Dia das mães: Cordão valioso
10 de maio de 2013
Médicos explicam os reais benefícios do armazenamento de sangue do cordão umbilical e placentário em bancos privados
*Notícia publicada no boletim Saúde Informa
Guardar ou não guardar? Eis a questão que muitos pais e mães têm enfrentado diante da oferta de bancos e laboratórios privados para armazenar o sangue do cordão umbilical e placentário de seus filhos recém-nascidos para utilização autóloga. Isso significa que as células-tronco provenientes desse sangue são criopreservadas, ou seja, são conservadas através do congelamento a temperaturas muito baixas, para uso terapêutico da própria criança, caso ela desenvolva alguma doença posteriormente.
Esse serviço é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, segundo o órgão, o número de bolsas armazenadas tem aumentado desde 2003. Entre os anos de 2009 e 2010, por exemplo, a quantidade passou de 8.866 para 11.456 bolsas. Em média, as famílias contratantes desembolsam cerca de 2 mil a 7 mil reais na coleta, além da manutenção anual que varia entre 500 e 700 reais. Um custo elevado para poucos benefícios cientificamente comprovados, alerta o professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Antônio Carlos Vieira Cabral. “Na verdade, a única comprovação existente desse tipo de célula-tronco com resultados positivos é para trataras anemias hereditárias e as leucemias. Muitas vezes é divulgada uma amplitude terapêutica que ainda não tem comprovação na literatura médica”, explica.
Mesmo no caso de tratamento das leucemias, o uso das células-tronco do próprio cordão umbilical nem sempre é a melhor opção terapêutica. “A maioria das leucemias é de origem genética, então, se a pessoa faz o tratamento com suas próprias células, a possibilidade de recorrência da doença é maior do que se fosse com células de um indivíduo com características genéticas diferentes”, explica Antônio Cabral.
Outro problema apontado pelo médico é o longo período em que essas células ficam guardadas, caso não haja a necessidade de usá-las ainda nos primeiros anos de vida da criança. Segundo o professor, mesmo que a célula mantenha a sua vitalidade criopreservada, ainda são desconhecidos os efeitos dessa criopreservação sobre as características genéticas das mesmas. “O ideal para fazer um tratamento utilizando células-tronco seria com células armazenadas em períodos curtos”, esclarece.
Alternativas
Além dessas questões, o professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicinada UFMG, Rubens Tavares, salienta que as células-tronco também podem ser extraídas da medula óssea e do sangue de outras partes do corpo. Aliás, essas são atualmente as principais fontes para o tratamento de doenças do sangue.
O médico também explica que, dentro da medicina regenerativa, já existem vários estudos em andamento utilizando outras fontes de células-tronco, como do tecido adiposo e cerebral, da pele, pâncreas, fígado, polpa dentária,placenta, líquido amniótico e células-tronco embrionárias.“Acredita-se que praticamente todo tecido tenha possíveis mecanismos regenerativos através de suas células-tronco específicas, e cada vez mais têm sido detectadas novas fontes”, afirma Tavares.
Importância dos bancos públicos
Para Antônio Cabral, a exemplo do que já acontece com os bancos de sangue, a melhor medida, em vez do armazenamento privado, seria a implantação efetiva de bancos públicos de cordão umbilical e placentário para utilização heteróloga. No Brasil, já existem 12 bancos desse tipo que fazem parte da rede Brasilcord, criada em 2004. Segundo a Anvisa, até 2014, o país deve ganhar mais cinco espaços para fazer esse armazenamento. Um desses bancos será na cidade de Lagoa Santa e fará parte do Centro de Tecidos Biológicos de Minas Gerais (Cetebio) da Fundação Hemominas. Além de sangue de cordão umbilical e placentário, esse espaço contará com outros cinco bancos responsáveis por armazenar medula óssea (já em funcionamento), materiais sanguíneos raros, pele, tecidos músculos-esqueléticos e valvas-cardíacas.
A implantação desses bancos beneficiaria mais pessoas em tempo hábil e o material coletado teria vantagens, como um período menor de armazenamento e características genéticas que podem ser mais efetivas em tratamentos das leucemias de origem genética. “Nas cidades que já possuem o banco, as mulheres devem manifestar o desejo de doar o sangue umbilical de seu filho a partir da metade do pré-natal. É feita uma série de exames nessas mães para que haja segurança nessa doação”, esclarece o médico.