Programação marca mês de conscientização sobre afasia

Saguão da Faculdade recebe eventos temáticos nos dias 25 e 27 de junho


17 de junho de 2019 - , , ,


Junho é considerado o mês da afasia, um distúrbio adquirido da linguagem. Para comemorar a data, o Centro de Convivência de Indivíduos Afásicos – projeto de extensão do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG – preparou uma programação especial para a última semana do mês, com ações no saguão de entrada da Faculdade. No dia 25, acontece o “Vamos Conversar Sobre Afasia?”, em que serão divulgados trabalhos e distribuídas cartilhas informativas. Já no dia 27, a Instituição receberá o “Arraiá da Afasia”, às 12h, com apresentação do coral dos afásicos, acompanhado da venda de comidas típicas de festas juninas.

A iniciativa reforça a Campanha Internacional de Conscientização da Afasia, que começou em 2018 com a American Speech-Language-Hearing Association (Asha) e foi abraçada pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Por isso, durante toda a semana, serão divulgadas informações sobre a Campanha. “O objetivo é divulgar esse distúrbio importante e impactante na qualidade de vida das pessoas e dizer que existe uma forma de intervenção, de tratamento”, comenta Érica de Araújo Brandão Couto, professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade e coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da UFMG.

O que é?

A disfunção consiste na perda total ou parcial da capacidade de expressão ou compreensão da linguagem falada ou escrita, causada por danos nas áreas cerebrais responsáveis pelo controle da linguagem. Clinicamente, existem dois tipos dessa disfunção: motora e sensorial. Porém, de acordo com a professora, a afasia ainda é desconhecida pela população. “As pessoas não conhecem a afasia. Muitas vezes, nem mesmo os próprios familiares sabem que o afásico pode se comunicar, não da mesma forma que antes, mas pode se comunicar”, diz.

Problemas sem danos progressivos, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), lesões cranianas e infecções cerebrais (encefalites), podem causar a afasia. No entanto, há casos em que ela se manifesta a partir de uma doença progressiva, como a demência ou um tumor em expansão, e pode apresentar agravamento. Segundo Érica, o AVC é a causa mais comum da disfunção. “Uma das melhores formas de prevenirmos a afasia seria através das campanhas de prevenção do Acidente Vascular Cerebral”, avalia.

A professora explica que não existem hoje, no Brasil, estudos relacionados à frequência dessa condição na população brasileira. “Temos alguns estudos norte-americanos, realizados a níveis estaduais. Sabemos que a população mais pobre apresenta uma maior predisposição, devido aos altos índices de tabagismo, alcoolismo, alimentação inadequada, estresse, isso tudo propicia o AVC e, consequentemente, a afasia”, alerta.

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Tipos e tratamentos

De acordo com a especialista, nas afasias motoras, o paciente apresenta uma compreensão oral mais preservada. Por outro lado, a expressão oral se encontra mais prejudicada. Com isso, ele fala pouco ou nada. Já nas afasias sensoriais, o paciente fala muito, mas o discurso é vazio e confuso. A compreensão oral também é comprometida. A professora Érica de Araújo explica que apesar de não haver estudos, a percepção dos profissionais nas clínicas é de maior frequência da afasia motora.

Para o tratamento, primeiramente é feita uma abordagem no nível de compreensão, em que são trabalhadas habilidades linguísticas como nomeação, repetição, conversa espontânea e produção fono-respiratória. “Quando começamos nossas atividades comunicacionais, na infância, começamos ouvindo muito. Ouvimos o ambiente para compreendê-lo. Por isso, para o estímulo sair bem, ele primeiro precisa entrar bem e ser processado de uma forma adequada”, completa.

Não há cura para a disfunção. Apesar disso, a professora ressalta que o tratamento com um fonoaudiólogo pode trazer melhorias e possibilitar a recuperação da capacidade comunicacional e reinserção do paciente na sociedade e no mercado de trabalho.

Centro de Convivência

“A identificação com o outro ajuda na aceitação. Pois mesmo que se apresente uma evolução na comunicação, ficam sequelas”, diz a professora, se referindo ao Centro de Convivência de Indivíduos Afásicos. O Centro é coordenado por ela desde 2010, no ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital São Geraldo. “No grupo, eles encontraram uma identidade, um lugar onde se sentem bem, onde conseguem se comunicar sem julgamentos”, observa.

Através do Centro de Convivência, os afásicos realizam imersões culturais como parte do tratamento. “A cada semestre eles elegem um projeto. Um teatro, um programa em parceria com a Rádio UFMG Educativa, um projeto de filmagem”, relata a professora. Ela conta que o trabalho tem trazido resultados positivos para os afásicos e seus familiares. “Eles são muito receosos de sair e explicarem à sociedade o que é a afasia. Isso lhes gera uma angústia, uma ansiedade, e medo das reações. Não só eles, mas os familiares também. Observamos nas atividades do ambulatório que eles estão tão desamparados quanto os afásicos”, avalia a coordenadora.