Desvendando a história do câncer em Minas Gerais
Conheça o o artigo: Instituto de Radium de Minas Gerais: vanguarda da radioterapia no Brasil, 1923-1935 .
04 de dezembro de 2014
Através de uma pesquisa que durou mais de um ano, o artigo Instituto de Radium de Minas Gerais: vanguarda da radioterapia no Brasil, 1923-1935 foi produzido com o intuito de valorizar a história da medicina oncológica no estado de Minas Gerais.
Escrito por Ethel Mizrahy Cupershmid, historiadora e coordenadora acadêmica e Maria do Carmo Salazar Martins, cientista social e pesquisadora voluntária, ambas do Centro de Memória da Faculdade de Medicina da UFMG, o artigo é baseado em documentos e pesquisas datados de 1923 a 1935. De acordo com Ethel, o estudo propõe um olhar menos institucional e mais pautado no discurso baseado na historicidade e nos documentos e registros encontrados no Centro de Memória.
A historiadora destaca algumas curiosidades: por possuir um clima ameno, Belo Horizonte era vista, na época, como cidade ideal no tratamento da tuberculose, uma das doenças mais proeminentes então. Isso contribuiu em sua transformação como polo de destaque na área médica brasileira e como referência na busca pelo turismo hospitalar.
Nesse contexto, foi fundado o Instituto de Radium de Minas Gerais, em 1922, primeiro hospital oncológico, naquela época, particular. A segmentação no público atendido é destacada no estudo. Por se tratar de uma época pós-abolição da escravatura, ainda era muito evidente a diferença de tratamento entre brancos e negros: enquanto os primeiros recebiam tratamento completo em quartos separados e com maior conforto, os pobres e negros (ou ambos) ficavam à margem de tudo isso. Essa parcela da população que não podia pagar ficava abrigada nas enfermarias e, muitas vezes, recebia tratamento por “caridade” de alguns médicos, como informa Ethel.
Além disso, havia uma questão de valores muito forte nessa época relacionada ao pudor e recato do corpo. A historiadora relata que havia considerável sensibilidade com o físico humano: a utilização de roupas longas e a pouquíssima exposição corporal faziam com que determinados tipos de câncer, como o de pele, principalmente em mulheres, ficasse pouco evidente.
O câncer era tratado como uma patologia muito mais grave do que atualmente. Ethel reforça que ser diagnosticado com a doença naquele momento era semelhante a receber em vida um atestado de óbito. A possibilidade de se manter vivo ou mesmo a cura do câncer era algo inviável no período, tendo o tratamento quimioterápico surgido apenas anos depois, como uma revolução no campo oncológico.
Os registros mostram que os tipos de câncer mais comuns naquela época eram de face, de útero em estágio avançado e casos em que os pacientes já estavam na fase de metástase. Contudo, através da pesquisa realizada, foi visto que havia um atendimento muito mais amplo no Instituto, como cirurgias de apendicite e relacionadas a diferentes tipos de traumatologia.
Leia o artigo completo: Instituto de Radium de Minas Gerais: vanguarda da radioterapia no Brasil, 1923-1935