Estudo aponta ações para melhorar a integração da APS à Rede de Atenção à Saúde
01 de novembro de 2016
Análise das respostas do PMAQ de 2012 indica as ações que diferenciam as equipes de atenção básica quanto à sua integração à rede assistencial
Uma dissertação de mestrado, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, analisou a integração da Atenção Básica à rede assistencial do SUS, a partir do questionário de avaliação externa do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade de Atenção Básica (PMAQ-AB). A assistente social e autora da pesquisa, Lenir Aparecida Chaves, orientanda da professora Eli Iola Gurgel, utilizou os dados das 17.202 equipes de saúde da família, correspondente a 50% das equipes que responderam ao primeiro ciclo do Programa, no ano de 2012.
O questionário foi respondido por profissional de nível superior indicado previamente pela Equipe de Atenção Básica (AB). As questões estavam relacionadas ao “Apoio NASF, CAPS e Profissionais da rede”; “Apoio matricial”; “Fluxo institucional de comunicação”; “Contato entre AB e especialistas”; entre outras. Lenir conta que essa avaliação é importante para tentar identificar como a integração entre AB e atenção especializada pode ser mais efetiva e eficiente, garantindo a continuidade do cuidado ao paciente.
“A integração dos três níveis de complexidade no Sistema de Saúde é um grande desafio em um país com as dimensões que temos no Brasil, no qual cada município é um ente federativo autônomo”, pontua. Em um município do interior de Minas Gerais, por exemplo, o paciente provavelmente será encaminhado para consulta com especialista e realizará exame de alta complexidade. Sendo, assim, é imprescindível a interação entre o médico solicitante e o profissional da atenção especializada, tendo em vista que os problemas de saúde devem ser abordados de forma ampla. “Nessa perspectiva, empreender mecanismos que potencializam essa interação se impõe como decisivo componente organizativo para a gestão no SUS”, continua.
Diferença visual nos níveis de integração
Na pesquisa, foi utilizada a Teoria de Resposta ao Item (TRI), a mesma técnica usada no Enem, um método quantitativo que utiliza variáveis observáveis para avaliar uma variável que não pode ser medida diretamente, como é o caso da integração. “Foi ajustado ao modelo de resposta gradual para 19 variáveis (chamadas de itens no estudo) selecionadas no PMAQ. Cada item gerou um gráfico, traçado de acordo com os parâmetros de discriminação e localização”, explica Lenir.
Por meio da TRI, cada equipe recebeu uma nota: entre -3 e -1 era com baixa integração; de -1 a 1 com média integração; e de 1 a 3 alta integração. Mas, para entender melhor esse valor e visualizar quais as ações se destacavam em cada nível, utilizou-se a técnica de visualização “nuvens de palavras”. Então,, escolheu-se um conjunto de palavras que representasse a frequência de cada categoria de resposta da variável. Por exemplo, sobre possuir ou não central de marcação as categorias de respostas de “não” e “sim” estavam representadas na “nuvem” da seguinte forma: “Ñcentraismarç” ou “Possui1a2centraismarç” ou “Possui3centraismarç”. Assim, foi possível visualizar qual categoria de resposta (se sim ou não, por exemplo) estava mais frequente em cada nível.
“Identificamos que as ações de apoio matricial – representadas por “ApMatr”- diferenciavam as equipes que estão localizadas na baixa e na alta integração de forma muito evidente. Ou seja, o desenvolvimento dessas ações melhoram o desempenho das equipes da atenção básica”, aponta Lenir. Entre as ações de apoio matricial avaliadas no PMAQ 2012 estavam consultas médicas, discussão de caso, ação clinica compartilhada, construção conjunta de projetos terapêuticos, atividade de educação permanente, intervenções no território e visita com profissionais de AB. “Depois dessas, há destaque para as variáveis de comunicação: os canais (telefone e internet), a lista de contato e os fluxos institucionais”, continua.
Investir em ações para propiciar a alta integração entre as equipes e a rede especializada promove a eficiência do SUS
O estudo também apontou a classificação das equipes por região, de acordo com os níveis de integração. Segundo a assistente social, a classificação na média integração da maioria das esquipes era o esperado, de acordo o método da TRI. Há destaque para a região Sudeste, a qual apresentou o menor porcentual de equipes localizadas no nível de baixa integração e o maior porcentual de equipes na alta integração, seguida da região Sul. Já a região Norte apresentou o maior percentual de equipes na baixa integração e o menor na alta.
“É importante que a gestão pública, com participação social, esteja atenta ao desenvolvimento de dispositivos que apoiem o aprimoramento da Atenção Básica. É preciso refletir sobre esses dispositivos, para uma efetiva integração entre a AB e os demais níveis de complexidade no sistema de saúde brasileiro”, defende Lenir. “Mais do que isso, a pesquisa demonstrou, por meio de variáveis importantes, que ainda há muito a ser feito. Por exemplo, aproximadamente 50% das equipes analisadas tinham o pior cenário para algumas variáveis, entre elas: fluxo institucional e canal de comunicação”, completa.
Lenir também comenta que o trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de pesquisas voltadas à discussão da integralidade no SUS, em seu conceito amplo. “É possível discutir qual o formato da rede que realmente propicie a continuidade no cuidado do paciente. A pesquisa aponta ações que propiciaram o desenvolvimento das equipes no que se refere à construção da integralidade”, declara. “A Saúde é uma política pública. Então, é realmente importante identificar cada vez mais como tornar o SUS mais eficiente, universal e que atenda às necessidades de saúde da população com equidade e justiça social”, conclui.
O resumo da dissertação de mestrado de Lenir Chaves também foi aprovado no ISPOR 19th Annual European Congress.
Título: Em busca da integralidade no SUS: conhecendo a integração da atenção básica à rede assistencial por meio da teoria de resposta ao item
Nível: Mestrado
Autora: Lenir Aparecida Chaves
Orientadora: Eli Iola Gurgel
Programa: Saúde Pública
Defesa: 18 de Dezembro de 2015