Estudo analisa úlcera de perna na doença falciforme
16 de março de 2016
Ferida de tamanho variável que pode surgir ao redor do tornozelo e na parte lateral da perna, a úlcera de perna é uma das manifestações clínicas da doença falciforme. Ela ocorre principalmente a partir da adolescência, podendo se tornar bastante dolorosa e levar meses para cicatrização, o que demanda tratamento e cuidados constantes.
O assunto foi tema de trabalho de conclusão de curso de estudantes de Enfermagem da UFMG, defendido em 2015. Intitulado “Fatores preditivos para a cura de úlceras de perna em pacientes com doença falciforme”, o estudo buscou identificar os fatores capazes de predizer a cura ou não cura dessas lesões. Os resultados foram apresentados no Cehmob-MG na sexta-feira, 11 de março, em reunião de acadêmicos dos projetos Aninha e Atenção Especializada (PAE). O convite partiu da enfermeira do Centro, Ruth Santos, que participou também da banca de defesa do estudo.
De acordo com o estudo, a úlcera de perna ocorre entre 8% e 10% dos indivíduos com anemia falciforme (forma homozigota da doença falciforme – HbSS), com relatos de incidência acima de 50% naqueles que residem em áreas tropicais. Para identificar os possíveis fatores preditivos para cura das lesões nestes indivíduos, o estudo retrospectivo analisou 27 adultos com anemia falciforme, entre homens e mulheres acima dos 18 anos, no período de 1998 a 2015. A coleta de dados se deu por um questionário semiestruturado que foi utilizado para obter informações dos prontuários dos pacientes atendidos em um serviço ambulatorial de Belo Horizonte.
Resultados
Dos indivíduos pesquisados, 14 apresentaram apenas uma lesão no período analisado, enquanto os outros 13 tiveram duas ou mais, sendo a maioria por causa espontânea. “A taxa de cura das feridas foi de 76,9%, sendo que cerca de 60% delas demandou menos de seis meses para cicatrização”, pontuou Andreia Nascente, uma das autoras do estudo. Segundo ela, a evasão dos pacientes do serviço deveu-se à transferência para Unidades Básicas de Saúde, abandono de tratamento e óbito, causas essas que impossibilitaram o acompanhamento de algumas lesões até a cura.
Em relação ao tempo de acompanhamento das úlceras, o período médio encontrado foi de 148,5 dias, sendo que 26,9% da amostra apresentou um período superior a 12 meses de tratamento. “Esses dados confirmaram que essas úlceras são de difícil cicatrização, demandando longos períodos de acompanhamento”, observou a autora.
A partir do estudo, foi possível verificar que os indivíduos que possuíam outros agravos (morbidades), além da doença falciforme, conseguiram a cura da úlcera de perna em menos tempo, assim como aqueles que não apresentaram recorrência da lesão durante o tratamento. “Evidenciou-se também que os indivíduos que apresentaram a extensão da úlcera inferior a 7,25 cm2, bem como aqueles que não apresentaram dermatite e edema ao longo do tratamento, alcançaram a cura em menor tempo”, explicou Andreia.
Papel do enfermeiro
Segundo Thaís Guimarães, também autora da pesquisa, o enfermeiro possui papel central no cuidado da úlcera de perna. “Ele é um dos responsáveis por determinar as intervenções para o tratamento das lesões, indica e realiza os curativos e fornece orientações que auxiliam na prevenção e cicatrização das úlceras”, observou.
Neste sentido, a identificação dos fatores preditivos de cura das feridas, conforme apontado pelo estudo, poderá subsidiar esses profissionais no estabelecimento de condutas na prática clínica: “A necessidade da avaliação técnica de um profissional qualificado no cuidado dos pacientes com úlceras possibilitará intervenções da Enfermagem embasadas em conhecimentos técnico-científicos”.
A orientadora do estudo, professora Eline Borges, também esteve presente ao encontro e esclareceu dúvidas dos acadêmicos do Cehmob-MG ao final da apresentação. Segundo ela, os dados obtidos nessa pesquisa estarão disponíveis em breve, na íntegra, em artigo que se encontra em processo de publicação.
Fatores preditivos para a cura de úlceras de perna em pacientes com doença falciforme
Autoras: Andréia Felipe de Oliveira Nascente e Thaís Pereira Guimarães
Orientadora: Profª. Drª. Eline Lima Borges
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais.