Como são avaliados os cursos de Medicina?

No dia 11 de abril, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) divulgou os resultados mais recentes do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), aplicado em 2023. A Faculdade de Medicina da UFMG teve motivos para comemorar: seus três cursos avaliados — Medicina, Fonoaudiologia e Radiologia — conquistaram nota máxima, refletindo a excelência do ensino oferecido pela instituição.

Por outro lado, algumas notícias circularam na imprensa destacando que apenas seis cursos de Medicina do país alcançaram nota máxima em outro indicador, o Conceito Preliminar de Curso (CPC). Este indicador combina o resultado do Enade com outros critérios, como a titulação do corpo docente, infraestrutura e o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD).

Para explicar como essas avaliações funcionam, o podcast “Saúde com Ciência” recebeu a professora Cristina Alvim, pediatra, vice-diretora da Faculdade de Medicina da UFMG e especialista em ensino médico. No episódio, gravado no dia 16 de abril, ela detalha os indicadores usados pelo INEP, discute desafios do sistema e propõe caminhos para uma avaliação mais profunda da qualidade do ensino superior em Medicina no Brasil.

Esse episódio foi gravado antes do MEC anunciar a criação do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (EnaMED), que será realizado anualmente e unificará as matrizes de referência e os instrumentos de avaliação do Enade para os cursos de Medicina e da prova de acesso direto do Exame Nacional de Residência (Enare).

Para saber mais sobre o EnaMED, acesse o site do MEC.

Durante a conversa, a professora Cristina Alvim explicou que o Enade é um exame bem produzido e que avalia os conhecimentos gerais e específicos dos concluintes. Já o IDD (que na prática é uma relação entre a nota do Enem e do Enade) tem peso excessivo na composição do CPC (35%), enquanto o conceito Enade é de apenas 20%. “A ideia original do IDD é interessante, porém ela simplifica a realidade resumindo o valor agregado pela instituição ao estudante à simples relação entre a nota do Enem e a nota do Enade”, explica. 

Entre outros vieses no cálculo do IDD, os estudantes se preparam para o Enem como uma forma de acesso para o ensino superior gratuito, enquanto o Enade não oferece nenhum benefício ou prejuízo específico para o aluno que o realiza. Para cursos com nota de corte muito alta, como os de Medicina das universidades federais, o IDD geralmente sugere que a instituição não agregou nada à formação do estudante, mesmo que eles conquistem um conceito Enade 5.

Os dados da avaliação são abertos. Com base neles, a Faculdade de Medicina da UFMG compilou dados sobre os cursos de Medicina públicos e não-públicos. Os números apontam um efeito de convergência de todas as instituições no CPC, devido ao alto peso do IDD em sua composição (apesar das públicas serem mais numerosas entre as de maiores notas). “Fica todo mundo mais ou menos igual. Isso não é interessante nem para a avaliação externa, nem para a autoavaliação que as instituições precisam fazer”, aponta a professora.

A sociedade pode entender esses indicadores de forma equivocada. “Precisamos compreender e passar uma mensagem mais responsável e coerente com a realidade observada”, pontua. A sugestão da vice-diretora é que a divulgação da avaliação considere interpretações mais completas do que apenas os números.

O episódio “Como são avaliados os cursos de Medicina” está disponível nas principais plataformas de streaming e faz parte do projeto Saúde com Ciência, uma produção do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

Ouça a íntegra:

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