Contato com tecnologia digital pode provocar danos aos bebês


26 de abril de 2019


Antes mesmo de aprender a falar, muitos baixinhos já tateiam as telas de smartphones e tablets feito gente grande. A cena, apesar de cada vez mais comum na era digital, não deveria ser vista com tanta naturalidade. Muito menos incentivada. O alerta dos especialistas é para os danos que o uso desses aparelhos por crianças com menos de 2 anos pode trazer para a saúde.  Essa longa lista de prejuízos desbanca qualquer possibilidade de ver vantagem em expor os pequenos precocemente às novas tecnologias. Isso incluiu assistir à vídeos, filmes, jogar videogames em tablet, celular ou qualquer outro aparelho com tela.

O contato deve ser zero. E o alerta não vem de hoje. A Organização Mundial da Saúde já recomenda que crianças com menos de 2 anos não devem ser expostas às telas digitais, principalmente durante as refeições ou de 1 a 2 horas antes de dormir. A Sociedade Brasileira de Pediatria apresenta o mesmo posicionamento. No Canadá e nos Estados Unidos, especialistas também dizem que os bebês não devem ter contato com as telas.

Pesquisas revelam que o uso precoce pode comprometer o neurodesenvolvimento da criança, torná-la mais ansiosa e irritada, causar distúrbios do sono, gerar atrasos no desenvolvimento da linguagem e da coordenação motora grossa – utilizada em atividades como correr e pular – e ainda deixar o pequeno viciado em tecnologia.

“A luz azul desses dispositivos diminui a produção do hormônio melatonina, essencial para o sono. E nessa fase da vida, o sono é essencial para o desenvolvimento da criança”, explica a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Liubiana Arantes de Araújo.

Liubiana comenta que os olhos vidrados nas telinhas também restringem a interação com estímulos diversificados do ambiente. Assim, nem mesmo os vídeos mais interativos conseguem suprir a diversidade de sons, cores, texturas, formas, entre outras, que existem no ambiente.

“O que vem de estímulo das telas não é efetivo nesse sentido. Pode até ser para a coordenação motora fina, mas a criança precisa trabalhar a percepção aos estímulos, além de ser estimulada à interação ou contato físico com outras pessoas”, esclarece a professora.

A coordenação motora fina é a capacidade de fazer movimentos coordenados, em que se controla pequenos músculos para realizar exercícios refinados. A professora explica que essa função pode ser desenvolvida com outras atividades que dispensam smartphones ou tablets. Aprender a tocar um instrumento, fazer exercícios como montar quebra-cabeça e fazer dobraduras são alguns exemplos.  

VOCÊ SABIA?
Em 2017, 85% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos eram usuários de Internet, o que corresponde a 24,7 milhões de usuários no Brasil, de acordo com a pesquisa Tic Kids Online – Brasil. Para acessarem a rede, 93% dessas crianças e adolescentes utilizaram o telefone celular, sendo que o uso exclusivo desse dispositivo para acessar a Internet chegou a 44% em 2017.

Após os 2 anos está liberado?

De acordo com Guia da Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso das telas deve ser limitado e proporcional as etapas do desenvolvimento cerebral, mental, cognitivo e psicossocial das crianças e adolescentes. Dos 2 aos 5 anos, a recomendação é para que esse contato ocorra por, no máximo, uma hora por dia. Entre 5 e 12 anos, a conexão deve ser restrita a uma hora e meia por dia. “O uso prolongando por essas crianças pode provocar distúrbios de visão, cefaleia, rompantes de irritabilidade, além de problemas causados pelo sedentarismo, como a obesidade”, exemplifica a professora.

Até os seis anos de idade, as crianças ainda não conseguem separar fantasia da realidade, por isso devem ser protegidas da violência virtual. “Atenção, principalmente, aos vídeos, jogos e brincadeiras que estão na rede, com linguagens atrativas, mas que podem estar incentivando comportamentos mais agressivos, ou modas que colocam a vida das crianças em risco ”, orienta Liubiana.

O uso dos aparelhos eletrônicos no quarto também deve ser visto com cautela, principalmente por crianças menores de 10 anos. A orientação visa evitar que elas fiquem vulneráveis a conteúdos inapropriados. A Tic Kids Online – Brasil revela que 70% dos pais ou responsáveis acreditavam que as crianças e adolescentes faziam um uso seguro da Internet. Por outro lado, 50% das crianças e adolescentes usuários da rede relataram que seus pais ou responsáveis sabem mais ou menos ou nada sobre suas atividades na Internet.  Aos adolescentes, a intenção é evitar que se isolem.

Exemplo dos pais

Em todos os casos, o exemplo dos pais é fundamental para que as crianças utilizem os aparelhos eletrônicos de maneira mais saudável. “Se a criança cresce vendo os pais utilizando com muita frequência os celulares, vão desenvolver hábitos semelhantes”, pontua Liubiana.

Ela também aconselha a ensinar a criança o motivo de ela não poder passar longas horas em frente às telas, bem como combinar a qualidade, quantidade e horário desse uso, além de estarem atentos aos conteúdos inadequados.

OLHOS FIXOS NA TELA
Muito tempo conectado às telas pode ter um custo alto. A progressão da miopia é uma consequência desse excesso. O quadro geralmente atinge o público infantil e consiste no agravamento da miopia ou no desenvolvimento da doença em pessoas que já possuem uma predisposição. Uma medida apontada pelo professor do Departamento de Oftalmologia, Galton Carvalho Vasconcelos, para melhorar o quadro da progressão em crianças é “deixá-las em ambientes abertos e expostas por menos tempo a aparelhos tecnológicos”.