Doença falciforme exige acompanhamento nutricional


26 de setembro de 2016


Tema foi discutido em Encontro de Nutricionistas promovido pelo Cehmob-MG

Encontro reuniu nutricionistas da Atenção Básica. Foto: Rafaella Arruda.

Encontro reuniu nutricionistas da Atenção Básica. Foto: Rafaella Arruda.

Nutricionistas da Atenção Primária à Saúde (APS) de Minas Gerais se reuniram na Escola de Enfermagem da UFMG, no dia 22 de setembro, para debater os cuidados à pessoa com doença falciforme. Promovido pelo Cehmob-MG, o 1º Encontro de Nutricionistas – Facilitadores do Projeto Doença Falciforme: Linha de Cuidados na Atenção Primária à Saúde – abordou os aspectos clínicos da doença, a atenção integral e o papel da Nutrição para melhorar a qualidade de vida da pessoa com doença falciforme.

Durante palestra, a nutricionista do Nupad, Michelle Alves, apresentou as ações a serem desenvolvidas pelos nutricionistas na APS. Ela falou da importância da alimentação na recuperação do estado nutricional, na cicatrização de feridas, no crescimento e desenvolvimento adequados e na prevenção de sinais e sintomas da doença falciforme.

Hidratação e alimentação

Michelle destacou a alta necessidade energética das pessoas com doença falciforme decorrente das manifestações comuns da doença, como destruição de hemácias (hemólise), obstrução de vasos sanguíneos e infecções frequentes. Ela citou também a importância da hidratação constante: “A ingestão de água aumenta a volemia (volume sanguíneo), melhora o fluxo do sangue e previne a vaso-oclusão”.

O consumo do ácido fólico, que atua na formação das células sanguíneas e está presente principalmente nas folhas verdes escuras, também deve ser orientado. “Apenas o consumo das folhas não é suficiente. Devido à alta destruição de hemácias nas pessoas com doença falciforme, é necessária a suplementação de ácido fólico medicamentoso por toda a vida”, explicou.

A nutricionista falou da importância de se evitar uma alimentação muito rica em ferro, para evitar a sobrecarga do mineral que pode ocorrer pela realização contínua de transfusões de sangue e pela hemólise, que libera o ferro presente nas hemoglobinas: “Contudo, não é necessário restringir a proteína animal para restrição de ferro na dieta, pois ela é boa fonte de vitaminas e sais minerais, mas evitar alguns alimentos como fígado, muito rico em ferro”. Quando necessário, alguns pacientes fazem uso de quelantes de ferro, substâncias que retiram o nutriente do organismo.

São recomendados os alimentos ricos em vitaminas A, C e E, e sais minerais, como zinco e cobre, por possuírem ação antioxidante. “É função do nutricionista oferecê-los por meio de fontes alimentares, mas estudos mostram que suplementos de vitaminas, por exemplo, reduzem a hospitalização e ajudam na cicatrização de feridas, devendo ser discutido com o médico que atende o paciente a real necessidade e relevância da suplementação”, observou Michelle. Ainda, a vitamina D e o cálcio auxiliam no metabolismo ósseo, evitando o atraso de crescimento e maturação em crianças e jovens com doença falciforme.

Cuidado integral

“Vocês que estão na APS, principalmente a partir do NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família), têm uma ferramenta muito boa, a visita domiciliar, para fazer acolhimento e uma intervenção melhor do paciente”, ressaltou Michelle. Para promover o cuidado, os nutricionistas devem acompanhar, além da alimentação e hidratação, os exames, consultas, internações, cirurgias, vacinas e higiene bucal, além de atuar integrado à equipe multiprofissional. O autocuidado, por exemplo, deve ser trabalhado no paciente desde a infância, assim como a autoestima, em especial na adolescência.

Durante a gravidez, cabe ao nutricionista avaliar risco de diabetes, hipertensão, sobrepeso/obesidade e desnutrição, entre outros. “A gestação na doença falciforme é de alto risco e merece muita atenção”, pontuou a profissional.

Estudo e propostas

A enfermeira Aline Batista fala da integralidade do cuidado. Foto: Rafaella Arruda.

A enfermeira Aline Batista fala da integralidade do cuidado. Foto: Rafaella Arruda.

Na segunda parte do Encontro, os participantes discutiram, em grupos, diferentes estudos de caso envolvendo crianças, jovens e adultos com doença falciforme, e apresentaram propostas de intervenção.

“É importantíssimo esse tipo de evento, pois ficamos mais por dentro da nossa atuação e podemos levar essa conscientização para a Atenção Básica e equipe”, declarou a nutricionista de Nova Lima, Ludmila Custódio, participante do Encontro. “Queremos agora identificar os pacientes com doença falciforme e trabalhar com os ACS (agentes comunitários de saúde)”, pontuou Fabiana Diniz, nutricionista que atua em Ribeirão das Neves.

O evento contou ainda com a participação da hematologista da Fundação Hemominas, Célia Maria, e da enfermeira do Cehmob-MG, Aline Batista, que abordaram as características da doença e a importância da integralidade do cuidado para a pessoa com doença falciforme.

Manual informativo

Os profissionais também foram convidados, ao final do Encontro, a avaliar o manual informativo dos nutricionistas, elaborado pela equipe do Linha de Cuidados e do Nupad com base em artigos e manuais do Ministério da Saúde. Após avaliação pelos participantes, o material será reproduzido e disponibilizado no portal do Cehmob-MG.