Exames complementam cuidados médicos ao longo da vida

Especialistas afirmam que a indicação de idade para realização de testes laboratoriais funciona como um guia e deve ser aliada à recomendação médica


12 de junho de 2019 - , , , , , ,


Foto: Carol Morena

Em diferente faixas etárias, os exames podem trazer informações pertinentes sobre diversos problemas e permitir a intervenção precoce, o que pode significar melhores chances de um tratamento bem sucedido. No entanto, a indicação dos especialistas é para seja um método de avaliação complementar. Isso porque a realização indiscriminada desses procedimentos pode onerar os sistemas de saúde e oferecer risco aos pacientes. Confira, a seguir, alguns desses exames e quando devem ser realizados:

Neonatal

No período neonatal, o professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Marcos Vasconcellos, ressalta a importância dos exames de triagem. “O ‘teste do pezinho’ é um exame de sangue colhido no calcanhar do bebê entre o quarto e sétimo dia de vida. Ele é capaz de detectar doenças metabólicas, genéticas e infecciosas que podem causar graves alterações no desenvolvimento neuropsicomotor da criança e, se detectadas precocemente, poderão ser tratadas mesmo antes do aparecimento dos sintomas, com melhora do prognóstico”, afirma.

Exame de ouvido. Foto: Bruna Carvalho

O ‘teste do coraçãozinho’, por sua vez, auxilia no rastreamento de cardiopatias congênitas críticas e deve ser realizado após as primeiras 24 horas de vida, antes da alta hospitalar. “É um exame de fácil realização, indolor, não invasivo, com custo muito baixo, utilizando-se um oxímetro de pulso”, conta Marcos Vasconcellos. Além disso, os testes da ‘orelhinha’, do ‘olhinho’ e da ‘linguinha’ devem ser feitos neste período para a identificação de alterações na visão, audição, deglutição e fala de recém-nascidos.

Lactentes e pré-escolares

O professor esclarece que podem ser solicitados hemogramas nos casos de crianças que se encontram nos grupos de risco para anemia. “Recomenda-se o rastreamento sistemático para a anemia apenas para as crianças de risco. São elas lactentes, sem suplementação de ferro adequada, ou que tem uma dieta pobre em ferro; crianças com infecções frequentes; hemorragias frequentes; cardiopatias congênitas cianóticas; ou que fazem uso prolongado de alguns medicamentos como corticóides e antiinflamatórios não hormonais”, explica Marcos.

Os fatores sócio-ambientais também podem ser indicadores de situação de risco. Durante a adolescência, Vasconcellos recomenda a realização de um perfil lipídico e glicêmico a partir dos 12 anos.

Acompanhamento ginecológico

Papanicolau. Foto: Freepick

Para as mulheres adultas, é recomendada uma rotina de exames que deve ser mantida mesmo na ausência de sintomas. A professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Soraya Zhouri, orienta que a mulher deve consultar um ginecologista uma vez ao ano para a prevenção de doenças e manutenção da saúde feminina.

Soraya explica que no caso de mulheres que ainda não tenham iniciado a vida sexual, o exame clínico de rotina normalmente é suficiente. “Caso não haja nenhuma queixa por parte da paciente, é feito somente uma observação da vulva e da mama para conferir se está tudo em ordem”, afirma.

Já as mulheres sexualmente ativas devem realizar um exame ginecológico mais abrangente. “Para mulheres com vida sexual ativa, de todas as idades, primeiro deve se verificar se já foi tomada a vacina contra o HPV, aí é pedido o Papanicolau, em conjunto com o exame clínico e deve ser feita também uma orientação de cuidados com doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)”, explica. O Papanicolau, também chamado de preventivo ginecológico, verifica a presença de alterações no colo útero e deve ser feito anualmente. O exame ajuda a prevenir e a identificar infecções e aparecimento do câncer na região.

A ginecologista destaca, ainda, que o acompanhamento ginecológico também é importante para a identificação de outros problemas. “A partir dos 50 anos, por exemplo, é indicada a Colonoscopia, para prevenção do câncer de intestino, o scan para prevenir o entupimento das carótidas, o exame para tireoide que também é solicitado pelo ginecologista a partir dos 50 anos de idade”, conclui Soraya.

Homens a partir dos 40 anos

De acordo com o professor do Departamento de Cirurgia, Daniel Xavier, para os homens entre 20 e 40 anos os exames devem ser vistos como coadjuvantes da avaliação médica. Segundo ele, o exame de Antígeno Específico da Próstata (PSA) é recomendado após os 40 anos. Mas na população geral, esse rastreamento é indicado a partir dos 50 anos. Nesse exame, o que se busca é a detecção precoce do câncer de próstata, que não causa sintomas nas fases em que ainda é curável.

“Desde o início do rastreamento do câncer de próstata, na década de 1990, a mortalidade pela doença reduziu cerca de 40%, graças à possibilidade de se diagnosticá-lo em fases precoces”, comenta.

Idosos devem se atentar aos exames de rastreamento

A professora do Departamento de Clínica Médica, Maria Aparecida Camargos, alerta que além dos exames de próstata e mama, pacientes idosos devem ficar atentos aos exames de rastreamento. “O ideal é que a pessoa vá ao médico uma vez ao ano para fazer uma avaliação e ver o que precisa ser feito com relação aos exames complementares, pois existem doenças que são assintomáticas. A frequência com que os exames são requisitados também vai variar de acordo com a história clínica do paciente”, afirma.

Mamografia. Foto: Ministério da Saúde

Segundo a geriatra, depois do câncer de mama, o câncer de intestino é o que mais tem incidência na mulher idosa. Por isso, o rastreamento deve ser feito em pacientes sem sintomas a partir dos 50 anos. Já em pacientes com histórico familiar, o acompanhamento deve começar antes.“No SUS em geral é feito a pesquisa de sangue oculto nas fezes, mas em pacientes que tem uma história familiar positiva optamos pela colonoscopia”, completa.

Outro câncer que pode ser rastreado é o de pulmão, mas a professora conta que não é uma prática muito comum no Brasil. Porém, em países como os Estados Unidos esse rastreamento é feito anualmente, através de tomografia em pacientes fumantes.

Glicemia

De acordo com a professora Maria Aparecida Camargos, o exame de glicemia é solicitado para pacientes acima 40 anos. A dosagem do colesterol e do triglicérides é feita após os 40 e 45 anos, dependendo do sexo. Já quando o paciente apresenta fatores de risco, esses exames são requisitados a partir dos 20 anos.

Eletrocardiograma

Eletrocardiograma. Foto: Bruna Carvalho

Não tem uma faixa etária certa para a indicação do exame. Ele é um exame requisitado de acordo com o histórico do paciente. Outros exames importantes, principalmente para pacientes que têm declínio cognitivo ou alteração na memória, é avaliação da dosagem da vitamina B12, ácido fólico, sorologia para sífilis, que pode ser a causa de lesão neurológica, e avaliação da tireoide.

Osteoporose

A densitometria óssea, exame que detecta a osteoporose, é importante para mulheres acima de 65 anos. Para os homens, é recomendado a partir dos 70 anos. “A mulher tem um risco maior de ter osteoporose, que é uma doença silenciosa. Quando ela se manifesta é através de fraturas em que o paciente vai sentir muita dor. Muitas pessoas acreditam que osteoporose causa dor, mas a dor vai estar relacionada à deformidade ou as fraturas”, afirma a Maria Aparecida.

O limite de faixas etárias dos exames serve como um guia, porém os especialistas destacam que a avaliação deve sempre ser individualizada. Caso o paciente sinta a necessidade de realizar algum desses exames, mas não esteja na faixa indicada, é orientado que durante a consulta, ele exponha ao médico suas preocupações e sua história pessoal e familiar para que a solicitação seja feita de forma adequada.