Estudante tem projeto premiado entre melhores do mundo

Louison Mbombo recebeu mais um prêmio internacional pela iniciativa de erradicar a malária no Congo


04 de novembro de 2019 - , , ,


Foto publicada no site da Coalização DCHI. Louison Mbombo é a sexta pessoa, da direita para esquerda, ao lado dos diretores da Faculdade de Medicina da UFMG, Humberto José Alves e Alamanda Kfoury.

Neste mesmo ano de 2019, o estudante de Medicina na UFMG, Louison Mbombo, esteve no encontro da União Europeia como um dos 15 jovens líderes mais influentes do mundo e, agora, também está entre os três escolhidos para o Prêmio de Melhor Inovação Humanitária 2019 do The Dutch Coalition for Humanitarian Innovation (DCHI), em português “Coalizão Holandesa de Inovação Humanitária”. O prêmio foi entregue nessa sexta-feira, 1º de novembro, em uma cerimônia em Amsterdã, na Holanda.

A coalizão é composta por diversos atores e usa recursos, conhecimentos e capacidades presentes na Holanda para apoiar inovações humanitárias com impacto global. Para a premiação de 2019, ela buscou por inovações que usassem dados para fornecer ou gerar ações ou informações capazes de salvar ou melhorar a vida de pessoas ​​afetadas por crises humanitárias ou naturais. Foi assim que Louison chegou ao top 3. Seu projeto de erradicar a malária no Congo foi reconhecido mais uma vez, mas agora pelo uso de inteligência artificial, por meio de ferramentas do Google e Microsoft, que oferece a análise e apresentação de dados sobre a doença no Congo, permitindo prever os surtos e facilitar as intervenções.

“Não existe inovação como essa no Congo. Nós somos o encontro da pesquisa clínica com a inteligência artificial para derrotar a malária no meu país. Eu estou muito feliz, mesmo. Ser indicado por alguém que nem te conhece, mas acreditou no seu trabalho é muito bom”

“Eu recebi um email informando que meu projeto foi nomeado como um dos melhores de inovação humanitária do ano e que os jurados iriam analisar para decidir os vencedores. Agora estou entre os top 3″, conta o estudante. “Projetos do mundo inteiro concorreram. Eu fiquei surpreso e não sabia quem tinha me indicado. Esse prêmio significa muito pra mim”, acrescenta.

Big data para salvar vidas

Através da parceria com a Google e Microsoft, Louison teve acesso a uma plataforma onde pôde analisar os dados coletados em postos de saúde de seis províncias do Congo, que inclui informações como novos casos de malária, com destaque para crianças com menos e mais de 5 anos de idade e mulheres grávidas, casos de mortalidade pela doença, entre outras.

“Nas plataformas, os dados foram organizados para visualizarmos e entendermos o que eles significavam. Depois começamos o processo de desenvolver algoritmos que permitem fazer a previsão dos casos da malária”, pontua Lousion. “Por exemplo, é possível saber que daqui seis meses, se não for feita a intervenção, haverá um surto de malária em determinada região do Congo”, explica.

“O objetivo do trabalho é fornecer evidências para a luta nacional contra a malária no meu país. Saber como, onde e quando lutar contra a doença”

Até o uso dessas plataformas só foi possível porque sua iniciativa também precisou ser escolhida. Ela foi aprovada após Louison se inscrever no Data Solution for Change, programa do Google que concede créditos às organização sem fins lucrativos que desejam usar dados para soluções transformadoras terem acesso às suas plataformas relacionadas à apresentação e análise de informações. “Nós recebemos treinamento em uma empresa parceira de Belo Horizonte e fomos introduzidos ao big data. Decidimos que não queríamos os dados apenas como um relatório, mas servir como evidências para a tomada de providências contra a malária”, destaca.

“Inclusive, quando estive em Bruxelas, convidado para o encontro da União Europeia, recebi uma promessa do diretor que representa o Congo no Fundo Global da Luta contra a Malária para participar do debate e incluir esse projeto no plano nacional de combate à doença no Congo”, informa o estudante.

Vídeo, em inglês, feito por Louison para explicar seu projeto, o objetivo e as justificativas para acabar com a malária no Congo. Caso não consiga visualizar, clique aqui.

Além disso, o uso desses algoritmos também está sendo base para o desenvolvimento, por Louison e sua equipe, de um aplicativo voltado à população do Congo. Com ele, as pessoas saberão sobre a maior possibilidade de casos de malária e quando devem tomar mais cuidado para evitar o mosquito e a doença. “Vamos usar o algoritmo para conscientizar a população e saberem se estão em risco ou não, de acordo com o local onde moram, quando e como”, ressalta Mbombo.  

Para Louison, a mobilização e sensibilização da população é fundamental para erradicar a malária, doença associada diretamente ao tipo de clima da região. Por isso, está desenvolvendo esse aplicativo que também inclui informações de quais as providências as pessoas precisam tomar.

“Com os dados disponibilizados, as pessoas terão acesso à informação de quando precisa intervir e como intervir, por exemplo, fechar as janelas, ter os cuidados de saneamento básico, dormir com mosquiteiro, ou procurar imediatamente o médico ao sentir febre ou demais sintomas da doença e fazer o teste de diagnóstico rápido. Elas poderão seguir as instruções de acordo com a estação seca e chuvosa, por exemplo”, explica.

Ele comenta que os dados, que começaram a ser avaliados no início deste ano, ainda não cobre todo o Congo, devido à falta de recursos, já que a coleta das informações significa ir a todos os postos de saúde e também nas residências para saber, por exemplo, como as pessoas usam o mosquiteiro. Mas, o projeto já pode ser usado pelo seu país para estabelecer estratégias nacionais contra a malária, assim como inspiração a outros países que enfrentam a doença.

O combate à malária é uma luta pessoal

 “A população do Congo é muito pobre e o acesso à saúde é muito difícil e caro. Nossa luta é para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas e ajudar no próprio desenvolvimento econômico do país”

Louison Mbombo conta que a mortalidade e morbidade no Congo é muito grande e, uma das principais causas das pessoas faltarem ao trabalho ou à escola, é a malária. “Uma em cada 100 crianças morrem antes dos 5 anos de idade por causa dessa doença. A mortalidade infantil e, também, a de mulheres grávidas é muito grande devido à malária”, relata.

(Dados da malária na República Democrática do Congo e na África)

“Mais de 60% da população do Congo vive abaixo da linha da pobreza. Então imagine essas pessoas gastando 40% da sua renda com questões médicas. Podemos dizer que a malária é uma causa da pobreza no Congo”, reflete Louison. “Então lutar contra ela também é lutar pela qualidade da educação e pelo desenvolvimento sustentável. Se não tem como ir à escola ou ao trabalho, como se consegue desenvolver um país?”, conclui.

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