Consumo de bebidas: quando se torna um problema?

Como o consumo é socialmente aceito, fica mais difícil perceber quando o uso pode ser uma doença.


03 de março de 2022 - , , , , ,


Após o feriado prolongado do Carnaval, tem muita gente ainda se recuperando dos dias de festa. Nessa época, é comum extravasar e ceder aos excessos, o que inclui o aumento na ingestão de bebidas alcoólicas. Mas a maior disponibilidade dessas substâncias e oportunidade para uso em temporadas festivas pode se tornar um problema para muitas pessoas, que lidam com a dependência ao álcool. Por isso, o programa de rádio “Saúde com Ciência” desta semana produziu série especial sobre o alcoolismo e como ajudar quem enfrenta essa situação.

No Brasil, a média de consumo de bebidas alcoólicas é de oito litros por pessoa. São quase três litros a mais do que nos outros 194 países avaliados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E como o consumo é socialmente aceito, fica mais difícil perceber quando esse uso passa a ser uma doença.

“As pessoas tendem a não querer ver o consumo como problema, o que retarda a chegada desse paciente para o tratamento do alcoolismo”

Analisa o psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Frederico Duarte Garcia.

A dependência ao álcool é uma doença caracterizada pela OMS. Ao passo que essa substância é consumida, provoca alterações no circuito de recompensas do cérebro, o que pode levar à perda de controle, quando a pessoa passa a desconsiderar as consequências negativas desse uso. E durante a pandemia, o consumo excessivo dessa substância se tornou ainda mais comum.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% dos brasileiros têm o hábito de consumir bebidas alcoólicas, sendo que 17,2% deles disseram ter aumentado o consumo durante a pandemia. E a intensificação desse hábito, segundo a pesquisa, está relacionada a quadros de ansiedade devido ao isolamento social.

Como identificar e tratar?

De acordo com o professor, a dependência pode ser identificada quando o uso leva a consequências negativas, sejam elas do ponto de vista da saúde, do ponto de vista econômico ou do ponto de vista social. Além disso, há dificuldade em controlar a quantidade, frequência e a qualidade da substância consumida. Outro fator de alerta é abrir mão de atividades de vida em detrimento desse uso abusivo, o que leva a prejuízos nos relacionamentos, lazer, trabalho, entre outras áreas da vida.

“Essa perda de controle é tratável. Temos recursos que podem ajudar as pessoas a reduzir o uso de maneira que não acarrete em prejuízos para elas”

Explica o professor, que concedeu entrevista ao programa de rádio “Saúde com Ciência”.

Qualquer médico pode diagnosticar a dependência ao álcool, o que pode ser feito por meio da Atenção Primária do Sistema Público de Saúde (SUS). Uma vez identificada, é o psiquiatra o especialista com treinamento para prosseguir com o tratamento. Normalmente, esse tratamento é constituído por uma parte motivacional para que o paciente tenha o entendimento de que é necessário obter ajuda; por prescrição de medicação, que ajuda a interromper o uso sem sofrimento e a manter a abstinência; e por tratamento psicológico, que contribui para manter uma vida mais saudável.

A família tem um papel importante no tratamento, uma vez que pode ajudar na identificação do problema e dar suporte.

“A família precisa estar acompanhada e também com apoio, para que possa ajudar nesse processo. Primeiro é se colocar do lado do paciente.  No começo do tratamento, ele não tem muita noção, suporte para buscar ajuda, marcar consulta. Então, a família ajuda a manter motivado, a lembrar coisas boas que essa pessoa tinha e deixou de ter por causa da dependência”

Saúde com Ciência

Neste programa, saiba como identificar a dependência ao álcool, conheça alguns problemas que o consumo abusivo pode trazer e como ajudar pessoas que enfrentam o alcoolismo.

Saúde com Ciência”  é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.