Envelhecimento da população: área da saúde está preparada?
Aumento da expectativa de vida alerta para a necessidade de estudos e preparo dos profissionais para atender essa população
24 de outubro de 2018
Aumento da expectativa de vida alerta para a necessidade de um olhar “geriátrico-gerontológico” em todas as especialidades médicas.
Nunca vivemos tanto. Pela primeira vez na história, a expectativa de vida do brasileiro chega a 76 anos, segundo estimativa do IBGE divulgada em setembro. No entanto, o avanço da medicina, que prolonga nossa existência por mais tempo, não tem acompanhado essa evolução na mesma proporção com relação a qualidade desse “tempo extra” na terra: “Faltam estudos voltados para terceira idade e preparo dos profissionais da área da saúde”, alerta a geriatra e professora do Departamento de Clínica Médica da UFMG, Maria Aparecida Bicalho.
E o tempo não espera. Em duas décadas, o número de idosos deve superar o de
crianças e adolescentes de até 15 anos. “Só não vai atender a terceira idade o médico que trabalhar com grávidas”, observa a especialista. Isso porque, até na pediatria, o contato com esse público tem aumentado. Na rotina corrida dos pais, muitas crianças vão ao médico acompanhadas pelos avós.
Mesmo com a realidade do envelhecimento da população se aproximando, a professora afirma que a formação de novos profissionais, preparados para atuarem com a terceira idade, é aquém da necessária. Para ela, o olhar ‘geriátrico-gerontológico’ deve estar ao alcance de todas as especialidades médicas.
“O profissional não pode tratar, receber e acolher o idoso da mesma forma que faz com as outras pessoas. Falta essa formação, que eu não tive na época que me formei; foi preciso buscar por inciativa própria. Quem está formando agora ainda tem pouco, considerando a população que ele vai atender de agora adiante”, argumenta a especialista.
Como futura média, a estudante do 8º período de medicina da UFMG, Mariana Duarte, diz estar atenta ao crescimento dessa faixa etária, com toda sua complexidade. “Não só os médicos, mas também todos os outros profissionais da área de saúde devem estar preparados para lidar com os atuais e futuros idosos”, afirma a estudante, que coordena a Liga de Geriatria e Gerontologia da Faculdade de Medicina da UFMG.
Informação
Apesar do aumento da expectativa indicar uma melhora na qualidade de vida, algumas doenças e sintomas são mais comuns aos que envelhecem. O aumento dos quadros de declínio de memória e demência, da incidência da doença de Alzheimer e do risco de interações medicamentosas e efeitos colaterais de remédios são alguns exemplos.
Por isso, para que os “idosos do amanhã” consigam chegar melhor à velhice, é preciso voltar no básico: além da qualificação de profissionais, é preciso garantir, desde a acessibilidade nos postos de saúde, até o acesso à informação.
De acordo com a professora Maria Aparecida Bicalho, a Faculdade de Medicina tem um papel muito importante nisso. “Nós temos que capacitar os alunos e médicos e também empoderar a população com o conhecimento, com a informação”, destaca.
Como prevenir doenças com campanhas de prevenção de diabetes, por exemplo; a importância da atividade física e quais são as mais indicadas… Tudo isso passa pela difusão de conhecimentos que estão na academia. “As pessoas devem se preocupar em como elas vão estar daqui uns 20 anos”, completa.
Ligas
Da academia também surgem iniciativas como a Liga Acadêmica de Geriatria e Gerontologia, da Faculdade de Medicina da UFMG, que reúne alunos de diferentes áreas para reuniões científicas e realização de eventos, como mutirões multiprofissionais de geriatria. “Tivemos que abrir mais vagas nas ligas, pois a procura dos alunos tem aumentado, o que mostra uma preocupação com essa área”, observa a professora.
Pioneirismo
A Faculdade de Medicina tem longa trajetória na área, sendo pioneira no ensino da Geriatria no curso de Medicina. Em 1996, os professores da Faculdade criaram o Ambulatório de Geriatria, único responsável pelo atendimento de idosos frágeis pelo SUS em Minas Gerais. Três anos depois, foi instituído o Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG (NUGG) com o objetivo de integrar todas as unidades e professores da UFMG.
Há poucos meses foi inaugurado, no complexo do Hospital das Clínicas, o Ginásio Interdisciplinar do Idoso Dr. Aloysio de Andrade Faria, que tem como objetivo maximizar a independência e autonomia dos idosos atendidos pelo Serviço de Geriatria.