Drogas, tráfico e violência na contemporaneidade


05 de setembro de 2014


“Essa mesa compõe o intervalo entre os que sabem muito, e o que muito se sabe. O nome ‘Drogas, tráfico e violência’ conjuga em si o desafio que vamos encarar”. Foi com essa fala que a psicanalista e supervisora clínica da rede de saúde mental da Prefeitura de Belo Horizonte, Cristiane Barreto, iniciou sua apresentação na manhã desta sexta feira, 5 de setembro.

Mesa-redonda sobre "Drogas, tráfico e violência"

Mesa-redonda sobre “Drogas, tráfico e violência”

O diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, professor Tarcizo Nunes, foi quem presidiu o debate, e deu as boas vindas aos presentes, ressaltando a relevância do tema. “Esse eixo brotou naturalmente há anos, pela vontade da professora Elza (coordenadora do eixo), que assumiu a questão da violência de uma forma muito intensa, e é por isso seu tamanho sucesso. Já estamos com a ideia de elaborá-lo para o próximo evento, com uma roupagem nova”, declarou.

Relatos da Colômbia

O primeiro palestrante convidado, Mário Elkin Ramirez Ortiz, professor da Universidad de Antioquia, na Colômbia, e membro da Associação Mundial de Psicanálise, relatou o histórico de violência em Medellín, sua cidade natal. Os índices levaram à criação de um grupo de pesquisa. “Na época, concluímos que os adolescentes acharam, no narcotráfico, um caminho para, rapidamente, ter êxito social. Foi preciso 20 anos, ou mais, para mudar essa realidade. Hoje, os jovens enxergam o futebol, a música e a arte como outra chance”, revelou.

Mário Elkin Ramirez Ortiz, professor da Universidad de Antioquia, na Colômbia.

Mário Elkin Ramirez Ortiz, professor da Universidad de Antioquia, na Colômbia.

A religião é um ícone ideal e tradicional na Colômbia. Segundo dados constatados em estudos do psicanalista, o jovem que entra no tráfico, em sua maioria, é de família monoparental, onde a mãe, que também exerce a função paterna, é vista como símbolo de santidade. “Os filhos buscam no tráfico uma forma de estabilidade social para as mães. As mães são sinônimo de amor incondicional, e são cúmplices de seus filhos. Elas acobertam seus atos”, constatou.

O tráfico e a violência na contemporaneidade

A violência e o tráfico são discussões absolutamente necessárias, mas pouco presentes na área da Saúde. A aluna de mestrado profissional do programa de Promoção a Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG, Rosimeire Aparecida da Silva, elaborou outro tom e perspectiva para falar sobre o assunto. “A Saúde é um discurso e uma prática que molda o traçado das cidades. A urbanização conduz a Medicina moderna e científica ao campo do social, que diferente da Medicina na Idade Média, não é individualista, e sim coletiva e social”, relatou.

O psiquiatra e psicanalista, membro da Associação Brasileira de Psicanálise, Antônio Áureo Beneti, analisou o consumo de drogas no mundo contemporâneo. “Pensando no narcotráfico e na violência, não consigo deixar de pensar no discurso capitalista e em movimentos de unificação de mercados. O narcotráfico é a maior empresa capitalista contemporânea. E a violência, que é uma palavra classificada como produto da cultura, ordena uma série de movimentos no mundo, não só na questão das drogas”, refletiu.

A convidada Mônica Brandão, mestre em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência e membro do Grupo de Pesquisa Cultura e Subjetividade, na Faculdade de Medicina UFMG, levantou evidências trazidas pelos números. “O tráfico de drogas cresce velozmente entre os jovens vulneráveis. O relatório Panorama Nacional – Execução das Medidas de Internação, apresentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2012, revelou que o roubo é o principal ato cometido pelos adolescentes no Brasil, 36%, seguido pelo tráfico de drogas, 24%”, apontou.

3º Congresso
O 3º Congresso Nacional da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG chega, hoje, ao seu último dia de atividades. A programação reuniu sete conferências, mais de 10 palestras e 40 mesas-redondas, em torno do tema “Cenários da Saúde na Contemporaneidade”, em oito eixos temáticos.

A Secretaria executiva do 3º Congresso Nacional da Faculdade de Medicina da UFMG atende na sala Oswaldo Costa, 21, térreo da Unidade.

Acesse a programação completa.

Acesse a página eletrônica do 3º Congresso Nacional de Saúde.

Mais informações:
3409 9105 ou 3409 8055, ou ainda pelo e-mail 3congresso@medicina.ufmg.br

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