Desigualdade, adversidade e direitos sociais em debate no Congresso


30 de agosto de 2017


Especialistas apontaram os desafios no cuidado às diversidades e as consequências da relação do mercado com a Saúde

                                                                                                          *Jayne Ribeiro

O professor e especialista em saúde pública da USP, Marco Akerman discutiu os principais desafios das políticas públicas no Brasil na mesa-redonda “Diversidade e adversidades”, na manhã desta quarta-feira, 30 de agosto, na Faculdade de Medicina da UFMG.

Professores Ulysses Panisset, Benigna de Oliveira e Marco Akerman, da esquerda para a direita. Foto: Carol Morena

A mesa-redonda foi presidida pela professora do Departamento de Pediatria (PED) da Faculdade, Benigna Maria de Oliveira, e moderada pelo professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social (MPS), Ulysses de Barros Panisset. No debate, foram abordadas questões políticas e sociais relacionadas às desigualdades e adversidades como a violência.

Segundo Marco Akerman, a disputa entre capital e trabalho, faz com que nem toda política pública seja uma política social e isso implica em prejuízos para a saúde pública e à educação. Mas, principalmente, em uma descrença geral por parte da população nas políticas públicas.

Akerman, ainda afirma que a mercantilização da Saúde, que acontece na maioria das atuais políticas públicas, induz severas consequências para a saúde das pessoas, como problemas psíquicos e o aumento das taxas de suicídio. Para o especialista, a austeridade é o “grande vilão das políticas públicas brasileiras”. “Não temos uma crise fiscal. Temos uma crise de tributação fiscal, que é inadequada e gera desigualdade”, observou. “Nenhum ser humano vale menos do que os outros. A desigualdade tem que acabar”, concluiu.

Desafios nas políticas públicas para as diversidades

A violência foi uma das adversidades discutidas pela professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social (MPS) da Faculdade de Medicina da UFMG, Elza Machado de Melo. Ela abordou os diferentes níveis de violência em âmbito nacional e mundial. Entre estes, a violência institucional, a violência contra a mulher e o assédio.

Segundo a professora, não basta analisar a violência com base em dados, é necessário também analisar as conseqüências provocados pelos atos violentos. “A violência trás dor, prejuízos à saúde, à economia e às relações intrapessoais”, apontou.

Elza apresentou conceitos como guerra da hegemonia do mercado e individualismo possessivo que, de acordo com ela, representam os maiores incentivadores da violência no mundo contemporâneo. “Um exemplo claro disso é a crise dos refugiados. As grandes potências econômicas se recusam a aceitar essas pessoas porque têm medo de uma instabilidade econômica. Isso é o mercado sendo colocado acima da vida humana”, acrescentou.

Mesa-redonda discutiu questões políticas e sociais relacionadas às desigualdades e adversidades. Foto: Carol Morena

Em continuidade, o infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica (CLM) da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Bartolomeu Greco, mostrou índices de feminicídio, mortes violentas e homicídios de jovens no Brasil e no mundo.

Greco também abordou os direitos a serem e já estabelecidos, além de alguns desafios para a saúde pública, enfatizando que “o Sistema Único de Saúde (SUS) foi o grande marco da saúde pública no Brasil”.

Já o assistente social e professor da UERJ, Guilherme Silva de Almeida, relatou os principais desafios no cuidado para a integralidade das pessoas trans. Ele citou a necessidade de uma concepção mais ampla nas classificações biomédicas, a importância de abandonar uma ideia universal binária de gênero e de não ver a transexualidade como doença. Almeida também mostrou exemplos de variabilidade de gêneros no decorrer dos anos e acrescentou que “o sexo não é uma concepção atemporal, é histórica”.

Congresso Nacional de Saúde

A programação da 4ª edição do Congresso reúne mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.

A programação do Congresso Nacional de Saúde se encerra hoje, 30 de agosto de 2017. Além da programação científica, o Congresso contou ainda com atividades culturais, exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integrou  a programação das comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo  da Unidade.

Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.

Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br

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*Redação: Jayne Ribeiro, estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro