Equipe do INCT-MM avalia impactos das enchentes do Acre

Dados serão usados na avaliação dos impactos causados na saúde mental de crianças e adolescentes.


22 de abril de 2015


Alexandre Noronha4

Foto: Alexandre Noronha

Uma equipe do Programa de Pós Graduação de Medicina Molecular (INCT-MM) visitou o Acre, no início deste mês, para coletar dados que serão usados na avaliação dos impactos causados na saúde mental de crianças e adolescentes a partir dos fenômenos climáticos extremos.

“A seca e a inundação são os fenômenos climáticos que temos no Brasil com maior repercussão na população. Queremos entender como passar por eles podem afetar a saúde mental das pessoas”, conta a psicóloga e pesquisadora Sabrina Magalhães.   Segundo ela, apesar da enchente ser um fenômeno comum no Acre, o evento ocorrido no início deste ano foi maior, atingindo áreas que geralmente não eram alagadas.

A visita faz parte do projeto “Avaliação do impacto de fenômenos climáticos extremos na saúde mental e no bem-estar de crianças e adolescentes”, coordenado pelo professor Marco Aurélio Romano-Silva. Para ele, um dos pontos interessantes do trabalho é mostrar um viés diferente. “A maioria pensa em mortes ou doenças quando se trata desses eventos, mas, recentemente, há a preocupação com os impactos das mudanças do clima para a saúde mental”, afirma. “Aparentemente é um impacto grande, mas ninguém sabe exatamente qual é a extensão, principalmente na população jovem que vai sofrer tais impactos mais repetidamente”, completou.

Visita
Além da Sabrina, a equipe foi composta pela psicóloga e aluna de iniciação científica, Diana Kraiser, e pela bióloga e doutoranda Erika Kelmer como colaboradora. “A visita foi possível com o contato estabelecido com psicólogas da capital Rio Branco e através da parceria com a Secretaria de Estado de Habitação e Interesse Social (Sehab) que auxiliou o contato com as famílias”, diz Sabrina.

Ela informa que as entrevistas foram realizadas na Cidade do Povo, local com casas populares criado para receber as famílias desabrigadas. Tanto as crianças como os pais responderam ao questionário. As questões para o grupo infantil abordavam o comportamento, saúde mental, atenção, memória e outras áreas da cognição. Também realizou uma bateria neuropsicológica que avaliava o desempenho escolar, por exemplo, e fizeram coleta de material biológico com amostra de sangue e cabelo, que servirão para avaliar o estresse. Já os adultos responderam sobre a vivência com a inundação, perdas, contato com a água, estresse, avaliação socioeconômica, saúde mental e comportamento do filho.

“O primeiro passo é analisar todos os dados recolhidos e os materiais biológicos. Os resultados irão traçar as próximas diretrizes da pesquisa”, expõe Magalhães.

A Pesquisa
De acordo com o coordenador, o projeto tem três focos: analisar a saúde mental de crianças e adolescentes afetados pelas enchentes, pela seca, e analisar uma população que não foi afetada por esses fenômenos, para saber como elas percebem isso através da mídia, por exemplo. Estas últimas serão crianças e adolescentes das escolas de Belo Horizonte.

Marco Aurélio argumenta que estes fenômenos afetam a saúde mental do público infantil, porque eles geram uma carga de estresse. “No caso da enchente é o estresse agudo onde perde a casa, às vezes tem morte de familiares. A seca é o estresse crônico que apresenta o empobrecimento, a ida do pai para outro lugar em busca de emprego, a restrição alimentar, etc.”. Sabrina completa exemplificando que, na população adulta, é possível encontrar casos de depressão, ansiedade, violência doméstica e aumento de abuso de substâncias. As crianças tem como consequência principal o transtorno de estresse pós-traumático. Cabendo, também, considerar as questões de bem estar social e, como se encontra na literatura, a falta de esperança das crianças para seu futuro.

A doutoranda ainda ressalta o viés do projeto: fazer o rastreamento em termos da saúde mental da população infantil, já que há poucas pesquisas relativas ao assunto no Brasil; trazer o atual debate das mudanças climáticas para a academia; e transformar os resultados encontrados em conhecimento para contribuir para a elaboração de politicas de intervenção. “Além do conhecimento inovador no Brasil sobre estes acontecimentos que servem de base para outras pesquisas, pensamos em ter um diálogo mais próximo com os gestores públicos através das políticas formadas por evidências”, conclui. Os resultados serão apresentados em forma de publicações científicas.