Estiagem em 2015 agrava crise hídrica em Minas Gerais

Nova série do Saúde com Ciência discute o quadro de estiagem neste ano e as principais consequências da falta de água à saúde


06 de novembro de 2015


Nova série do Saúde com Ciência discute o quadro de estiagem neste ano e as principais consequências da falta de água à saúde

marca-saude-com-ciencia1No ano passado, a questão sobre a estiagem das chuvas e a necessidade de economizar água teve grande impacto em todo o país, principalmente após os baixos níveis registrados no Sistema Cantareira, que abastece a cidade de São Paulo. Um ano depois, pouco mudou: as chuvas em 2015 não foram suficientes para repor o gasto excessivo dos últimos anos. Segundo dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), neste ano, mais de 120 municípios de Minas Gerais já decretaram situação de emergência devido à seca.

O professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina e coordenador do Projeto Manuelzão da UFMG, Marcus Vinícius Polignano, aponta que o período de estiagem em 2015 é semelhante ao do ano passado: “Tivemos, tanto no ano passado quanto neste ano, uma baixa pluviometria na região do Alto do Rio das Velhas, onde está localizado Belo Horizonte e a Região Metropolitana”. De acordo com o professor, a escassez de água é reforçada pelo El Niño – fenômeno que aquece as águas do Oceano Pacífico além do normal e altera as correntes atmosféricas no mundo todo –, que intensificou as chuvas no Sul e prolongou a seca nas regiões Central e Nordeste do país.

Além disso, as ações humanas interferem na absorção da água pelo solo, comprometendo o nível dos rios: “Se eu retiro matas ciliares ou se faço intervenções que impermeabilizam, retirando a água do solo, eu diminuo a quantidade disponível lá em baixo, e essa água fará falta depois na alimentação dos rios”, resume Polignano.

A estiagem em Minas vem acompanhada da baixa umidade. E o clima seco oferece riscos à saúde, como relata o também professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social e integrante do Projeto Manuelzão da UFMG, Antônio Radicchi: “A umidade do ar abaixo dos 30% começa a ser prejudicial à saúde humana, com ressecamento das mucosas, podendo ocasionar problemas respiratórios, como a pneumonia ou, então, desencadear processos alérgicos, como a rinite alérgica e a asma”, explica.

Outros efeitos possíveis são dores de cabeça, sangramento nasal e garganta seca. Para amenizá-los, Antônio Radicchi recomenda o consumo constante de água em detrimento de sucos e refrigerantes. Além disso, a utilização de chapéus, óculos escuros e produtos para hidratar a pele; toalhas molhadas com moderação e recipientes com água (ou vaporizadores) para umidificar o ambiente; e arejar os cômodos com ventiladores.

Principais represas do Estado continuam com níveis preocupantes. Foto: Reprodução

Principais represas do Estado continuam com níveis preocupantes. Foto: Reprodução

Ato de cidadania

Afinal, é possível reverter esse quadro? Para Marcus Vinícius Poligano, a primeira atitude que o poder público deve tomar é estabelecer uma política ambiental: “O Governo deve definir quais são as áreas fundamentais a serem protegidas no Estado e como os nossos rios serão preservados e terão suas águas melhoradas… Tudo isso está dentro de um escopo e é necessário entender que faz parte de um plano de governança”, afirma.

Mas as medidas não devem partir somente do Governo. O ambientalista Procópio de Castro, outro integrante do Manuelzão, lembra o papel do cidadão: “O primeiro responsável [pela preservação do meio ambiente] é o cidadão. E a primeira ação dele é buscar conhecer, se informar. É a partir das necessidades dos cidadãos que os serviços são implantados”.

O professor Polignano reforça que desenvolver uma consciência ambiental é realizar um ato de cidadania. “Acho que a sociedade também tem que reivindicar e cobrar dos governantes uma postura comprometida com esse processo de gestão ambiental e das águas. Isso, inevitavelmente, significa saúde para todos”, finaliza.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência apresenta a série “Terra Sem Água” entre os dias 9 e 13 de novembro. De segunda a sexta-feira às 5h, 8h e 18h, ouça na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM. O programa, produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde.

Ele também é veiculado em outras 174 emissoras de rádio, que estão inseridas nas macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.