Estudo aponta que conscientização sobre doação de leite ainda é incipiente
02 de janeiro de 2017
Pesquisa gerou um relatório técnico como sugestão para melhorar atendimento a nutriz e criança
Com o objetivo de identificar o estado nutricional e de saúde das gestantes candidatas à doação de leite, uma pesquisa transversal analisou, com informações de fonte secundária, 608 nutrizes – mulheres que amamentam – candidatas a doação no Posto de Coleta de Leite Humano do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG. Os resultados foram apresentados como dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG.
De acordo com a nutricionista Larissa Bueno, autora do trabalho, esse projeto protagonizou a mulher, no período gestacional e puerperal (até a lactação), contemplando as necessidades nutricionais e questões relevantes como a doação de leite. “Esse tema merece atenção, porque pode contribuir para os serviços de saúde, atendimentos mais específicos que atenda, de fato, as necessidades reais das mulheres nessa fase tão importante”, conta. “Além disso, a pesquisa oferece mais subsídios para as campanhas de amamentação e doação de leite humano por apresentar resultados compatíveis com a necessidade de melhoria da conscientização, mostrando a importância do leite humano como promotor e protetor da saúde”, completa.
Dados das nutrizes
Larissa realizou uma revisão da literatura que evidenciou, entre as lactantes avaliadas nos últimos anos, predominância de adultas jovens, em seu primeiro parto, nível de escolaridade variado (devido as diferentes regiões estudadas), de baixa renda, com maior propensão ao excesso de peso e carências nutricionais. “Tais resultados são similares aos encontrados na prática deste estudo, no qual também se evidenciou problemas com o controle do ganho de peso na gestação e prevalência considerável de morbidades, com destaque para a anemia”, comenta a nutricionista.
Com os dados sobre as candidatas à doação no Posto de Coleta de Leite Humano do HC-UFMG, referentes ao início de 2011 até o final de 2014, foram obtidas informações sociodemográficas, gestacionais, laboratoriais e registros de morbidades. Além de informações sobre o leite doado: volume, número de doações e classificação. Os resultados da análise mostraram que 85,8% das nutrizes avaliadas eram aptas para a doação de leite, sendo grande parte (76,9%) na idade adulta.
Sobre o estado nutricional constatou-se que, 27,2% das mulheres apresentaram excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) no período pré-gestacional e 37,9% ao final da gestação. A pesquisadora conta que o ganho excessivo de peso favoreceu as morbidades gestacionais, como a anemia, sendo que 77,3% mencionaram uso do sulfato ferroso.
Segundo Larissa, a presença de anemia e a adolescência associaram de modo negativo com a doação de leite humano, possivelmente, devido aos desfechos gestacionais incompatíveis com o bom estado de saúde e a imaturidade da nutriz. “Tais condições podem repercutir ou ser reflexo do contexto social, econômico e biológico no qual essa mulher se insere, interferindo no processo do aleitamento materno e na sua potencialidade de doação de leite humano”, aponta.
Por outro lado, ela informa que a menor idade gestacional, quando o bebê nasce antes das 37 semanas, tempo mínimo considerado uma gestação a termo, favoreceu a doação de leite. “No caso do meu estudo, encontrei maior número de doação entre as mulheres que tiveram bebês prematuros. Esse fato não se associa a essa questão clínica e fisiológica, mas sim ao de que a mulher com o bebê prematuro fica mais tempo internada e, por mais vezes, abordada e incentivada a retirar o leite”, esclarece Larissa.
A nutricionista afirma que seu trabalho evidencia a importância da atenção integral à saúde das mulheres em idade fértil, gestantes e lactantes como agente preponderante para a doação de leite humano. “Através do atendimento com uma equipe multiprofissional, incentiva-se o cuidado, atenção direcionada em toda a sua complexidade”, esclarece. “Ainda detecta-se a necessidade de mais estudos referentes ao aleitamento materno, sobretudo com enfoque na nutriz a fim de propiciar as devidas intervenções para este grupo e contribuir para o incremento de doações de leite humano e aprimoramento da atenção e cuidado a saúde materno infantil”, defende.
Contribuição aos serviços de saúde
A partir desse projeto de mestrado, foi desenvolvido um relatório técnico destinado ao serviço de saúde, como sugestão para as melhorias nos formulários e atendimento a nutriz e a criança. Larissa destaca que esse é um material interessante para o SUS ou qualquer serviço destinado ao apoio, promoção e proteção da amamentação. “Acredito que ele contribua para o serviço de saúde porque buscou padronizar os questionários e tornar mais prático a aplicação do mesmo pelos profissionais da área. Ele foi realizado a partir das lacunas que encontrei na coleta de dados”, argumenta.
“Acredito que, a partir dos resultados obtidos, esse trabalho venha para reforçar as campanhas de doação de leite humano e, antes de tudo, afirmar a importância do aleitamento materno para a saúde tanto da mãe, quanto do bebê, com benefícios, bastante discutidos na literatura, para a sociedade de maneira geral”, expõe
Larissa ainda lembra que a literatura aponta inúmeros trabalhos mostrando as vantagens nutricionais, afetivas, sociais e econômicas do leite materno na formação do ser humano. “Além de ser o melhor alimento para o bebê até os seis meses de vida, de maneira exclusiva, o ato de amamentar e de doar aproxima as pessoas, nutrindo o individuo em toda sua complexidade”, lembra. “É um alimento completo e acessível. Por isso a doação deve ser estimulada para aqueles bebês que não dispõem do aleitamento ao seio, seja por motivos clínicos ou não. Amamentar é um ato de amor e cidadania”, conclui.
Título: Associação do estado nutricional e da saúde da gestante com a doação de leite materno
Nível: Mestrado
Orientadora: Luana Caroline dos Santos
Coorientadora: Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana
Programa: Saúde da Criança e do Adolescente
Data da defesa: 4 de fevereiro de 2016