Burnout não é cansaço


09 de janeiro de 2015


  *Matéria publicada na edição 42 do Saúde Informa

Pesquisa em hospital de Belo Horizonte investiga fatores que levam ao esgotamento profissional em profissionais de saúde.

infografico_SI42Fisioterapeuta há três anos na sala de emergência do pronto socorro do Hospital Municipal Odilon Behrens, Luiz Júnior da Rocha pesquisou o esgotamento profissional, também denominado Síndrome de Burnout, em dissertação defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG.

“O trabalho em um hospital pode ser bastante estressante, e decidi conhecer melhor os fatores de esgotamento dos trabalhadores de saúde”, explica o autor da pesquisa. Segundo Luiz, os dois setores com o maior número de afastamentos por licença médica no hospital, entre janeiro de 2012 e dezembro de 2013, foram o Centro de Terapia Intensiva (CTI) pós-operatório e a Sala de Emergência. Deles, foram selecionados 92 profissionais, entre médicos, fisioterapeutas e enfermeiros, de equipes de plantões e jornadas diferentes. “Os profissionais responderam a questionários autoaplicáveis, para percepção da exaustão emocional, afastamento social (despersonalização) e realização profissional”, expõe.

Causas e consequências
O adoecimento psíquico de profissionais de saúde afeta desde a vida do indivíduo à instituição e pacientes. Situações como sobrecarga de trabalho, normas rígidas de funcionamento e ter que lidar com o sofrimento do outro, no caso do ambiente hospitalar, podem levar a um grau de estresse muito grande.

“Além disso, as condições de trabalho precárias na saúde, com falta de funcionários e equipamentos, e demandas cada vez maiores, podem favorecer a violência no trabalho por parte dos usuários e dos profissionais”, ressalta o pesquisador.

A partir de pequenos sinais (veja ilustração), podem ser desenvolvidos quadros como depressão, distúrbio do sono e hipertensão arterial, com redução na eficiência e motivação profissional.

É possível que o paciente sofra fisicamente com a doença, com dores de cabeça, palpitação e dores musculares, por exemplo, como consequência a situações adversas e emocionalmente exigentes por períodos prolongados, destaca. Segundo o pesquisador, o esgotamento profissional é muito confundido. “As pessoas acham que é cansaço. A doença psíquica tem essa dificuldade de identificação”, conta.

Resultados
A maior presença de exaustão emocional e esgotamento profissional foi identificada entre os enfermeiros e no setor de terapia intensiva. Entre os pedidos de afastamento dos funcionários, 26% das ocorrências foram em virtude de transtornos mentais e comportamentais que atingem cerca de 40% dos trabalhadores, como a depressão.

Profissionais atuantes no CTI contavam menos tempo de serviço no hospital e mostraram maior intenção de abandonar a profissão. “As mulheres foram as que mais demonstraram sofrer esgotamento, principalmente nas equipes de enfermagem, em que são maioria”, conta Luiz. Segundo ele, isso pode ser explicado pelo acúmulo de funções assistenciais e administrativas que a equipe de enfermagem tem.

Outro fator percebido na pesquisa foi a despersonalização, predominante entre os médicos do hospital. “Eles demonstraram afastamento do próximo, paciente e colega de trabalho”, explica.

Muitos dos funcionários, cerca de 70%, trabalhavam em outra instituição, e 65,9% pensavam em abandonar a profissão.

É preciso prevenir
Para o pesquisador, desenvolver políticas públicas voltadas para saúde do trabalhador pode ser o primeiro passo na prevenção do esgotamento dos profissionais de saúde.

A qualidade de vida também é essencial, como dormir e alimentar-se bem. Além disso, a prática de exercícios físicos pode propiciar um efeito tranquilizante e revigorar as energias.

Outra medida seria identificar precocemente os fatores de insatisfação e outros que podem levar ao esgotamento profissional. “A utilização de questionários autoaplicáveis nos exames médicos periódicos do hospital, por exemplo, pode facilitar a identificação de um problema inicial e potencializar uma ação preventiva de adoecimento relacionado ao trabalho”, conclui.

Título: “Síndrome do esgotamento profissional, e satisfação com o trabalho em profissionais de saúde de um hospital público”
Nível: Mestrado
Autor: Luiz Júnior da Rocha
Orientadora: Eliane Costa Dias Macedo Gontijo
Coorientadora: Maria da Conceição Juste Werneck Cortes
Programa: Promoção da Saúde e Prevenção da Violência
Defesa: 29 de julho de 2014