Estudo da Faculdade de Medicina da UFMG identifica, pela primeira vez, superidosos no Brasil

Os resultados também são inéditos ao apontarem esse idosos, com alto desempenho cognitivo, entre pessoas de baixa renda e pouca escolaridade


30 de outubro de 2019


Pessoas acima de 75 anos de idade com desempenho da memória equiparável às de 20 anos mais novas são chamadas de “superidosos”. O fenômeno já tem sido estudado em países ricos, mas agora, pela primeira vez, também é objeto de pesquisa do Brasil. A neurologista Karoline Carvalho Carmona é quem desenvolveu a pesquisa, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto, da Faculdade de Medicina da UFMG. Além de inserir o país na literatura internacional, ela apresentou resultados nunca visto antes. Karoline identificou superidosos em grupos de pessoas de baixa renda e com pouca escolaridade, além de verificar menor frequência de sintomas depressivos em comparação às pessoas da mesma faixa etária.

Karoline analisou os dados do Pietà, projeto de investigação epidemiológica realizado com população de 75 anos de idade ou mais, em Caeté (MG), conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina. Ela relata que esses idosos se destacam não apenas pela boa saúde cognitiva, mas por terem características únicas. “Eles têm desempenho melhor em testes de memória em comparação ao de pessoas da mesma faixa etária, e sua capacidade equipara-se à de indivíduos 15 a 20 anos mais jovens – em alguns casos, ainda mais novos”, enfatiza.

A pesquisadora diz que a maioria dos estudos sobre esse grupo de pessoas ocorre em países ricos, em que os participantes estudaram durante 15 a 17 anos. No seu estudo, foram identificados superidosos com menos de três anos de frequência escolar.  “A média de escolaridade das pessoas pesquisadas por nós é de 2,7 anos, e também havia analfabetos”, informa. 

“A presença de indivíduos com tão baixa escolaridade, mas com alto desempenho cognitivo, reforça a participação de determinantes biológicos e genéticos no envelhecimento cerebral bem-sucedido. Mas não se pode excluir a importância da vida escolar, porque se trata, provavelmente, de relações multifatoriais”, afirma Karoline.

De acordo com a neurologista, são necessários novos estudos que sigam essa linha de raciocínio para confirmar ou não a influência da genética. Além disso, sua pesquisa identificou que os superidosos apresentam frequência menor de sintomas depressivos, principalmente medo, sensação de inferioridade, de vida vazia e abandono de interesses. Essa também é uma novidade que deve ser considerada para estudos futuros, segundo Karoline, já que “não há muitas pesquisas mostrando associação entre a ausência dos sintomas depressivos com o envelhecimento cerebral bem-sucedido”.

Identificação dos superidosos

Os indivíduos pesquisados responderam a um questionário socioeconômico e sobre hábitos de vida e foram submetidos a avaliação clínica, neurológica e neuropsicológica. Aqueles que não apresentaram comprometimento cognitivo realizaram o Teste de Aprendizagem Auditivo-verbal de Rey para aferição da memória, a principal ferramenta para caracterizá-los como superidosos ou pessoas com envelhecimento cerebral dentro da média.

De acordo com Karoline Carmona, foram classificados como superidosos os indivíduos que se lembraram de mais de nove palavras, valor esperado para idosos na faixa etária de 60 anos e saudáveis do ponto de vista cognitivo. Aos indivíduos que lembraram número menor de palavras foi atribuído envelhecimento cerebral habitual. 

Para o professor da Faculdade, Paulo Caramelli, orientador do estudo, os resultados podem contribuir para a melhor compreensão do envelhecimento cerebral, uma vez que deixa de relacionar adoecimento ao avanço da idade

Serviço:
Dissertação: Variáveis associadas ao envelhecimento cerebral bem-sucedido em uma amostra de idosos muito idosos da comunidade
Autora: Karoline Carvalho Carmona
Orientador: Paulo Caramelli
Programa: Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da Faculdade de Medicina da UFMG