Aumento de casos da variante ômicron pode intensificar cenário de Síndrome pós-Covid

Condição pode ser desenvolvida após fase aguda da infecção


14 de fevereiro de 2022 - , , , , , , ,


*Maria Beatriz Aquino

Mais de 70% da população brasileira está vacinada com duas doses ou com o imunizante de dose única contra a covid-19. No entanto, a alta transmissibilidade da variante ômicron tem aumentado a taxa de ocupação dos leitos hospitalares do país. Esse cenário pode refletir em um futuro instável aos infectados pelo vírus, já que meses após a contaminação e fase aguda da doença essas pessoas podem desenvolver o que a medicina reconhece como Síndrome pós-Covid (SPC).

Essa questão já foi levantada pelos pesquisadores, que acreditam que quanto mais pessoas forem expostas à cepa, maior a probabilidade de desenvolverem a condição. O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Arnaldo Santos Leite, tem estudado o assunto e explica que existem etapas nesse processo. Primeiramente, acontece a fase aguda da doença, que pode permanecer com sintomas por até quatro semanas. Depois desse período, já é considerado Síndrome pós-Covid, com sintomas persistentes por mais tempo.

 “Na fase aguda a gente vai ter o paciente com febre, dor de garganta, tosse, esses sintomas habituais de quadro gripal. Dali, já pode surgir sintomas sistêmicos, como alteração do sono, dificuldade de memória e fadiga”, exemplifica.

Outros sintomas mais específicos da síndrome também podem se revelar, como os da área cognitiva e, principalmente, neurológica. “Então: a perda da capacidade de concentração, ansiedade, dificuldade de encontrar palavras quando vai relatar algo e, até, não lembrar nomes”, detalha o especialista.

Embora a gravidade dos sintomas seja importante para determinar o desenvolvimento da SPC, pacientes que tiveram apenas manifestações leves da doença também correm risco. Já os casos assintomáticos são um desafio para o diagnóstico da síndrome, pois muitas vezes não são testados. Mas, até mesmo nesses casos, é possível desenvolver essa condição.

O professor ressalta que alguns grupos específicos estão mais vulneráveis aos sintomas persistentes. Entre eles, estão os pacientes com comorbidades – como hipertensão e diabetes – doenças autoimunes ou relacionadas ao colágeno, além da população idosa.

Cuidados e tratamentos

Alguns sintomas comuns à covid podem se assemelhar tanto com a fase aguda da doença quanto com a síndrome, como fadiga, falta de ar e tosse. Por causar incômodos nos pacientes, o especialista indica algumas práticas para reduzir os sintomas e ter uma melhor recuperação, como a adoção de hábitos de vida saudáveis, evitar o tabagismo e o consumo bebida alcoólica.

“Eventualmente, pode ser necessário o uso de algum medicamento. Porém, cada caso deve ser tratado individualmente para verificar se a pessoa tem possibilidade ou capacidade de receber a medicação”, pondera Arnaldo Santos Leite.

Para casos mais graves da Síndrome pós-Covid, a recomendação é para que sejam feitas sessões de reabilitação. Também pode ser preciso realizar treinamento em terapias ocupacionais e fisioterapias para recuperar esses habilidades perdidas. Mas, em geral, a recuperação dos sintomas ocorre de maneira natural.

E para quem ainda fica em dúvida sobre qual unidade buscar ajuda, o professor orienta a ir no posto de saúde mais perto. Já nos casos em que os sintomas são leves, a recomendação é aguardar a melhora natural do quadro, o que pode acontecer em poucos dias. Assim, evita-se a sobrecarga do sistema de saúde, já que as demandas recebidas nos postos de saúde serão divididas entre os hospitais e as unidades básicas de saúde. 

Saiba Mais

Confira ainda neste programa do “Saúde com Ciência”, como a Síndrome pós-Covid pode impactar o sistema de saúde e  a importância do retorno à vida ativa em casos leves da infecção.

Saúde com Ciência”  é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

Maria Beatriz Aquino – estagiária de Jornalismo
Edição: Karla Scarmigliat