Ética médica hoje e na ditadura militar é tema de seminário

Evento será dia 26 de novembro, a partir das 18h30, no Salão Nobre da Faculdade e aberto ao público.


23 de novembro de 2015


Evento discute participação de médicos e estudantes de Medicina durante o regime militar e a ética dos profissionais hoje

Qual foi a participação da comunidade médica na ditadura militar brasileira? E como a preservação dos direitos humanos está presente hoje no atendimento à população? Estas questões serão discutidas no seminário “Médicos e estudantes de Medicina durante a ditadura militar: questões éticas à época e na atualidade”, marcado para o dia 26 de novembro, a partir das 18h30, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG. O evento é aberto ao público.

Dora

Maria Auxiliadora Lara Barcellos foi estudante da Medicina da UFMG e lutou contra a ditadura.

Iniciativa da disciplina “Seminários em Bioética: ensino, pesquisa e assistência”, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical, a atividade vai contar com a exibição do documentário “Retratos de Identificação”. Esta produção revela a história da prisão de quatro ex-guerrilheiros que lutaram contra a ditadura militar e descreve as torturas a que foram submetidos. Entre estes, estava a ex-aluna da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Auxiliadora Lara Barcellos, a Dôra.

No período da ditadura militar, ao mesmo tempo em que parte dos médicos e estudantes de medicina resistia à ditadura militar, outros apoiavam o regime, segundo o coordenador do evento, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade, Dirceu Greco. “Muitos médicos e estudantes de medicina lutaram contra a ditadura militar, mas, infelizmente, alguns médicos foram além do seu papel de salvar vidas. Alguns deles participaram do regime da pior forma, facilitando e acobertando torturas com falsos atestados de óbito e exames de corpo de delito”, explica Greco.

Havia ainda aqueles que usavam os conhecimentos e habilidades profissionais da Medicina para o apoio técnico ao processo de tortura. Porém, segundo o professor, situações assim não ficaram no passado. “Temos, por exemplo, o caso da prisão de Guantanamo, em Cuba”, comenta. Nesta prisão, médicos americanos participaram e facilitaram sessões de tortura contra suspeitos de terrorismo presos.

“Se situações como essa ainda acontecem, é preciso urgentemente discutir as questões éticas da medicina”, acentua. Para Greco, na faculdade os alunos aprendem a parte técnica da medicina, mas o papel do médico na sociedade precisa estar sempre em foco.

DAAB

Debatendo vivências

O documentário “Retratos de Identificação” traz um conjunto de fotografias de presos políticos produzidas pela polícia durante a Ditadura (1964-1985). As histórias retratadas são de Antônio Roberto Espinosa, ex-comandante da organização VAR-Palmares; Reinaldo Guarany, do grupo tático armado ALN; e dois ex-estudantes de medicina, Chael Schraier, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, e Maria Auxiliadora Lara Barcellos, aluna do curso da UFMG.

Para Helvécio Ratton, um dos debatedores do encontro, conhecer o passado é fundamental para se pensar o futuro, “especialmente em momentos como os de hoje, quando grupos pedem o retorno dos militares ao poder, sem saber de fato o que se passou durante aqueles anos”, explica o cineasta.

Ratton conta que Dôra, como era chamada Maria Auxiliadora, era sua parente e companheira de militância, e que histórias como a dela precisam ser conhecidas. “Ela, assim como muitos outros que enfrentaram a ditadura, é parte importante na construção da democracia brasileira”, diz.

Participação no evento

Marta Leandro, editora do filme, também participa do debate, discorrendo sobre a abordagem ética no processo de produção do documentário. Outra participante é a aluna da UFMG e bolsista do projeto de extensão MedCine, Jéssica Arantes. “O meu recorte será discutir sobre a importância de nós, enquanto estudantes de medicina, participarmos também do processo de construção da memória social do nosso país, do nosso povo e da nossa faculdade”, diz a estudante.

Como apoio ao debate, uma recente reportagem da revista “Ser Médico” do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) será abordada. Intitulada “Os médicos e a ditadura militar”, a matéria aborda com profundidade as situações de envolvimento de médicos com o regime militar. O professor Greco lembra que o CREMESP foi o primeiro conselho de medicina do país a reconhecer a imprescritibilidade da prática ou acobertamento dos crimes de tortura.

O encontro também terá a presença do professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Centro de Bioética do CREMESP, Reinaldo Ayer.

A participação de estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG será reconhecida pelo Centro de Graduação (Cegrad) no sistema de equivalência às disciplinas de Ética Médica e/ou Conferências e Videoconferências de Ética e Bioética.