Combate à violência envolve homens e mulheres
21 de novembro de 2013
Notícia publicada no Saúde Informa
Considerar o homem como inimigo no combate à violência contra a mulher é um erro, defende professora
Atos de violência contra a mulher costumam ser tratados como casos de polícia. No entanto, a área da saúde também tem importância no tratamento e na prevenção desses casos. Os profissionais da saúde, responsáveis por acolher e tratar as feridas físicas e mentais das vítimas, são fundamentais na prevenção de futuros atos de violência. “A saúde inteira tem esse papel, mas a atenção primária está cravada onde as pessoas estão vivendo”, afirma a coordenadora do Núcleo Saúde e Paz da Faculdade de Medicina da UFMG, Elza Melo, também à frente do Projeto de Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência, financiado pelo Ministério da Saúde.
O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não conta com uma rede de atenção preparada para atender mulheres em situação de violência com humanização. “A mulher chega violentada, receosa, com medo de falar e muitas vezes encontra profissionais que não acolhem ou que não estão preparados, pois não tiveram formação para isso”, afirma Elza Melo.
Mas existem experiências que possibilitam centralizar o atendimento, evitando que a mulher tenha que repetir a história da agressão em todos os lugares por onde passaria. Locais que oferecem atendimento integrado às mulheres vítimas de violência, chamados de cadeias de custódia, já são encontrados nos estados de Minas Gerais e São Paulo e contam com equipes multiprofissionais, formadas por médicos, psicólogos, policiais, dentre outros.
Por elas e por eles
A abordagem integrada no atendimento à mulher vítima de violência é promovida pelo Projeto de Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência, lançado em fevereiro de 2013 na UFMG, com o Seminário Para elas, por elas, por eles, por nós. A capacitação de profissionais de referência no atendimento às vítimas é a estrutura central do projeto, por meio de cursos e seminários em todo o país.
O objetivo é formar profissionais humanizados, capazes de receber e acolher as mulheres de modo em que elas se sintam seguras para procurar ajuda e denunciar os casos – o que não acontece na maioria das vezes, já que apenas cerca de um terço das mulheres denuncia atos de violência sofridos.
O projeto também realiza treinamentos em hospitais para o atendimento de vítimas de violência sexual. “Muitas vezes temos preconceito contra a vítima e contra o agressor, e a saúde deveria atender as pessoas para entender o que está acontecendo, escutar, participar de soluções. Além de curar a ferida, dar o remédio, ela também tem esse papel da reconstrução do sujeito”, defende a professora Elza Melo.
Lei Maria da Penha
Apesar da criação da Lei Maria da Penha, em 2006, não houve uma redução significativa dos casos de violência contra a mulher no país. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no período de 2001 a 2006, anterior à lei, as taxas de mortalidade eram de 5,28 por 100 mil mulheres; de 2007 a 2011, depois da lei, a taxa registrada foi de 5,22 mortes para cada 100 mil mulheres.
Na opinião da professora Elza Melo, apesar da tentativa de proteção das mulheres com uma lei que as ampare de atos de violência, o erro consiste em manter uma postura opositora entre homem e mulher. “O homem é decisivo e nós não podemos trabalhar na perspectiva de que um seja inimigo do outro, eles são complementares, são parceiros, são pai e filha, são mãe e filho”, alerta. Ainda segundo a professora, por isso é tão doloroso para as mulheres notificarem casos de violência: “tanto o homem quanto a mulher querem voltar para o seu habitat”, completa.
Fortalecer relações
O caminho defendido por Elza Melo é apostar no fortalecimento das relações humanas. Segundo ela, a violência brota de relações enfraquecidas pela individualidade e da fragilidade dos laços afetivos. “Briga-se por tudo, a nossa sociedade é a do individualismo possessivo. Eu cuido de mim, eu escolho o melhor para mim e não quero saber do outro”.
Assim, a mobilização dos setores deve ser feita em conjunto com uma conscientização social. “A luta contra a violência é de todos, da sociedade, dos profissionais, das mulheres, dos homens”.
Leia também – Entrevista: Elza Machado de Melo