Conhecer para intervir na prevenção do câncer ocupacional


08 de junho de 2012


São muitos os fatores no ambiente, especialmente no trabalho, que podem causar câncer. A exposição a substancias químicas, como agrotóxicos, asbesto, sílica e benzeno; agentes físicos, como a radiação ultravioleta e raios x; e alguns tipos de vírus, presentes em laboratórios, são alguns exemplos.

Desde 1999, diversos tipos de câncer são reconhecidos como potencialmente relacionados ao trabalho e devem ser notificados pelo médico que atende o paciente. Para que seja possível dar visibilidade a essa relação entre trabalho e câncer, com o objetivo de adotar medidas, agir preventivamente e criar políticas públicas, o Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca) publicou as Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho.

O texto contou com a colaboração das professoras Jandira Maciel Silva e Elizabeth Costa Dias, do departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG. “Quando falamos em vigilância do câncer buscamos conhecer para poder intervir e prevenir”, define Jandira. Segundo ela, para que a vigilância seja efetiva, é fundamental que profissionais da saúde trabalhem em rede, em especial dos oncologistas e hematologistas. “É importante que os profissionais não pensem somente no diagnóstico e tratamento, mas nos fatores causais que podem estar presentes no trabalho”, explica a professora. “É urgente que os profissionais se interem sobre o assunto e trabalhem a partir desse conhecimento para que o SUS desenvolva ações”, declara a professora.

Quem corre mais risco?

Os cânceres ocupacionais são mais recorrentes em homens do que mulheres, em uma proporção de cinco homens para cada mulher. Porém, explica a professora Jandira, essa é uma diferença de exposição, e não de gênero. “Os homens e mulheres são igualmente propensos a desenvolverem câncer em consequência da exposição a esses fatores. Porém, as atividades em que há o maior risco são predominantemente praticadas pelos homens”, esclarece.

A professora cita os profissionais que geralmente estão mais expostos aos agentes cancerígenos: “São, principalmente, agricultores, operários da indústria química e construção civil, trabalhadores de laboratório, mineradores”. Além desses, também deve haver atenção aos profissionais da área da saúde, como dentistas, médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e pesquisadores, e aos trabalhadores que ficam muito expostos ao sol, como garis e carteiros, entre outros.

Dentre os cânceres mais comuns relacionados ao trabalho estão os Linfomas não-Hodgkin, leucemia, cânceres de pele e pulmão e o mesotelioma, causado pela exposição ao asbesto.
Batalha contra o câncer ocupacional

A professora Elizabeth Dias conta que existe uma luta no Brasil pelo banimento do uso do amianto, um agente reconhecidamente cancerígeno. “São sanitaristas, profissionais da saúde e trabalhadores organizados pela causa”, explica. Ela cita ainda outra discussão atual, referente à regulamentação do uso de agrotóxicos, grandes vilões do câncer ocupacional no Brasil.