Estudo traça perfil das vítimas de armas de fogo
10 de agosto de 2015
Notícia publicada no Saúde Informa
Jovens do sexo masculino são os principais atingidos
No Brasil, as causas externas, como acidentes e violência, ocupam o terceiro lugar na mortalidade geral. Dentro das causas externas, as agressões são a primeira causa de óbito, sendo que a agressão por disparo de arma de fogo ou arma não especificada ocupa o primeiro lugar na mortalidade. Visando combater o problema, o país realizou nos últimos anos ações como o Estatuto de Desarmamento, de 2003.
Mas para a autora de um estudo desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG, é necessário ainda conhecer as vítimas de violência por armas de fogo. “Traçar um perfil é essencial para descobrir as causas e trabalhar na prevenção”, explica Bianca Santana Dutra. Ainda para Bianca, essas mortes são totalmente evitáveis, e merecem uma discussão ampla em todos os setores no âmbito da promoção e prevenção.
Realizada no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Sete Lagoas e região, a pesquisa analisou 288 atendimentos a ferimentos por armas de fogo entre janeiro de 2010 e dezembro de 2013. Entre as vítimas, 87,8% eram homens com faixa etária de até 27 anos. “As lesões predominantes foram na cabeça, pescoço e tronco, e tem grande potencial de levar ao óbito, já que podem envolver órgãos vitais”, destaca a pesquisadora.
Baseada nos dados colhidos em campo, foram traçados quatro grupos de vítimas de violência por armas de fogo. Para Bianca, o que mais chamou a atenção foi o das mulheres que sofreram violência nos finais de semana durante a madrugada. “Por que essas mulheres estão sofrendo lesões nos finais de semana e na madrugada: será que é porque ela tem mais contato com o agressor?”, questiona.
Dois grupos demonstraram que a triagem do atendimento móvel às vítimas é feita adequadamente: vítimas que sofreram escoriações e ferimentos nos membros inferiores foram acolhidas por Unidades de Suporte Básico (USB), responsáveis em atender as pequenas lesões; e vítimas que foram a óbito com lesões de cabeça e pescoço tiveram o socorro de Unidades de Suporte Avançado (USA), específicas a casos mais graves.
A autora explica que esse atendimento pré-hospitalar começa num chamado, por telefone, e a partir da descrição da situação um médico regulador envia uma ambulância, conforme a gravidade. “Mas pode haver ainda uma interceptação, quando uma USB, que é tripulada por técnicos de enfermagem e socorristas, percebe a necessidade de um enfermeiro e médico, que atuam na USA”, acrescenta.
O último grupo de perfil apresentou o maior número de variáveis e inclui homens de todas as faixas etárias, que sofreram ferimentos perfurantes no tronco em dias úteis à tarde e à noite.
Políticas de prevenção
“Infelizmente as políticas de desarmamento, ações de vigilância e de prevenção da criminalidade têm se mostrado insuficientes para diminuir esse tipo de violência”, opina Bianca Dutra. Para ela, é necessário buscar estratégias que diminuam a força dos determinantes sociais ligados a esse fenômeno, como o uso de drogas. “Temos também que incentivar o protagonismo juvenil e desenvolver ações de promoção da saúde”, diz.
A autora destaca que as redes de proteção das vítimas pós-violência podem ser trabalhadas a partir dos resultados do estudo, além de elaborar estratégias educativas e de controle, tanto do setor de saúde quanto da segurança pública. “Precisamos, então, de políticas voltadas à mulher, ao homem e, principalmente, voltada à prevenção”, conclui.
Título: “Vítimas de agressões por arma de fogo atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de um município mineiro”
Nível: Mestrado
Autora: Bianca Santana Dutra
Orientadora: Marta Maria Alves da Silva
Programa: Promoção da Saúde e Prevenção da Violência
Defesa: 16 de dezembro de 2014