Confundida com alergia no início, zika ainda é desconhecida
02 de junho de 2016
Segundo pesquisadora, é necessário realizar mais testes e debates sobre a doença

Débora Diniz esclareceu as dúvidas a respeito das epidemias na saúde nacional e global. Foto: Carol Morena
Em debate feito no dia 25 de maio, na Faculdade de Medicina da UFMG, a antropóloga e professora da Universidade de Brasília (UNB), Débora Diniz, esclareceu as dúvidas a respeito das epidemias na saúde nacional e global. “No começo, a zika era outra doença para os médicos, então insistiam em fazer um exame para saber se havia inflamação. A população também achava que era apenas uma alergia com manchas na pele”, contou.
Segundo Débora, os sintomas da zika apareceram no Brasil, especificamente no Rio Grande do Norte, três meses após o término da Copa do Mundo realizada no país, em 2014. Porém, para os médicos da região, tratava-se de alergia. Só quando o médico Rúbio Soares chegou à Bahia e realizou testes sanguíneos é que se comprovou o envolvimento de outra doença nos casos e, então, descobriu-se a zika.
“Nós estamos falando muito pouco sobre zika no cenário nacional. Em fevereiro era manchete todos os dias, mas depois não falamos mais. Talvez porque o chikungunya é o vírus da vez”, lembrou Débora.
A dificuldade de identificação da microcefalia
O primeiro procedimento que deve ser tomado ao identificar a síndrome neurológica ao zika, ou microcefalia, é uma medição de um perímetro encefálico. “O Brasil enfrenta uma subnotificação da microcefalia. Essa é uma acusação global e dentro do debate brasileiro”, apontou a antropóloga.
Segundo a Débora, há uma ineficiência da saúde pública no Brasil. Apesar das 7000 crianças identificadas com microcefalia, não se sabe exatamente quantas são após adoção das normas da OMS, a qual reduziu o parâmetro do perímetro cefálico para a doença. Também não se sabe quantos estão em busca ativa, já que os exames não têm o teste clínico sanguíneo.
“O diagnóstico primário da microcefalia é um dos sinais obrigatórios da síndrome. Mas, hoje sabemos que nós temos crianças que desenvolvem um sinal neurológico e nasceram com o perímetro encefálico dentro do padrão”, discorre Débora.
Desconhecimento faz necessário discutir mais sobre a doença
De acordo com Débora, as epidemias têm importantes pontos a serem debatidos: as mulheres adoentadas e os médicos como autoridades daquilo que desconhecem. “É um problema na saúde pública, onde os livros não podem te antecipar o que acontecerá. É preciso reconhecer que podemos tomar decisões de saúde pública mesmo com todas as incertezas de respostas políticas”, acrescentou.
A professora ainda afirmou que há países na América do Sul que vivem situações distintas ao Brasil, com problemas na saúde em alguns pontos e eficiência em outros. “A Colômbia, por exemplo, não tem números expressivos de casos da síndrome neurológica, mas tem interrupção da gestação autorizada. O aborto foi uma porta que cruzou todo o debate sobre as consequências da transmissão vertical de zika”, comentou.
A antropóloga finalizou dizendo que as epidemias afetam igualmente as pessoas, mas as mulheres, além desse problema, não conseguem ter acesso a um aborto seguro por ser ilegal no Brasil. Dessa forma, ela reafirmou a necessidade de deficiências na saúde como essas serem revistas.