Doenças comuns aos idosos têm atingido cada vez mais jovens
22 de março de 2016
A hipertensão arterial acompanha Pâmela Cota desde os nove anos. Aos 17, ela sofreu um princípio de infarto. Depois de uma adversidade, a estudante ficou nervosa e sentiu muita falta de ar, dores no peito e na cabeça. Além disso, seu braço ficou dormente e ela sentiu uma ligeira tontura. A pressão alta é um fator de risco para o infarto, assim como estresse, diabetes e excesso de peso.
“Evito sal ao máximo desde que descobri a hipertensão e, depois desse episódio, retomei o controle mais rigorosamente”, lembra Pâmela. Em sua fase inicial, a hipertensão costuma ser assintomática. Em casos mais graves, ela pode causar insuficiência respiratória e renal, consequências do excesso de trabalho do músculo cardíaco ou da deficiência de sangue, oxigênio e nutrientes no coração.
Apesar de serem, em geral, associadas à população idosa, situações como a de Pâmela estão cada vez mais comuns entre os jovens, assim como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o alto colesterol. Tais enfermidades têm como principais fatores de risco o tabagismo, sedentarismo e predisposição genética.
Segundo a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria da Consolação Moreira, a má alimentação do brasileiro também contribui para essas ocorrências. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que os produtos industrializados representam quase 85% do consumo do país. “O sódio que está presente no sal de cozinha e em alimentos industrializados deve ser consumido com moderação, uma vez que o consumo excessivo pode levar ao aumento da pressão arterial”, reforça a cardiologista.
Colesterol alto e AVC
Em média, um em cada cinco jovens brasileiros de dois a 19 anos, apresenta níveis elevados de colesterol. “Ao invés de suco natural, por exemplo, os jovens têm escolhido o suco industrializado. Essa mudança no padrão alimentar contribui diretamente para níveis mais altos do colesterol e obesidade nos jovens”, afirma a também professora do Departamento de Clínica Médica, Maria de Fátima Diniz.
O colesterol alto é diagnosticado quando a soma das medições do HDL, chamado de bom colesterol, e do LDL, o ruim, fica acima de 200 mg/dL. O HDL retira o excesso de LDL do sangue e previne doenças cardiovasculares. Já o LDL pode dificultar o fluxo de sangue nos órgãos do corpo, já que é o responsável pela formação de placas de gordura nas paredes internas das artérias, além de acelerar seu processo de envelhecimento e endurecimento. “O problema do colesterol não é o valor em si, mas que, quando ele está alto, o HDL, o colesterol bom, fica mais baixo”, explica Maria de Fátima.
O colesterol alto também pode levar ao AVC. Dados do Ministério da Saúde revelam que 4 mil pessoas, com idade entre 15 e 34 anos, foram internadas após sofrer derrame em 2012. “Nessa faixa etária, os fatores de risco incluem a presença de doenças cardíacas, reumatológicas e anemia falciforme”, completa o professor do mesmo Departamento, Antônio Lúcio Teixeira.
O AVC isquêmico é resultado da obstrução dos vasos sanguíneos, sendo responsável por cerca de 80% dos casos da doença. Já o AVC hemorrágico acontece pela ruptura de vasos cerebrais. Fraqueza muscular, dificuldades de fala, alterações táteis, visuais e das funções cognitivas são alguns dos sinais que antecedem a ocorrência de um AVC.
Os sintomas variam de acordo com a extensão do cérebro acometida e das condições clínicas do paciente. “Geralmente, o jovem tem maior potencial de recuperação desses sintomas do que um indivíduo idoso, mas isso pode variar a cada caso”, aponta Teixeira. O professor conclui que o estilo de vida atual expõe precocemente crianças e adolescentes aos fatores de risco dessas doenças, evitáveis com uma alimentação balanceada e a prática de atividades físicas.