Durante pandemia houve redução de internações por outras doenças e aumento de óbitos domiciliares em BH
Pesquisa mostra o impacto maior entre pessoas com doenças cardiovasculares e alerta para que em novos picos da pandemia não desestruture outras linhas de cuidados
01 de fevereiro de 2022
Uma pesquisa evidenciou que houve redução de 28% nas internações para doenças respiratórias, circulatórias ou cardiovasculares, infecciosas e neoplasias (cânceres) em Belo Horizonte durante a pandemia. O declínio foi mais acentuado em dois momentos distintos da pandemia: no início dos casos e no pico das infecções, em julho de 2020.
O estudo foi realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e Prefeitura de Belo Horizonte, através da análise dos dados do Sistema de Internações Hospitalares (SIH) do SUS. Os dados revelam que em novos picos da pandemia será preciso ter atenção para não desestruturar outras linhas de cuidados, orientando a população a buscar o hospital quando houver sintomas de alarme para as demais doenças.
De acordo com uma das autoras do estudo e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Luisa Caldeira Brant, a redução no início da pandemia mostra os efeitos das medidas regulatórias no comportamento das pessoas, quando a recomendação era para ficar em casa. “O que estava correto no sentido de diminuir a chance do contágio pela covid-19, mas como consequência indireta reduziu a busca por assistência em situações que era necessário. As pessoas tinham medo do contato com os estabelecimentos de saúde”. Além disso, os serviços de saúde foram reorganizados para evitar a saturação, com a remarcação de cirurgias eletivas, por exemplo.
Se por um lado as internações reduziram durante a pandemia, por outro, a gravidade daqueles que chegaram a ser internados aumentou, resultando em maior mortalidade hospitalar. O impacto foi mais sentido entre pessoas com doenças cardiovasculares (DCV), como infartos, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca, que ocorrem mais frequentemente naqueles indivíduos com diabetes, hipertensão e obesidade, ou seja, doenças crônicas que são fatores de maior gravidade para a covid.
Outros pacientes sequer recorreram aos serviços de saúde, o que também está relacionado ao outro resultado apontado pelo estudo: aumento no número de óbitos domiciliares atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência em Belo Horizonte. “Observamos uma mudança no local de óbito, com pessoas falecendo mais em seus domicílios, embora a mortalidade geral por DCV não tenha mudado em Belo Horizonte”, observa a professora.
Para as neoplasias (cânceres), a redução observada foi menor em comparação as outras doenças. Uma hipótese é a de que o acompanhamento desses pacientes é mais próximo e, geralmente, as cirurgias não podem ser adiadas. Já em relação às doenças respiratórias que não são covid, a queda de internações está atrelada a redução, de fato, de pessoas adoecidas. “Um reflexo das medidas preventivas para a covid, que indiretamente preveniu outras doenças respiratórias”, analisa Luisa Brant.
De acordo com a especialista, com o adiamento de cirurgias eletivas é possível que a demanda aumente nos próximos anos, puxadas, também, por novos casos que poderiam ter sido prevenidos. Assim, ela defende a importância da retomada do cuidado aos pacientes que ficaram mais prejudicados com a pandemia, como hipertensos e diabéticos, para a prevenção de eventos mais graves, mas sem deixar de seguir as medidas de prevenção contra a covid-19, como o uso de máscaras e higienização das mãos quando precisarem comparecer ao serviço de saúde.
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