemia de covid-19 passou para o ambiente virtual. A adesão vem crescendo e nesta rodada 3, que encerra o segundo semestre de 2020, a participação passou a ser de dez cursos.

Cursos participantes da rodada 3 do ITOSCE
(26 de fevereiro a 20 de março)

Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Psicologia, Radiologia e Terapia Ocupacional.

“Neste momento do ensino remoto, nos foi apresentada a necessidade de que os alunos dos últimos períodos pudessem, de alguma forma, vivenciar a experiência de uma reunião de equipe, que é comum em centros de saúde e que são experimentadas pelos alunos da área da saúde quando estão em internato rural ou urbano. Vimos nessa atividade uma forma de preencher essa lacuna impossibilitada pela situação pandêmica. E ela nos surpreendeu, tanto pela aceitação dos alunos quanto pela riqueza com que conseguimos trabalhar em uma equipe de mais de 20 professores de diversos cursos, com competências comuns aos nossos currículos”

As atividades programadas para as quatro semanas do ITOSCE são realizadas integralmente de forma remota e totalizam 15 horas. Elas incluem leitura; vídeos; fórum de discussão com perguntas norteadoras, de acordo com cada temática, e mediação de professores; além de atividades síncronas, no Teams, com as equipes de alunos:

“Em cada equipe, somos dois professores apresentando a situação problema, construída por subgrupo de 3-4 docentes de cursos diferentes, com adaptações de situações reais, cotidianas na Atenção Primária. Depois os alunos fazem tarefas relativas a essas situações. Os docentes não interferem na discussão, exceto no final, quando fazem uma síntese e, no feedback, mostram o padrão de respostas esperadas no formato de um check list”, explica Eliane Gontijo.

Gontijo acredita que a maior adesão está associada ao próprio interesse dos alunos, bem como aceitação e aprovação do modelo utilizado. Além disso, ela aponta que quanto mais cursos se envolverem nessa oportunidade de troca, mais rica será a experiência.

“Temos que sair das caixinhas das unidades, para isso somos uma universidade. O aluno deve aproveitar a oportunidade. Com um pouco mais de infraestrutura poderíamos pensar em uma atividade intersetorial, e, quem sabe, até mesmo interinstitucional”, discorre. “Como o nosso enfoque é Saúde Pública, cursos da área de humanas como Direito, por exemplo, poderiam contribuir na discussão dos determinantes sociais e questões éticas que perpassam o atendimento das necessidades de saúde do indivíduo, famílias e população”, acrescenta.

Como faz para participar?

A oferta da “Educação Interprofissional na Atenção Básica” varia de acordo com o curso. Em Enfermagem e Fisioterapia, por exemplo, a atividade é inserida como um módulo da disciplina obrigatória no Internato de Saúde Coletiva. Já a Odontologia oferece como atividade de extensão.

A maioria oferta como atividade geradora de crédito, ou seja, o aluno se inscreve e apresenta o certificado para que o Colegiado reconheça a atividade e registre em seu histórico escolar.

Assim, o interessado deve confirmar com o colegiado do seu curso se há a oferta ou acompanhar a divulgação das inscrições em cada semestre, nos canais de comunicação da Faculdade de Medicina e da UFMG.

ITOSCE é uma atividade pioneira e pode ter um papel ainda maior na Universidade

A professora Eliane Gontijo conta que esta experiência é a primeira atividade de educação interprofissional envolvendo cursos da graduação da UFMG. E que essas experiências no Brasil, como um todo, são escassas. Elas, em geral, acontecem com projetos de extensão no formato do Programa de Educação pelo Trabalho (PET).

Os projetos PET Saúde são fontes de iniciativas interprofissionais, fomentados pelo Ministério da Saúde. A UFMG participou de todas as suas edições. A atual, edital 2018-2021, é nomeada como PET Interprofissionalidade e é uma parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte.

Neste projeto estão inseridos vários professores de 12 dos 14 cursos da área da saúde da Universidade. Os estudantes estão divididos em cinco grupos tutoriais de forma interprofissional, com tutores professores da UFMG e ainda preceptores do serviço.

Os projetos são desenvolvidos em Unidades Básicas do município e tiveram como motivação a demanda local apresentada pela preceptoria, realizada por profissionais dos serviços. Muitos professores participantes do PET fazem parte da equipe docente que está envolvida com o ITOSCE.  

De acordo com Gontijo, é importante a institucionalização da Educação Interprofissional (EIP) na UFMG por fortalecer o desenvolvimento das competências complementares e colaborativas, objetivo da atividade de educação interprofissional, na formação dos seus futuros egressos. “Nos Estados Unidos e Europa, para conseguir a acreditação da escola, um dos critérios é exatamente oferecer formação interprofissional”, pontua.

“É preciso ficar claro que a formação específica de cada área é fundamental. Desenvolver as competências específicas de cada área é responsabilidade da instituição, assim como reforçar a identidade profissional. O que defendemos é ter um espaço, onde competências comuns e colaborativas possam ser desenvolvidas, como na área de saúde pública” 

Outra questão que se soma à relevância da institucionalização da “Educação Interprofissional na Atenção Básica” é a UFMG ter 14 cursos de graduação da área da saúde, o que compreende 7.551 alunos, aproximadamente um quarto dos estudantes de graduação da Universidade.

“Como integrantes da universidade, os cursos da saúde compartilham do mesmo espaço, dos mesmos recursos e das mesmas políticas acadêmicas. Há necessidade de convivência entre estudantes e professores de diversos cursos da saúde para o desenvolvimento da competência colaborativa e efetivo trabalho em equipe. É por meio do exemplo vivenciado ao longo da graduação que os egressos aprenderão a se relacionar com profissionais de outras áreas”

Ressalta Cristina Alvim, professora da Faculdade de Medicina e assessora para a área da saúde da Reitoria da UFMG

Ela ainda comenta que a aproximação entre os cursos de graduação da saúde já vem sendo promovida há alguns anos na Universidade, com destaque para o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). Em 2018, por exemplo, a Assessoria para a Área da Saúde propôs à Reitoria a constituição de um grupo de trabalho para pensar a formação interprofissional na área da saúde na UFMG e promover a integração entre os cursos. Além disso, foram realizados encontros, eventos e outras ações a respeito da temática, inclusive em parceria com a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde.

“Em 2019, atenta à convocação dos Conselhos de Saúde e reforçando sua missão na construção de uma sociedade mais democrática, participativa e livre, a UFMG organizou e sediou a Conferência Livre com o tema Saúde e Educação. Durante o ano de 2020, os coordenadores de cursos da saúde se encontraram periodicamente para planejar o enfrentamento da pandemia”, lembra Alvim.