Estudo da Faculdade de Medicina da UFMG traça perfil de pacientes com dengue grave em Minas


28 de maio de 2019


Pesquisa ainda compara perfil epidemiológico e clínico da doença com a Colômbia

Em Minas Gerais, 88,6% dos casos graves de dengue ocorreram no meio urbano e o maior número de casos foi registrado entre as mulheres. É o que aponta o perfil epidemiológico traçado na tese da médica colombiana Farley Liliana Romero Veja, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde de Infectologia Tropical da Faculdade de Medicina da UFMG.

Ela usou dados colhidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), de 2010 a 2016, para comparar com a incidência na Colômbia e identificar padrões da doença nos territórios. No vizinho sul-americano, a probabilidade de morte pela doença foi 1,2 vezes maior, e os homens é que integram o grupo com maior índice de mortalidade. De acordo com a pesquisadora, a comparação possibilita desenvolver estratégias mais efetivas para controlar a dengue e a chikungunya e gerar projeções com base no comportamento das enfermidades. 

Semelhanças

Minas e Colômbia têm em comum o período da epidemia da doença, que ocorre a cada três anos, com picos nos três primeiros meses. Além disso, em ambos os locais, os casos mais graves ocorrem, sobretudo, no meio urbano. Segundo Liliana Vega, os surtos estão associados ao fato de o vírus se manter na natureza mesmo nos intervalos entre as epidemias, com possibilidade de circulação conjunta dos quatro sorotipos da doença. Outros fatores presentes nos dois territórios são a existência contínua do vetor transmissor, que se adapta rapidamente às áreas urbanas, as coinfecções de difícil diagnóstico e a baixa imunidade da população.

Diferenças

Em Minas, houve cerca de cem casos graves de dengue a mais entre as mulheres do que em homens. Na Colômbia, no entanto, os dados do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde Pública (Sivigila) mostram que os eles formam o grupo de maior mortalidade em razão de fatores como a presença de outras doenças associadas à dengue e a demora em iniciar o tratamento adequado de casos que evoluem para outras complicações. Entre os sintomas de agravamento da doença, estão queda da pressão arterial, alteração de temperatura e batimentos cardíacos, além da alteração do sistema nervoso central.

Além disso, Minas Gerais teve 801 notificações de casos que evoluíram para o óbito, enquanto nosso maior vizinho sul-americano teve 699 casos a mais. “Em Minas Gerais, houve mais casos do subtipo 1 e 4; na Colômbia, os casos mais letais foram pelos sorotipos 2 e 1, no período de estudo. Ainda nos achados da pesquisa, foi observado que essa diferença também está relacionada à resposta imunológica da população frente às novas infecções e à falta de registros da doença por não terem sido diagnosticadas corretamente”, explica a médica.

Chikungunya

Essa infecção registra picos similares aos da dengue, com mais ocorrências no primeiro trimestre do ano, em razão de o vetor ser o mesmo – o mosquito do gênero Aedes. Para analisar os casos de chikungunya no estado, a pesquisadora selecionou o município de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por ter sido o primeiro a apresentar casos autóctones notificados, ou seja, contraídos na localidade em que a pessoa vive. 

“Ao comparar Santa Luzia com países que apresentaram surtos da doença, como a Colômbia, República Dominicana e ilhas do Caribe, a expansão da chikungunya na cidade foi limitada. Isso está associado à interação com outros vírus, como os da dengue e da zika, que são transmitidos pelo mesmo vetor, num lugar que historicamente é endêmico para dengue”, afirma Liliana.