Doença celíaca ou intolerância a glúten?

De acordo com dados da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros sofram com a doença.


23 de setembro de 2024 - , , , ,


* Alexandre Temponi

A doença celíaca é uma doença autoimune, ou seja, as próprias células de defesa imunológica atacam o organismo. A doença é desencadeada pelo consumo de glúten, proteína presente em grãos. De acordo com o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e convidado do Saúde com Ciência, Eduardo Garcia Vilela, a doença se manifesta pela má absorção alimentar, sendo o principal sintoma a diarreia.

Além disso, o celíaco pode manifestar outros sintomas, como dor abdominal, ou até mesmo sintomas não intestinais, como a anemia. O diagnóstico é realizado por um exame de triagem chamado anti-transglutaminase tecidual, que detecta a presença de anticorpos produzidos pelo sistema imunológico em resposta à transglutaminase tecidual, enzima produzida pelo intestino delgado.

A presença dos anticorpos é um forte indicativo de que a pessoa manifesta uma reação imunológica anormal à ingestão de glúten, algo característico de um paciente portador da doença celíaca. O professor afirma que a doença celíaca é a única doença autoimune crônica em que é possível se estabelecer a causa.

“Existem dois marcadores genéticos que estão presentes em 99% dos celíacos, que são os antígenos de compatibilidade. Mas a doença não é hereditária, já que apenas 10% dos filhos de celíacos possuem a doença. Porém, os fatores ambientais estão presentes; o não-aleitamento materno; a exposição ao glúten antes dos quatro a seis meses de idade”.

Professor Eduardo Garcia Vilela

Vida e dieta de um celíaco

O professor explica que é necessário para o paciente remover de sua dieta alguns cereais, principalmente o trigo, o centeio, a cevada e a aveia, que é tolerada por apenas 50% dos doentes celíacos. Porém, a aveia ainda pode ser reintroduzida na dieta, após um teste de biópsia para identificar se o indivíduo tolera esse cereal.

No entanto, a alimentação não é a única faceta da vida do paciente afetada pela doença celíaca. O professor Eduardo Vilela afirma que, por causar má absorção intestinal, você pode privar o paciente de alguns nutrientes que podem gerar alterações corporais, como emagrecimento e sarcopenia. Do ponto de vista emocional, o professor avisa que, por haver essa restrição alimentar, o celíaco sempre possui o temor de não estar ingerindo nenhum alimento que possua glúten, e isso provoca uma sensação de desconfiança.

A doença celíaca, por gerar uma alteração na barreira intestinal, provoca uma permeabilidade maior na parede do intestino. Isso faz com que haja um translocação maior de antígenos, que podem estar associados a fenômenos imunológicos fora do intestino. Então diabetes melitus tipo 1, tireoidite de Hashimoto e doenças reumatológicas podem estar associadas a doença celíaca.

Ouça o podcast na íntegra:

Saúde com Ciência

No programa de rádio Saúde com Ciência desta semana, vamos conversar sobre a doença celíaca. Iremos explicar sobre os sintomas, diagnóstico e tratamento. Além disso iremos explicar a relação da doença celíaca com outras doenças autoimunes.

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.

* Alexandre Temponi – estagiário de Jornalismo

Edição: Alexandre Bueno