Especialista diz como ajudar uma mulher em situação de violência doméstica


27 de setembro de 2018


Segundo a Organização Mundial de Saúde, ocorrem cinco feminicídios, isto é, crimes de ódio motivados pela condição de gênero, para cada grupo de 100 mil mulheres no Brasil

“A primeira fala é o abraço”. De acordo com a psicopedagoga do projeto “Para elas: por elas, por eles, por nós”, Lauriza Pinto, um gesto de carinho faz toda a diferença no acolhimento da mulher vítima de violência doméstica. A partir de sua experiência nas rodas de conversa do Ambulatório de Rede de Práticas de Promoção de Saúde da Mulher em Situação de Vulnerabilidades, do Hospital das Clínicas da UFMG, parte do projeto, ela dá dicas sobre como ajudar, da melhor maneira possível, pessoas que passam pelo problema, que pode levar a um fim trágico quando não há intervenção adequada.

Foto: Carol Morena

O que fazer quando percebo que uma mulher está sofrendo violência doméstica?

Lauriza Pinto: Pela experiência com a roda de conversas, quando a mulher relata a violência, a primeira coisa que faço é dar um abraço nela. Porque, às vezes, ela só precisa ser ouvida, sem julgamentos, com um olhar carinhoso e ter um abraço de outra mulher. Nas rodas de conversa, percebo que ela se sente acolhida no momento em que está falando. A mulher que sofre violência doméstica, muitas vezes, precisa desse apoio, dessa segurança, para denunciar o violentador ou para trabalhar isso dentro do próprio ambiente doméstico.

E se a mulher não quiser denunciar?

Lauriza Pinto: Nem sempre as mulheres estão preparadas para denunciar seus parceiros. Muitas vezes, elas se sentem culpadas ou com vergonha, são dependentes financeiramente dos parceiros ou têm medo das ameaças. Por isso é importante empoderá-la. Há instituições que ajudam nisso, como o projeto Para Elas, que funciona no Instituto Jenny de Andrade Faria, com rodas de conversa, acompanhamento com psicólogo, constelação familiar, heiki, entre outros tipos de terapias. O Ambulatório funciona às sextas-feiras, das 8h às 12h. Qualquer pessoa pode ir lá, por indicação, conta própria ou através do encaminhamento do posto de saúde. Há uma unidade nova do Ambulatório no Centro de Saúde São Francisco, na região da Pampulha, com atendimento às segundas-feiras, das 13h30 às 17h.

Posso fazer a denúncia no lugar da mulher?

Lauriza Pinto: A denúncia pode ser feita por qualquer pessoa e até de forma anônima, pelo 180, que é a Central de Atendimento à Mulher. Uma coisa que gosto de frisar é que quando o homem fala que vai matar, ele realmente mata. Outra coisa que sempre falo é o que o ditado mais errado do mundo é aquele que diz ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’. Por isso, é importante que se denuncie para que algo possa ser feito. A Central tem estrutura para orientar vítimas e testemunhas e fazer o encaminhamento da denúncia. O agressor pode não ser preso imediatamente, mas é um passo importante para amenizar e cessar a violência.

O que fazer quando eu presencio uma agressão?

Lauriza Pinto: Quando o caso é de emergência, a agressão está acontecendo naquele momento, deve-se ligar para o 190. Em caso de flagrante, a polícia pode intervir imediatamente. Sempre falo para não tentar, você mesmo, separar a briga, porque pode ser perigoso. A pessoa que separa a briga pode sofrer agressão também e não conseguir ajudar a outra. Por isso, a melhor maneira de ajudar e ligando para a polícia.

Como oferecer ajuda?

Lauriza Pinto: Oferecer apoio a essa mulher é muito importante para que ela saiba que terá a quem recorrer caso precise. Dar ordens não é a melhor opção, pois essa mulher já está em situação de vulnerabilidade. Em vez disso, você pode escutá-la e mostrar para ela que é importante fazer a denúncia.

Serviço: 

Ambulatório Para Elas

(Ambulatório de Rede de Práticas de Promoção de Saúde da Mulher em Situação de Vulnerabilidades)

Local: Instituto Jenny de Andrade Faria – Hospital das Clínicas

Atendimento às sexta-feiras, das  8h às 12h.

Local: Centro de Saúde São Francisco

Atendimento às segundas-feiras, das  13h30 às 17h.