Atividades físicas leves também apresentam benefícios para saúde
13 de setembro de 2017
Estudo defende que todas as atividades do dia importam para avaliação das condições de saúde, inclusive atividades leves quando substituem comportamentos sedentários
A sociedade moderna tem proporcionado cada vez mais o uso de tecnologias que facilitam as atividades diárias. Celular, computador, tablets e smart TVs são alguns dos dispositivos indispensáveis no cotidiano de adultos e, inclusive, de adolescentes. Embora atrativas, o uso excessivo destas atividades em frente à tela estão associadas ao excesso de peso corporal e aumento da pressão arterial. Ao menos em meninas de 14 a 19, avaliadas no doutorado da educadora física Karina Lúcia Ribeiro Canabrava.
Em sua tese, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG, Karina avalia os padrões comportamentais das adolescentes, considerando o tempo em atividades sentadas, em atividades físicas e de sono. A integração destes comportamentos na avaliação é inovadora, já que “a literatura avalia os comportamentos sedentários, como assistir televisão, usar computador ou usar transporte motorizado, de forma independente em relação à saúde”.
Karina explica que todas as atividades do dia são importantes, porque há casos em que o indivíduo substitui as horas de atividade física ou de sono pelas atividades sedentárias, bem como pode ter muitas horas destas atividades e ainda praticar muita atividade física de intensidade moderada à vigorosa. “Avaliando apenas um comportamento, não consigo perceber o quanto um substitui o outro”, pontua.
De acordo com a educadora física, seu estudo destaca os efeitos benéficos da combinação da redução dos comportamentos sedentários com o aumento de atividade física de intensidade moderada à vigorosa e das atividades físicas de intensidade leve. Esta integração mostrou resultados benéficos para redução da adiposidade e fatores de risco cardiovascular entre as adolescentes do sexo feminino na faixa etária de 14 a 19 anos.
“A área de estudos sobre o comportamento sedentário ainda é muito nova. Recentemente, a literatura internacional tem começado a apontar que atividades leves podem trazer benefício para a saúde, já que podem substituir o tempo sentado”, explica. Assim, atividades do dia a dia, como o ato de cozinhar ou passear com o cachorro, por exemplo, já remete a algum benefício em relação às pessoas que ficam sentadas todo o tempo. “Recomenda-se interrupções, o que chamamos de break, já que a literatura tem apontado que o elevado tempo contínuo sentado tem relação de forma negativa com a saúde”, continua.
Identificação de padrões comportamentais
Para seu estudo, Karina Lúcia selecionou 405 adolescentes com idade entre 14 e 19 anos, do sexo feminino, estudantes de duas escolas municipais de Viçosa-MG. Ela explica que, na literatura, as meninas têm prevalência de comportamentos sedentários além de serem mais fisicamente inativas. Ou seja, ficam maior tempo sentadas e têm menor engajamento com atividades físicas.
“Em termos metodológicos, selecionamos as meninas dessa faixa etária também pela facilidade de determinar o período de maturação sexual através da menarca”, conta a educadora física. “Desta forma, um dos fatores de inclusão foi a menarca ter ocorrido há pelo menos um ano, para evitar que tivesse diferentes idades maturacionais, o que influenciaria nas avaliações realizadas”, completa.
Após assinar um termo de participação voluntária, as adolescentes foram submetidas a uma série de exames para avaliar pressão arterial, excesso de peso e de gordura (tanto total, quanto abdominal), IMC, além do colesterol total, HDL, resistência insulínica, entre outros. Elas também receberam questionários para serem preenchidos por uma semana, o qual funcionava como um diário, informando as atividades feitas durante as 24 horas do dia. O preenchimento era feito com o código referente à atividade predominantemente realizada a cada 15 minutos. Além disso, receberam um pedômetro para quantificação do número de passos por dia.
“Nós identificamos quatro tipos de padrões na população avaliada: o de sono elevado; o sedentário, que tinham maior tempo em atividades sedentárias e reduzido tempo de sono; o fisicamente ativo, com maior tempo de realização de atividade física moderada a vigorosa; e o padrão levemente ativo com redução do comportamento sedentário e maior tempo em atividades de intensidade leve”, informa Karina. Após, ela relacionou os padrões aos resultados dos exames para identificar se determinado padrão remetia a melhor ou pior saúde.
Diminuir comportamentos sedentários e aumentar atividades físicas traz saúde
“Identificamos que o comportamento sedentário baseado no tempo de tela (uso de computador, videogame e televisão) foi associado ao excesso de peso corporal. O uso de celular e tablets foi associado com excesso de gordura abdominal. E o uso de computador e videogame teve relação com aumento da pressão arterial”, relata. Ou seja, maior tempo em atividades sentadas com o uso de equipamentos de tela tem associação com a prevalência de alterações negativas na saúde.
Além disso, quando associado aos comportamentos sedentários, as adolescentes com menor número de passos tinham maior chance de excesso de peso corporal, e as com menor tempo de atividade física moderada à vigorosa tinham maior chance do aumento da pressão arterial. Quando levou em conta todas as atividades do dia, incluindo as horas de sono, Karina afirma que o padrão fisicamente ativo foi o que apresentou menor pressão arterial alterada, identificando o beneficio das atividades de intensidade moderada a vigorosa, o que vai ao encontro das recomendações.
“Mas, também identificamos que aquelas que estavam no padrão levemente ativo não apresentaram diferença do padrão fisicamente ativo em relação ao excesso de peso. O que aponta que as atividades físicas leves também podem ter uma contribuição ao substituir comportamentos sedentários”, destaca Karina.
Ela ainda verificou que apenas 1,7% das adolescentes cumpriram as recomendações internacionais quanto à duração do sono, do tempo de tela e o número de passos. “De forma isolada, a recomendação do sono (oito a dez horas por noite) foi a mais cumprida, seguida pelo tempo de tela (até duas horas) e, por ultimo, as atividades físicas (pelo menos 11.700 passos por dia)”, comenta. De acordo com Karina, quem não cumpre nenhuma das recomendações tem maior chance de excesso de peso corporal e obesidade abdominal em relação aquelas que cumprem pelo menos duas das recomendações.
“As atividades físicas moderadas e vigorosas continuam sendo uma meta desejada para benefícios a saúde. No entanto, a diminuição de comportamentos sedentários, ainda que com atividades de leve intensidade, as quais são mais fáceis de serem executadas, junto de uma adequada duração de sono, é possível alcançar maiores benefícios para a saúde”, ressalta. Ela defende que, ainda que não sejam as melhores, as atividades leves são alternativas para o início das mudanças comportamentais e exemplifica formas de substituição e diminuição da durabilidade de comportamentos sedentários. Passear com cachorro e ficar mais em pé são alguns exemplos, que podem facilitar o alcance futuro das recomendações de pelo menos 60 minutos de atividades moderadas a vigorosas.
“A ideia é equilibrar os três comportamentos, já que um influencia no outro. Se diminui as horas de comportamento sedentário, esse tempo deverá ser substituído por atividades físicas. Se a pessoa gosta de videogame, por exemplo, é recomendado que seja os mais ativos como x-box Kinect”, enfatiza. “E, quando possível, fazer as pausas para levantar, interrompendo uma continuidade longa de atividades sentadas, intercalando com comportamentos mais ativos, por exemplo, pequenas caminhadas para pegar água, ir ao banheiro, etc.”, completa.
A pesquisa da Karina faz parte de um estudo maior do Departamento de Nutrição da Universidade de Viçosa, coordenado pela professora Silvia Eloiza Priore, tendo a participação da orientadora da tese, professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG, Sylvia do Carmo Castro Franceschini. Todos os estudos analisaram o mesmo público, com objetivos diferentes na perspectiva dos comportamentos e saúde das adolescentes. O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Nome do trabalho: Padrões de comportamento sedentário e atividade física: o efeito combinado associado aos fatores de risco cardiovascular em adolescentes do sexo feminino
Autora: Karina Lúcia Ribeiro Canabrava
Nível: Doutorado
Programa: Saúde da Criança e do Adolescente
Orientadora: Sylvia do Carmo Castro Franceschini
Coorientador: Paulo Roberto dos Santos Amorim
Data da defesa: 10 de julho de 2017