Bancos de sangue têm estoque reduzido neste início de ano

Nova série do Saúde com Ciência dedicada ao tema investiga situação atual dos bancos de sangue no estado e assuntos relacionados à doação


09 de fevereiro de 2018


Nova série do Saúde com Ciência dedicada ao tema investiga situação atual dos bancos de sangue no estado e assuntos relacionados à doação

Marcos Paulo Rodrigues*

A doação de sangue é uma ação voluntária, anônima e altruísta. Para cada doador, até quatro vidas podem ser beneficiadas. Manter o estoque dos bancos de sangue em níveis razoáveis para o atendimento da população depende de cada cidadão apto ao procedimento. E, neste início de ano e Carnaval, os bancos de sangue passam por um período crítico, com baixas no estoque principalmente dos tipos O e AB negativos.

Este é um período no qual as pessoas costumam viajar, influenciando nos níveis dos bancos de sangue pelo país, já que o número de doações tende a diminuir. “As pessoas vão viajar, estão se divertindo, pulando carnaval, mas não doam sangue. Com o alto número de viagens, a demanda aumenta e a gente passa aperto para a manutenção do estoque de sangue”, diz a responsável pela gerência de captação e cadastro da Fundação Hemominas, Heloísa Gontijo.

Em Minas Gerais, os níveis dos tipos sanguíneos O negativo e AB negativo são os que mais preocupam, mas Heloísa também reforça a necessidade da participação de doadores dos tipos O positivo e de qualquer grupo de fator RH negativo. Quando uma pessoa chega a um hospital em estado grave e não há tempo de fazer sua classificação sanguínea, é utilizado o tipo O negativo, conhecido como “doador universal”, para repor a perda de sangue.

Fonte: hemominas.mg.gov.br

A prevalência desse tipo sanguíneo na população, porém, é de apenas 5,5%, contribuindo para sua baixa nos estoques dos bancos de sangue.  “A gente não usa o ‘O negativo’ somente para essa parcela da população. O número já é baixo e nós precisamos usar para além dela”, resume a profissional do Hemominas.

Ao agendar uma doação, o indivíduo também contribui para um fluxo constante de doadores, necessário para a manutenção dos níveis dos bancos de sangue e uso dos pacientes. Cada parte do sangue exige uma forma de armazenagem e tem um período de duração, por isso a importância desse fluxo. “Tem uma parte do sangue, as plaquetas, que duram de três a cinco dias, no máximo. O desafio, então, é manter um fluxo constante de doadores”, afirma Heloísa Gontijo.

Foto: Rodrigo Nunes | Flickr Ministério da Saúde

Quantidade e qualidade

É recomendável que pelo menos 3% da população seja doadora, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, de 1,2 a 1,5% da população doa sangue, o que qualitativamente não é o ideal. O número de doadores não é, portanto, o único fator relevante – é importante também ter doadores qualificados, que estejam aptos à doação.

A professora do Departamento de Propedêutica da Faculdade de Medicina e chefe da Unidade Transfusional do Hospital das Clínicas da UFMG, Fabiana Piassi, observa que, para doar, a pessoa deve apresentar boa saúde e não ter sido exposta a situações de risco, fazendo uma pré-avaliação da sua condição. “Nós precisamos pensar em qualificar nossos doadores e não somente quantificar, fazer com que as pessoas doem na necessidade, mas que estejam qualificados e tenham consciência dos critérios de doação”, pondera.

Ação de inconstitucionalidade

Atualmente, duas normas restringem a doação de sangue no país por homens que tenham feito sexo com outros homens, uma do Ministério da Saúde (MS) e outra da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essas pessoas podem doar somente 12 meses após o último ato sexual, mesmo com a prevenção adequada. Em outubro do ano passado, foi à julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) a Ação Direta de Inconstitucionalidade 5543, na qual foram questionadas as normas do MS e da Anvisa. O julgamento está suspenso.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Marcos Paulo Rodrigues – estagiário de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues