Estudo defende nova metodologia para reduzir filas de espera por ecocardiograma
22 de agosto de 2018
Pesquisa procurou avaliar a concordância de ecocardiogramas simplificados realizados por profissional não médico para triagem a distância de insuficiência cardíaca
*Carol Prado
O enfermeiro Wandeir Wagner de Oliveira, com orientação do professor Antônio Luiz Pinho Ribeiro e coorientação do professor Vinícius Tostes Carvalho, desenvolveu uma pesquisa sobre a possibilidade de não médicos coletarem imagens ecocardiográficas simplificadas, avaliadas a distância por médicos especialistas. O objetivo da proposta é potencializar as filas de espera para ecocardiogramas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em cidades do interior do estado e evitar grandes deslocamentos até as cidades centros de referência.
Os autores do estudo, que foi defendido como dissertação junto ao Programa de Pós-Graduação em Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da UFMG, são integrantes do Centro de Telessaúde e do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das Clínicas da UFMG (HC). Eles avaliaram 174 pacientes da cidade de Ouro Preto – MG, entre março de 2015 e maio de 2017, através de uma parceria entre a Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e o Centro de Telessaúde do HC.
“Nós observamos que os pacientes aguardavam cerca de um ano para realizar um ecocardiograma transtorácico, o que poderia impedir um diagnóstico precoce de doenças do coração”, explica Wandeir. Foi com essa observação que surgiu a ideia de trabalhar com uma metodologia do ecocardiograma laudado a distância. Um procedimento possível de ser realizado por um profissional não médico, sendo a análise feita por um médico especialista a distância, via telemedicina.
Segundo Wandeir, o Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG tem experiência reconhecida internacionalmente e poderia, assim, ampliar seu leque de serviços. “Já existem outras formas de telediagnósticos, teleconsultorias, tele-educação. Podemos usar essa ferramenta para evitar longas esperas e deslocamentos incômodos de pacientes ou até evitar consultas desnecessárias com especialistas”, argumenta.
Tele-ecocardiograma
No estudo, dividido em etapas, os pacientes realizaram um exame de ecocardiograma completo, executado por um médico especialista, e depois um procedimento simplificado realizado por um enfermeiro. “As imagens eram randomizadas, ou seja, selecionadas de forma aleatória, e enviadas para um médico a distância avaliar. Esse médico não sabia quem era o autor das imagens”, explica Oliveira.
O processo de fazer imagens e encaminhá-las via telessaúde foi nomeado de tele-ecocardiograma e, segundo o autor, é um processo já executado em alguns países do mundo, mas ainda pouco utilizado no Brasil. “Os avanços tecnológicos dentro da área médica favorecem muito a utilização desse sistema, porque as imagens podem ser feitas em arquivos compatíveis e serem transmitidos via web sem perder a qualidade”, afirma o enfermeiro.
Mas, para que pudesse realizar o exame, Wandeir teve um treinamento prévio. “Foi feito um estudo teórico do exame, como funciona, o que são as janelas de um ecocardiograma e quais as posições para adquirir as imagens necessárias. Depois da teoria, passei por aulas práticas de aquisição e análise de imagens ecocardiográficas”, informa.
Resultados equiparados
Wandeir conta que a concordância das imagens geradas pelo médico e pelo não médico foram satisfatórias. “É possível um profissional não médico, com treinamento básico na aquisição de um protocolo simplificado de imagens ecocardiográficas, produzir imagens comparáveis com a de um profissional médico”, declarou Wandeir.
“O ecocardiograma é um procedimento não invasivo e que não leva riscos para saúde do paciente”, acrescenta o enfermeiro. Wandeir acredita que adotar o tele-ecocardiograma como screening de cardiopatias poderia contribuir para diminuir o tempo de acesso ao exame completo em regiões onde não existem prestadores conveniados com o SUS, possibilitando diagnósticos mais precoces, além da economia de gastos.
Nome: Estudo de concordância entre médico e não médico em protocolo Ecocardiográfico Simplificado para detecção da Insuficiência Cardíaca
Autor: Wandeir Wagner de Oliveira
Nível: Mestrado
Programa: Infectologia e Medicina Tropical
Orientador: Antônio Luiz Pinho Ribeiro
Coorientador: Vinícius Tostes Carvalho
Data da defesa: 7 de fevereiro de 2018
*Redação: Carol Prado – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires