Capacitação na atenção básica e o cuidado na doença falciforme


08 de junho de 2015


A doença falciforme em Minas Gerais tem incidência de 1:1.400 em recém-nascidos e constitui problema de saúde pública. O atendimento no nível primário de saúde é primordial e pouco avaliado em todo o mundo. “Programas de capacitação para profissionais da atenção primária são essenciais para que haja qualidade no cuidado integral aos pacientes”, alerta a autora da tese defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG, Ludmila Mourão Xavier Gomes.

Segundo Ludmila, o objetivo da pesquisa foi avaliar a efetividade de uma intervenção educacional para agentes comunitários de saúde e técnicos de enfermagem sobre o cuidado e acompanhamento da pessoa com doença falciforme na atenção primária. Para ela, a intervenção se mostrou importante porque há uma lacuna na literatura sobre a capacitação de profissionais da atenção primária acerca do cuidado e acompanhamento da pessoa com doença falciforme. “Na literatura nacional não há estudos que abordem treinamento e capacitação em doença falciforme para profissionais de qualquer nível de atenção à saúde. Nas publicações internacionais, há experiências incipientes de intervenções educacionais, sendo que apenas duas foram direcionadas aos profissionais da atenção primária, mas o enfoque foi para a triagem neonatal.”

A intervenção e capacitação ocorreu nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Estratégia de Saúde da Família em três municípios do norte de Minas Gerais, Montes Claros, Janaúba e Pirapora, que possuíam pessoas com doença falciforme na área de abrangência. Participaram ao todo 188 profissionais da atenção primária. “Foram utilizadas metodologias ativas por meio de oficinas com carga horária de 40 horas. A avaliação da intervenção foi realizada por meio de pré e pós-testes de conhecimento que abordavam questões epidemiológicas, clínicas e de manejo da pessoa com doença falciforme”, afirma Ludmila.

Questionários e resultados
Em Montes Claros, o estudo contou com grupo controle. Antes e após a capacitação foram aplicados questionários para avaliação do conhecimento. Os 82 profissionais que participaram da capacitação foram comparados com o grupo controle, que não recebeu orientações sobre a doença falciforme até o momento dos testes. Com o objetivo de observar as mudanças ocorridas no cotidiano de trabalho dos profissionais após a intervenção, foi realizado também um grupo focal com os agentes comunitários de saúde que participaram da intervenção e possuíam pessoas com doença falciforme em sua microárea de atuação.

Após o teste, foi feita a análise dos dados que mostrou que os profissionais pertencentes ao grupo intervenção apresentaram diferença entre o pós-teste e o pré-teste 8,7 vezes mais elevada que o grupo controle.

Segundo a autora, após a intervenção educacional de capacitação observou-se mudanças na prática assistencial dos agentes comunitários de saúde, a priorização do atendimento às pessoas com doença falciforme na unidade de saúde, além de vigilância para os sinais de alerta. Também foi possível notar modificações na estrutura das visitas domiciliares, com a adoção do roteiro disponibilizado na intervenção educacional, especificamente direcionado à pessoa com a doença. “A intervenção educativa se mostrou efetiva, pois houve aumento do conhecimento dos profissionais sobre o cuidado e acompanhamento da pessoa com doença falciforme na atenção primária. Na percepção dos profissionais, a capacitação proporcionou mudanças no processo de trabalho. Os resultados devem estimular novas atividades educativas que promovam o aumento do conhecimento dos profissionais de saúde”, conclui.

Título: Avaliação da efetividade de uma intervenção educativa no conhecimento de profissionais da atenção primária à saúde que acompanham pessoas com doença falciforme
Nível: Doutorado
Autora: Ludmila Mourão Xavier Gomes
Programa: Saúde da Criança e do Adolescente
Orientador: Marcos Borato Viana
Coorientadores: Heloísa de Carvalho Torres e Antônio Prates Caldeira
Defesa: 26 de fevereiro de 2015