Centro sediado na UFMG vai promover pesquisa sobre inteligência artificial aplicada à saúde

Nova estrutura, resultado de múltiplas parcerias, foi apresentada na Faculdade de Medicina


10 de novembro de 2022 - , , ,


Virgílio Almeida apresentou as linhas de pesquisa do CIIA-Saúde
Virgílio Almeida apresentou as linhas de pesquisa do CIIA-Saúde. Foto: Raphaella Dias | UFMG

O enorme desafio de ampliar e aperfeiçoar o atendimento à saúde no Brasil é uma das motivações para a criação do Centro de Inovação em Inteligência Artificial em Saúde (CIIA-Saúde), que vai funcionar em cinco instituições de pesquisa brasileiras. A UFMG apresentou sua unidade em evento na tarde desta quarta, 9, na Faculdade de Medicina, que também marcou o início de suas atividades científicas.

Fernando Reis
Fernando Reis: “mãos dadas”. Foto: Raphaella Dias | UFMG

Além de pesquisa e desenvolvimento para a criação de protótipos e start-ups, o Centro vai transferir tecnologia e conhecimento para o mercado e formar pessoas para atuação na integração entre áreas como ciência da computação, medicina, engenharia e ciências biológicas.

O CIIA-Saúde é fruto de uma Aliança Estratégica (modalidade de parceria que tem unido universidades e a iniciativa privada) com a Unimed-BH e conta com o apoio da Fapesp e do governo do estado, por meio da Fapemig. Integram também o projeto as empresas Intel, Splice e Kunuma. 

“Estamos trabalhando de mãos dadas com o setor privado, visando contribuir para melhorar o atendimento à saúde da população”

Disse o pró-reitor de Pesquisa da UFMG e professor da Faculdade de Medicina, Fernando Reis.

O diretor-presidente da Unimed, Frederico Peret, afirmou que aquele era um “momento histórico” e que o Centro é mais uma iniciativa de valorização, por parte da cooperativa, da “inovação que gera benefícios para todos”.

Alamanda Kfoury, diretora da Faculdade de Medicina, ressaltou que o encontro expressava “o que é a UFMG, a relevância da Universidade para Minas Gerais e para o Brasil”. O subsecretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Felipe Atiê, destacou a pesquisa feita na UFMG nas áreas de ciência da computação e saúde e afirmou que o governo do estado confia no projeto para “ajudar a resolver o problema da saúde pública”. Camila Ribeiro, diretora de Planejamento e Finanças da Fapemig, classificou o CIIA-Saúde como um “arranjo inovador”, que envolve instituições e empresas de diversas partes do Brasil.

Qualidade de vida e medicina personalizada

A oportunidade de criação do CIIA-Saúde na UFMG foi gerada por edital lançado pela Fapesp. O trabalho é multidisciplinar e multi-institucional, como salientou o professor emérito da UFMG Virgílio Almeida, responsável pela vertente acadêmica no comitê executivo do Centro. Os eixos principais na busca por inovação são prevenção e qualidade de vida, diagnóstico e rastreamento, medicina terapêutica e personalizada, gestão de sistemas de saúde e epidemias e acidentes.

Virgílio:
Virgílio: tecnologia estratégica. Foto: Raphaella Dias | UFMG

“A Inteligência Artificial é uma tecnologia estratégica e está no centro das preocupações de todos os países. E temos que estar cientes de que nem sempre uma tecnologia desenvolvida fora do Brasil será capaz de funcionar para uma população de 220 milhões de pessoas”, enfatizou Virgílio, ao justificar a importância da pesquisa e do desenvolvimento em IA e saúde nas instituições brasileiras.

O professor, que é vinculado ao Departamento de Ciência da Computação do ICEx, mencionou a participação do governo do estado, desde o início, e da Unimed – além dos recursos financeiros, segundo ele, a cooperativa dispõe de dados e conhecimento sobre os problemas de saúde que serão fundamentais para o CIAA. Chamada publicada em agosto deste ano atraiu 19 projetos candidatos ao apoio do Centro.

Foram apresentados dois empreendimentos de pesquisa na área da saúde que recorreram à inteligência artificial. A professora Gabriela Miana, da Faculdade de Medicina, fez exposição sobre estudo transdisciplinar em que a IA ajudou a identificar a idade eletrocardiográfica de pacientes, associada a maior ou menor risco de eventos e mortalidade. Pedro Alzamora, graduado em Ciência da Computação e doutorando na Faculdade de Letras, mostrou projeto que resultou numa plataforma de coleta, enriquecimento, modelagem e análise de dados sobre a covid-19 oriundos de fontes diversas.

Integrantes do Centro apresentaram brevemente a face educativa e de divulgação científica da iniciativa. O objetivo central é despertar em estudantes, pesquisadores e profissionais de saúde o interesse pela aplicação da IA, com ênfase na responsabilidade e na ética. O CIIA conta com uma plataforma de cursos e utiliza também as redes sociais para divulgar suas atividades e abordar temas relacionados ao objeto amplo da nova estrutura.

Confiança no agente artificial

Dispositivos tecnológicos devem apoiar a relação de confiança que é crucial no cuidado de um enfermeiro ou médico com a saúde do paciente. E essa confiança nos dispositivos deve ser crítica, ou seja, o paciente deve considerar suas próprias vulnerabilidades e também as da tecnologia”, afirmou a professora italiana Laura Candiotto, da Universidade de Pardubice, na República Tcheca. Ela fez uma exposição sobre ética na utilização da tecnologia em saúde.

Filósofa especializada em emoções e tecnologia, Laura pesquisa interações on-line e dispositivos tecnológicos assistivos que lançam mão da Inteligência Artificial. Ela usou o exemplo de pessoas com deficiências, tópico de algumas de suas pesquisas. “Essas pessoas têm uma relação estreita com seus dispositivos. É mais que algo instrumental, os agentes artificiais são veículos de cognição e ajudam a mente a alargar os limites do corpo, que passa a externalizar processos e conteúdos mentais”, afirmou a professora.

Laura Candiotto define os dispositivos como “tecnologias de acesso”, na medida em que criam possibilidades de as pessoas se abrirem para o mundo. Ela citou também a dimensão afetiva desse processo. “Não há dualismo entre a integração cognitiva e a dimensão afetiva. A integração é plena, o usuário experimenta o mundo através dela”, salientou.

A pesquisadora afirmou que a confiança da pessoa no dispositivo tecnológico é responsável por tornar esse dispositivo transparente e que confiança não pode se apoiar apenas no que funcionou bem no passado. “A integração plena do usuário com a tecnologia assistiva depende de uma disposição orientada para o futuro”, concluiu Laura Candiotto.

Leia também: Evento marca início das atividades científicas do Centro de Inovação em Inteligência Artificial para a Saúde da UFMG.


(Itamar Rigueira Jr./ Centro de Comunicação da UFMG)